Teste de Covid-19 foi patenteado em 2015 por família bilionária?

A imagem é engraçada, e o tuíte já alcançou mais de 2.800 curtidas e mais de 1.200 compartilhamentos. Na foto, uma pessoa que usa capuz e uma máscara igual à do filme V de Vingança parece correr, dizendo: "O teste do CV-19 foi patenteado por Richard A. Rothschild em 2015. Digite no Google US20200279585A1". Atrás dela vem alguém em uniforme policial, com o rosto de Mark Zuckerberg, criador do Facebook e o principal acionista da empresa Meta.

A mensagem é clara: o personagem que corre seria o "revolucionário", que tenta divulgar uma mensagem secreta e é perseguido pelos poderosos, representados pelo dono de algumas das maiores redes sociais do planeta. A máscara usada no filme V de Vingança remete ao rosto de Guy Fawkes, conspirador que tentou, sem sucesso, explodir o prédio do Parlamento britânico em 1605, na chamada Revolta da Pólvora.

O curioso é que a ferramenta usada pelo revolucionário do tuíte para fazer sua divulgação é outro gigante da internet, o Google. Mas, desconsiderando isso e seguindo as instruções do personagem, tem-se acesso efetivamente a um registro da patente em nome de Richard Rothschild com data de 13 de outubro de 2015.

Essa mesma informação e imagens desse registro já foram usadas em várias outras publicações e mensagens, que levantam teorias sobre esse pedido de patente. Algumas afirmam que o dono da patente é da família Rothschild, uma das mais ricas do mundo e objeto constante de teorias da conspiração. Algumas citam o poder que a riqueza daria à família. Outras, antissemitas, mencionam a origem judaica dos Rothschild.

Mas as questões principais são: se o pedido de patente é real, então em 2015 alguém já tinha a informação sobre a Covid-19? Essa patente seria a prova de que o vírus, na verdade, não foi descoberto em 2019, mas foi resultado de uma criação em laboratório, que já era prevista anteriormente? A resposta para as duas perguntas é a mesma: não.

Essa patente foi registrada nos Estados Unidos (por isso o código se inicia com US, de United States), e lá é permitido o registro com "pedido de continuação" (CIP, na sigla em inglês). O pedido de 2015 foi de uma técnica de análise biométrica para verificação de uma contaminação. Como a patente tem o registro CIP, isso autoriza que no futuro, ao ser descoberto algo que permita o uso dessa técnica, a patente tenha o uso adicionado ao seu registro.

Foi o que aconteceu. Ao perceber que o método que tinha patenteado poderia ser usado para constatar a contaminação por Covid-19, Richard Rothschild pediu o acréscimo desse registro à sua patente em 17 de maio de 2020 e seu pedido foi atendido em 3 de setembro do mesmo ano.

Assim como a postagem indica uma pesquisa no Google para chegar à patente de 2015, o interessado em constatar esse histórico que citamos acima pode recorrer a uma pesquisa no Espacenet, plataforma de pesquisa de patentes e pedidos desenvolvida pelo Escritório Europeu de Patentes.

Lá é possível verificar que o pedido de um “Sistema e Método de Teste para Covid-19” na patente de 2015 foi listado apenas em 2020. Rainer Osterwalder, porta-voz do Escritório Europeu de Patentes, também disse que “o pedido de patente não tinha referência à Covid-19 antes de 2020”.

As etapas exatas do pedido de patente de Rothschild podem ser vistas no Espacenet ou via Google Patents. Em junho de 2021 a patente se tornou ativa, com expiração prevista para 2036.

Como a informação falsa já circulou outras vezes nos últimos meses, a família Rothschild já se pronunciou sobre o seu suposto integrante, dono da patente. A família é proprietária do grupo Edmond de Rothschild Holding S.A., que administra mais de US$ 190 bilhões em recursos e emprega 2.600 pessoas em 32 localidades globais.

Um porta-voz do grupo informou a diversas agências de notícias e de checagem de informações que “não há vínculo entre a Rothschild & Co. e a pessoa nomeada na patente”.

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