Redução nas medidas contra covid indica fim da pandemia?
Uma lista de países que teriam relaxado suas políticas de combate à Covid-19 está em mensagem viral, que afirma "quem quiser entender, entenda"
MonitoR7|Do R7
Mensagem que circula em grupos e recebe a marca de “reenviada muitas vezes” em um dos aplicativos mostra uma série de nomes e bandeiras de países, associadas ao que seriam informações sobre a pandemia de Covid-19, as medidas de restrição para conter a doença ou a vacinação.
Áustria, Alemanha, Espanha, Reino Unido, Irlanda, República Tcheca, Israel, Canadá, Suíça, Bósnia e Herzegóvina, Estados Unidos, Índia e Dinamarca são citados na mensagem viral. Um leitor nos encaminhou a mensagem para checagem. Fizemos a verificação caso a caso.
Confira abaixo o boato e a real situação dos países citados na mensagem:
Áustria: "Adiar a obrigatoriedade da vacinação"
FALSO
Desde o dia 20 de janeiro, todos os cidadãos do país acima de 18 anos devem estar completamente vacinados contra a Covid-19 ou poderão ter que pagar uma multa "salgada", que pode chegar ao equivalente a R$ 20 mil. A medida recebeu críticas, mas o governo avançou com o projeto.
Alemanha: "Abandona a ideia de obrigação" (de vacinação)
FALSO
O novo chanceler do país, Olaf Scholz, e o ministro da saúde, Karl Lauterbach, já declararam publicamente que pretendem instaurar a obrigatoriedade da vacinação a partir dos meses de abril e maio. Desde o início de 2022, a vacinação é obrigatória para todos os profissionais da área da saúde e de lares de idosos.
Espanha: "Quer confiar na imunidade natural e classifica Covid como gripe. Remove o Passe Verde."
ENGANOSO
O governo, de fato, reduziu as exigências do chamado "Passe Verde". Mas a medida veio depois de mais de 90% da população acima de 12 anos estar imunizada. O comprovante de vacinação ainda é exigido de viajantes de fora da zona do Euro.
Em janeiro deste ano, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, declarou que o país trabalha para passar a tratar a Covid-19 como uma doença endêmica, como se fosse uma gripe sazonal.
Reino Unido: "Remove todas as restrições"
VERDADEIRO
Com mais da metade da população (56%) já tendo recebido a dose de reforço contra a Covid-19, as restrições poderão ser totalmente abandonadas a partir deste mês, segundo o primeiro-ministro Boris Johnson.
Irlanda: "segue o mesmo do Reino Unido"
VERDADEIRO
No final de janeiro, a maior parte das restrições foram deixadas de lado graças à alta taxa de vacinação no país e na melhora do quadro epidemiológico. Mas ainda há uma única restrição em vigor no país, que é a obrigatoriedade da máscara nos transportes públicos, aeroportos e em hospitais. A medida vale até o final deste mês de fevereiro.
República Tcheca: "A ideia de vacinação obrigatória é abandonada"
VERDADEIRO
O novo governo, que assumiu o comando do país no início deste ano, cancelou a obrigatoriedade de vacinação no país. Segundo as autoridades, mais de 90% do público-alvo do mandato já está completamente vacinado. No geral, 63% da população tcheca recebeu as duas doses da vacina.
Israel: "Não precisa mais de uma quarta dose, pois não tem efeito e retira o Green Pass"
FALSO
O Ministério da Saúde israelense recomendou a aplicação da quarta dose da vacina contra a Covid-19 para todos os adultos, cinco meses após a aplicação da dose de reforço, mas ainda sem oficialização. Até o momento, essa dose adicional é oferecida apenas para idosos acima de 60 anos e outros grupos de alto risco da doença.
Estudo feito no Sheba Medical Center, o maior hospital de Israel, indicou que a quarta dose da vacina era apenas “parcialmente eficaz” contra a variante Ômicron. Apesar disso, a professora Gili Regev-Yochai, que liderou o estudo, declarou que segue sendo uma boa ideia oferecer essa dose adicional para as pessoas que pertencem aos grupos de risco.
Canadá (Quebec): "A terceira dose não é mais recomendada para pessoas com mais de 70 anos, os efeitos colaterais são muitos".
FALSO
O ministério de saúde da província de Quebec informou, no mais recente boletim epidemiológico, que é recomendado para “todas as pessoas” que tomem a dose de reforço contra a Covid-19 ‘o mais cedo possível’.
Suíça: "Retira o Green Pass e algumas restrições".
VERDADEIRO
É esperado que o país relaxe as medidas de restrição graças a estabilidade nas hospitalizações e mortes de Covid-19 no país. Atualmente, é necessária a apresentação de comprovante de vacinação ou de infecção contra a Covid-19 para se frequentar bares, restaurantes e baladas no país. As medidas na Suíça valerão, pelo menos, até 17 de fevereiro.
Bosnia e Herzegovina: "Torna-se o primeiro país europeu a recusar o passaporte Covid".
