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Conversa de Repórter

É sobre isso, sim! 

Dia do Jornalista: "Não é romantizar a profissão. Não é se sentir o todo poderoso. É, apenas, reconhecer o quanto a sociedade precisa de um jornalismo forte. O quanto nós precisamos ser fortes".

Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho

Rádio improvisada funcionava no almoxarifado da escola, no interior de SP
Rádio improvisada funcionava no almoxarifado da escola, no interior de SP

O almoxarifado da escola, em Araçatuba. Duas carteiras velhas como mesa de som. Um amplificador. Um rádio toca CD. Fios e algumas gambiarras. Um microfone e um papel cheio de anotações em mãos. O sonho de um garoto tímido, mas falante. Eu já sabia o que queria ser. Eu já me imaginava sendo jornalista. Eu já me sentia um, aos 13 anos.

Até hoje, guardo minhas primeiras gravações e os primeiros textos que escrevi na vida. Ainda na escola, além de rádio, eu fazia um jornalzinho em folha de sulfite. Vez ou outra mandava alguns artigos para o jornal local até conquistar meu próprio espaço, aos 15 anos. Sinceramente, acho que nasci pro jornalismo e o jornalismo nasceu pra mim.

Aos 15 anos, fui o colunista mais jovem do jornal Folha da Região, de Araçatuba
Aos 15 anos, fui o colunista mais jovem do jornal Folha da Região, de Araçatuba

Anos atrás, quando ainda dava meus primeiros passos na profissão, nunca imaginei chegar até aqui. Nunca imaginei que, um dia, estaria na televisão. Nunca pensei que trabalharia na maior cidade do País. A vida, por si só, vai levando a gente por caminhos nem sempre planejados. Aí, no meio do trajeto, ela nos ensina a gostar de cada passo.

Me desculpe se estou exagerando no saudosismo. É que hoje é Dia do Jornalista e toda vez que eu paro pra pensar na data, me vêm à memória inúmeras lembranças do tempo em que isso não passava de um sonho distante. Nem tudo são flores na profissão que escolhi. Aliás, o que tem de espinho pra tirar a gente do foco, não é brincadeira. Mas, independentemente disso, eu acredito no que faço.


Eu acredito, por exemplo, que sendo jornalista posso ajudar alguém de alguma forma. Que seja emprestando a minha voz pra contar uma história. Que seja dando espaço pra alguém falar. Que seja mostrando uma injustiça. Que seja servindo de instrumento pra que pessoas ajudem pessoas.

Aqui, mesmo, no blog eu já contei algumas experiências que me marcaram. Do jornalismo comunitário, que amenizou a situação do Seu Benedito, em Bauru, à prisão do homem que atropelou e matou o pequeno Kayque, na zona sul de São Paulo.


Pra quem me pergunta – e, às vezes, até pra quem não me pergunta – eu costumo dizer que a história desse menino foi uma das que mais me marcaram nessa jornada aqui na capital. Eu criei uma certa relação com a família na busca incessante pelo crápula que fugiu depois de atropelar o garoto, na época, com quatro anos. Descobrimos o nome dele, a idade, a foto e passamos a divulgar nos nossos telejornais. Até que ele foi preso.

William Volpe, de 26 anos, não tinha nem carteira de habilitação. Estava bêbado, sob efeito de drogas, e em alta velocidade acabou com a vida de uma família inteira. Há poucos dias, meu colega de trabalho e amigo, Rodrigo Balbino, me mandou a última atualização dessa história.


"Olha aquele caso que você cobriu", disse ele na mensagem. Na sequência, vinha uma nota dizendo que o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou aquele irresponsável a mais de 12 anos de prisão. Li com certo alívio, embora essa resposta tenha demorado dois anos pra vir. Mas me senti orgulhoso do trabalho que pude desenvolver. Não foi por causa da minha reportagem que o acusado foi condenado. Não. Toda a imprensa repercutiu a história. Mas é que me envolvi, emocionalmente, e fui uma das vozes a denunciar, desde o início, a crueldade praticada.

TJ-SP condena homem a 12 anos de prisão por atropelar e matar criança de 4 anos
TJ-SP condena homem a 12 anos de prisão por atropelar e matar criança de 4 anos

Parece pouco e, talvez, até seja, mas eu entendo que o meu trabalho é ajudar a gerar repercussão nas coisas que, realmente, valem. Recentemente, num plantão de fim de semana, fomos atrás de outro caso absurdo, também envolvendo a violência no trânsito. Uma enfermeira, de 36 anos, morreu enquanto trabalhava depois que um motorista bateu na ambulância onde ela estava. O veículo capotou. Emanuela Fernanda dos Santos estava à caminho de uma emergência quando foi atingida.

Na delegacia, estavam familiares da vítima. Eu não sabia quem eram. Eu ia tentar falar com o delegado, conseguir um boletim de ocorrência, quando a cunhada dela se aproximou de mim e se apresentou. Logo depois, veio o marido dela, irmão da enfermeira. Mesmo abalados, disseram que gostariam de usar a nossa reportagem como parte do inquérito pra tentar a prisão do motorista, que havia fugido do local do acidente. Foram dois depoimentos bem fortes para a matéria.

Mais uma vez, me via envolvido, de certa forma. Assim que descobri o nome do jovem que provocou a batida, passei a acionar minhas fontes na polícia na tentativa de encontrar fotos e fatos que pudessem ajudar a encontrá-lo. Passei a manter contato com a cunhada e enviei a reportagem pra que a família pudesse usá-la no trâmite judicial. Foi essa a minha colaboração. Isso é jornalismo.

Não é romantizar a profissão. Não é se sentir o todo poderoso. É, apenas, reconhecer o quanto a sociedade precisa de um jornalismo forte. O quanto nós precisamos ser fortes. Até hoje, nenhum dia meu passou sem ter sido batalhado, suado ou até estressante. Mas quando a gente faz, não só por fazer, todos os perrengues viram histórias pra contar. Se sorrindo ou chorando, depende. Mas viram riquezas. Viram detalhes. Eu acho que não saberia fazer outra coisa da vida. Na verdade, nem quero saber.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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