Piloto e copiloto do avião que caiu com Eduardo Campos não tinham treinamento exigido
Descida e arremetida realizada antes do acidente também estavam fora da rota prevista
A investigação realizada pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) aponta que nem o piloto nem o copiloto da aeronave que caiu matando o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), tinham a habilitação exigida para pilotar o avião. De acordo com a apuração da Aeronáutica, divulgada nesta segunda-feira (26), a permissão do piloto o credenciava a comandar uma aeronave de modelo diferente e por isso seria necessário que ele fizesse um treinamento. Já o copiloto precisaria de um curso completo.
Aeronáutica descarta colisão ou fogo durante voo no acidente que matou Eduardo Campos
De acordo com a investigação, os aviônicos, que são as telas no painel de controle das aeronaves, mudam de um modelo para outro. A aeronave que os pilotos tinham permissão para pilotar e o avião que caiu tinham configurações diferentes, os aviônicos emitiam sinais diferentes. No entanto, o investigador do Fator Operacional, major Carlos Henrique Baldin, afirma que ainda não é possível afirmar que o problema na habilitação dos pilotos seja a causa do acidente.
— Isso tudo nós vamos analisar, estamos entrando nessa fase. Pode ser que sim, isso tenha sido um fator contribuinte, pode ser que não. Nós estamos apresentando a coleta de dados, agora nos precisamos interpretá-los. Agora não temos condições de dizer se [a falta de habilitação específica] contribuiu ou não. Mas, pode ser uma condição de risco para acidentes.
O Cenipa entende que a falha na habilitação não seja, necessariamente, responsabilidade dos pilotos. De acordo com os investigadores da Aeronáutica, é possível que no momento em que piloto e copiloto realizaram a renovação de suas permissões de voo, os treinamentos exigidos fossem outros, uma vez que as regras mudam e há um período de transição e atualização das habilitações.
Baseada nisso, a Cenipa emitiu uma recomendação em novembro do ano passado, pedindo que a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) assegure que os pilotos recebam o treinamento correto para operar no Brasil a aeronave envolvida no acidente de Campos. Além disso, a Aeronáutica também recomenda que, ao emitir as licenças para os pilotos, seja checado se foi realizado um correto treinamento de “familiarização” ou de "diferenças" com outros modelos de aeronaves parecidas.
Rota diferente
Além da falta de atualização nas habilitações dos pilotos, o Cenipa também identificou que o avião realizou os trajetos da descida e da arremetida de forma diferente do que estava previsto na carta de voo. A investigação aponta ainda que a informação que o piloto passou sobre o posicionamento da aeronave no momento da arremetida também apresenta problemas.
O trajeto feito pela aeronave, captado pelos satélites e baseado em relatos de observadores, mostra um posicionamento bastante diferente do relatado pelo piloto minutos antes do acidente. No entanto, o Cenipa ainda não tem condições de afirmar quais os motivos da divergência entre a trajetória e o relato do piloto.
O que está descartado até o momento são falhas técnicas na aeronave. O investigador responsável, Tenente-Coronel Raul de Souza, afirmou que não há nenhuma evidência que aponte para problemas materiais e que o Cenipa trabalha agora com hipóteses de falha humana ou operacional.
— A aeronave estava na condição e voo. Completamente pronta para voar. Da parte material, não há nenhuma evidência que tenha contribuído para o acidente até o momento, mas é claro que pode aparecer. A partir de agora nós vamos trabalhar com o fator operacional e o fator humano.
Hipóteses descartadas
A Aeronáutica concluiu a coleta de dados, primeira das três fases de investigação que deve apontar as causas do acidente aéreo. Até o momento, estão descartadas as hipóteses de colisão ou fogo na aeronave durante o voo. De acordo com o brigadeiro Dilton Schuck, nenhuma hipótese das causas do acidente foi elaborada, mas colisão com animais, com outro veículo aéreo, ainda que não tripulado, ou com qualquer outro obstáculo são hipóteses completamente descartadas.
O Cenipa informou ainda que não há indícios de incêndio no avião antes da queda, descartando a hipótese de que a aeronave tenha pegado fogo antes de cair, como muitas testemunhas disseram ter visto. Mas, o brigadeiro Dilton Schuck fez questão de lembrar que o objetivo não é apontar culpados, e sim identificar fatores de risco para evitar novos acidentes.
— Não há ainda qualquer conclusão factível em cima do que nós coletamos e nenhuma hipótese foi ainda desenvolvida ou criada. Não é objeto do nosso trabalho aqui identificar culpados ou responsáveis pelo o que aconteceu, e sim condições que devem ser evitadas para que novos acidentes não ocorram.
Após a fase de coleta de dados, que levou cerca de 5 meses para ser finalizada, a Cenipa vai iniciar a fase de análise e interpretação das informações e depois entra na fase conclusiva para elaborar o relatório final. No entanto, não há prazo para encerrar as investigações.