FALSO
É obrigatória a apresentação do comprovante de vacinação para entrar no país. Segundo informações da embaixada dos Estados Unidos no país, estão também em vigor medidas restritivas que envolvem obrigatoriedade do uso de máscaras, distanciamento social e limite de pessoas em reuniões.
Estados Unidos: "A Suprema Corte dos EUA bloqueou a vacinação obrigatória dos trabalhadores"
ENGANOSO
O “bloqueio” da vacinação obrigatória imposto pela Suprema Corte vale apenas para servidores do governo federal. Os Estados tem autonomia para decidir as regras referentes à obrigatoriedade para trabalhadores.
Flórida (EUA): "Proibiram por lei a introdução de obrigações ou restrições de vacinação, máscaras externas e internas mesmo nas escolas. Quem tentar impor o uso da máscara dentro de casa corre o risco de sofrer sanções administrativas (multas)".
VERDADEIRO
O governador do estado, Ron DeSantis, assinou em novembro do ano passado uma lei que proíbe empregadores de obrigarem de funcionários a obrigatoriedade de vacinação. O mesmo vale para estudantes em escolas. “Ninguém deveria perder o emprego por conta de mandatos pesados de Covid”, disse na época o político republicano.
Índia: "Parou o Covid-19 interrompendo as vacinações e distribuindo um kit de medicamentos gratuito - Ivermectina".
FALSO
Segundo dados do Ministério de Saúde e do Bem-estar da Família da Índia, na última quarta-feira (9), mais de 46 milhões de doses de vacinas foram aplicadas no país. E desde o início da campanha, mais de 1,7 bilhão de doses foram administradas.
A recomendação do uso de Ivermectina no tratamento contra a Covid-19 foi feita por um órgão do governo indiano em maio de 2021. No entanto, essa questão foi revista, e cancelada em setembro, devido à falta de evidências que comprovassem a efetividade deste remédio. Diversos estudos já comprovaram que a Ivermectina é ineficaz no combate contra a Covid-19.
Dinamarca: "Decidiu que a partir de 1º de fevereiro removerá todas as restrições anti-Covid"
VERDADEIRO
País aboliu praticamente todas as restrições da pandemia no início de fevereiro, apesar do registro de novos casos da doença continuarem altos. Governo do país escandinavo cita que “exaustão pandêmica” motivou essa decisão, somado que o número de pacientes internados é menor que observado em ondas anteriores. Uso de máscara em hospitais e lares de idosos continua obrigatório.
OMS
Ao final da mensagem, também foram colocadas decisões referentes às vacinas, que teriam sido tomadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o autor, o órgão teria se oposto as "doses repetidas de reforço" da vacina.
O Monitor7 já fez uma checagem similar, que responde a essa questão.
Especialistas pedem cautela
O teor das mensagens parece indicar um esforço para relacionar mudanças no enfrentamento da doença, indicado que o mesmo deve ser feito no Brasil. Mas, apesar das notícias vindas do Velho Continente serem animadoras e mostrarem certo "controle" da situação da pandemia, especialistas ouvidos pelo Monitor7 pedem cautela em relação aos próximos passos. Eles não acreditam em retorno da vida pré-Covid tão rapidamente.
Marcelo Daher, infectologista da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), acredita que decretar o fim da pandemia significa “nos rendermos e perder um jogo que não terminou”. Por isso, é preciso ligar o sinal vermelho:
“Achar que a doença já está sob controle é menosprezar um vírus que já matou milhões, mundo afora. Talvez, até, cometermos erros para um futuro próximo. Precisa ter muita atenção. As coisas vão voltando ao normal. No Brasil, a gente não teve restrições tão rígidas como em alguns outros países”, afirma Marcelo Daher, infectologista da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
A médica Sylvia Lemos Hinrichsen, consultora de biossegurança da SBI, relembrou que após a ômicron se estabelecer no Brasil, o país teve um aumento estrondoso de casos da Covid-19, corroborados pelas aglomerações nas festas de fim de ano:
“Tivemos uma explosão de casos no fim do ano graças a flexibilização das medidas restritivas, não só do ponto de vista institucional, mas também pelas próprias pessoas que estavam cansadas e gostariam de passar seu fim de anos com seus familiares e viajar”, declara a médica.
“E veio a consequência. Um número muito grande de pessoas que têm a doença, simultaneamente, que observamos nas primeiras três semanas de janeiro”, finaliza.
Nós classificamos a mensagem como "Fake" porque ela tem informações falsas, outras enganosas e mesmo as afirmações verdadeiras são usadas fora de contexto, para dar a impressão de uma mudança mundial na situação da pandemia. Na verdade, o quadro varia muito de país para país, como explicam os especialistas.
Há notícias boas e todos, com certeza, torcem para que o fim da pandemia de Covid-19 chegue o mais rápido possível. A ansiedade para a volta ao "normal", no entando, não pode ser motivo para se descuidar do controle da doença, colocando em risco todo o esforço que já foi feito pelos governos, empresas e, principalmente, populações.
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