Estudo mostra que anorexia não mora só na cabeça
Fome prolongada reorganiza o intestino e o corpo inteiro

Durante muito tempo, a anorexia nervosa foi vista quase exclusivamente como um transtorno da mente. Emoções, imagem corporal, controle. Tudo isso é central. Mas a ciência começa a mostrar que o corpo, especialmente o intestino, também carrega marcas profundas desse adoecimento.
Um estudo recente publicado na revista Nature Communications investigou algo ainda experimental, o uso de microbiota fecal encapsulada em mulheres jovens com anorexia nervosa. O objetivo não era tratar a doença, mas avaliar segurança, tolerabilidade e se essas bactérias seriam capazes de se estabelecer no intestino.
Após o uso das cápsulas, o microbioma das participantes mudou de forma significativa. Novas espécies passaram a fazer parte do intestino e parte delas permaneceu por semanas, até meses. Ou seja, o corpo respondeu.
Do ponto de vista clínico, os efeitos são discretos, como esperado em um estudo piloto. Não houve ganho de peso atribuível diretamente à intervenção, nem promessa de melhora rápida do transtorno alimentar.
Ainda assim, apareceram sinais interessantes, mudanças em marcadores metabólicos e uma redução de sintomas de ansiedade em parte das participantes. O estudo é pequeno, aberto e sem grupo controle. Ele não permite conclusões definitivas. Mas abre uma pergunta importante.
A fome crônica não afeta apenas o comportamento alimentar. Ela reorganiza o corpo inteiro. O intestino perde diversidade, o metabolismo muda, neurotransmissores se alteram. Isso não é escolha. É fisiologia tentando sobreviver.
O que esse trabalho sugere é que, em alguns casos, o corpo pode precisar de ajuda para sair desse modo de escassez. Não apenas com comida, que é essencial, mas com tempo, cuidado e talvez, no futuro, intervenções que auxiliem o intestino a se reorganizar enquanto o tratamento acontece.
É fundamental deixar claro, microbiota fecal não é tratamento para anorexia. Não substitui acompanhamento psicológico, nutricional ou médico. Simplificar isso seria perigoso.
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