Maracujá-alho, o sabor escondido do Cerrado brasileiro
Pesquisadores exploram o potencial nutricional e gastronômico desse fruto nativo pouco conhecido fora de sua região de origem
Ciência para o Dia a Dia|Thais Ando
RESUMO DA NOTÍCIA
Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

O Brasil é um país de rica biodiversidade, refletida tanto na fauna quanto na flora. A imensa variedade de frutos e alimentos nativos é conhecida, mas nem sempre essa diversidade se traduz do campo para o prato. Muitos alimentos ainda passam despercebidos para boa parte da população, como o maracujá-alho.
Nos supermercados, as espécies mais comuns de maracujá são o amarelo (Passiflora edulis) e o doce (Passiflora alata). No entanto, segundo a Embrapa, o Brasil possui cerca de 150 espécies nativas de Passiflora. Entre elas está o maracujá-alho (Passiflora tenuifila Killip), fruto nativo do cerrado brasileiro. Para quem não é da região, como eu, talvez nunca tenha ouvido falar e muito menos tenha tido a oportunidade de prová-lo. A polpa e as sementes podem ser consumidas de forma convencional, mas, por ser menor que o maracujá-amarelo, o fruto pode até ser ingerido inteiro.

O consumo de maracujá está associado a diversos benefícios à saúde. Além do conhecido efeito calmante, estudos apontam potenciais efeitos antidepressivos, melhora de sintomas da doença de Parkinson, ação antioxidante e propriedades anti-inflamatórias.
De acordo com pesquisa de José Thiago do Carmo Santos, publicada no Food Research International, o maracujá-alho é rico em fibras e compostos bioativos, como flavonoides e carotenoides. Dentro da classe dos flavonoides, o composto predominante é a proantocianidina, também chamada tanino condensado, presente na forma de dímeros e encontrada em alimentos como mirtilo, cranberry, chá verde, cacau e vinho tinto. Em 100 g de fruto fresco, o teor varia entre 108 e 215 mg de dímeros de proantocianidina, dependendo do estágio de maturação.
As proantocianidinas são digeridas e transformadas em compostos bioativos benéficos, como derivados de fenil-valerolactonas e ácido fenilvalérico. Esses metabólitos podem modular processos inflamatórios, respostas antioxidantes e mecanismos de desintoxicação.
Em modelo celular, a 5-(3′,4′-dihidroxifenil)-valerolactona mostrou-se capaz de ativar genes regulados pelo fator nuclear eritroide 2 (Nrf2), que controla a expressão de genes envolvidos nas respostas antioxidantes, anti-inflamatórias e na produção de enzimas desintoxicantes. Além disso, os carotenoides presentes no fruto têm ação antioxidante e funcionam como precursores da vitamina A.
Já o elevado teor de fibras favorece a saúde intestinal, pois serve de substrato para a microbiota, que as fermenta e produz ácidos graxos de cadeia curta, compostos associados à modulação da inflamação, ao fortalecimento da imunidade e à manutenção da integridade intestinal. Esse processo pode aumentar a diversidade bacteriana e contribuir para a prevenção de doenças no trato digestivo.
Embora seja um fruto completo e com múltiplos benefícios à saúde, o maracujá-alho ainda enfrenta barreiras comerciais, o que limita seu consumo às regiões produtoras. Ele é apenas um exemplo de muitos alimentos nativos brasileiros com enorme potencial de cultivo, comercialização e consumo, mas que permanecem subaproveitados no mercado nacional.
Referência
✅Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp
