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A arte imita a vida, ou o contrário?

Quando o ar nos inspira, nos pira e faz falta pra respirar 

Eduardo Olimpio|Do R7

Raul Seixas compôs com Claudio Roberto a canção ‘O Dia em que a Terra Parou’
Raul Seixas compôs com Claudio Roberto a canção ‘O Dia em que a Terra Parou’ Raul Seixas compôs com Claudio Roberto a canção ‘O Dia em que a Terra Parou’

Livros e filmes feitos na linha do realismo fantástico ou da ficção científica tornaram famosos autores que, lançamento após lançamento, têm nos levado a flertar profundamente com o imaginário ilimitado sem que nos preocupemos muito com a possibilidade daquilo nos afetar na realidade. O grande barato da ‘viagem’ destas histórias é nos tirar da zona de conforto e nos transportar pra outra dimensão por apenas algum tempo, sem comprometer o vínculo com o mundo no qual, de fato, vivemos.

Assim vimos ‘sofrendo’ com doenças epidêmicas martirizantes, ataques nucleares pavorosos, desastres espaciais, longos blecautes elétricos e outras tantas fatalidades. Tudo aterrorizante. Também nos fazem ‘penar’ com a violência explicitamente cruel, o aprisionamento de pessoas e de ideias, o confinamento humano em larga escala etc. No campo do entretenimento, todas essas coisas acabam funcionando bastante como um exercício radical das emoções, com a injeção direta de hormônios na corrente sanguínea.

No meio de uma lista grande de criações artísticas que sugere discussões infinitas de quem é quem ou o quê, há coisas não necessariamente ruins ou assustadoras, por exemplo, quando o eterno Raul Seixas compôs com Claudio Roberto a canção ‘O Dia em que a Terra Parou’ para o álbum de mesmo nome lá em 1977 - que nos dias de hoje tornou-se uma espécie de ‘hino involuntário’ dos tempos em que vivemos. Para além do bem e do mal, há dois versos ‘proféticos’ nela: O empregado não saiu pro seu trabalho, pois sabia que o patrão também não tava lá...

Perguntas: sabiam eles, de fato, num ato visionário, que o planeta sucumbiria a uma pandemia virótica levando a quase zero a mobilidade das pessoas? Talvez não a tenham composta por simples e pura inspiração poética, sem nada previsível atrelado a ela? Sem conversar com um (já falecido!) ou com outro, estas duas hipóteses - ou até mais – poderiam ou não dar conta de um estado das coisas que ora experimentamos, num momento tecnologicamente bem diferente de qualquer outra ‘parada’ na história recente.

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Acho provável, e improvável, que eles tenham tido essa tal visão. De formação musical eclética – e creio, por extensão, também nas demais fontes do saber a ele acessíveis na época – , Raulzito deve ter tido inúmeras faíscas cerebrais que o fizeram viajar pelo espaço sideral sem sair da casca do ‘ovo-Terra’ e, por estas andanças, antecipar destinos e cenários de um futuro improvável, no qual a população mundial sentisse uma vida ‘estancada’ dias a fio. Ao mesmo tempo, talvez numa tacada só, letra e música ‘baixaram’ na dupla apenas como um singelo e cru registro poético fluído.

O toque de recolher imposto pelo parasita do momento, o popstar da Biologia contemporânea, casa quase perfeitamente com a composição de Seixas e Roberto, já que nela não há um motivo declaradamente escancarado do porquê o guarda não saiu para prender, pois sabia que o ladrão, também não tava lá.

O belo é que podemos dar o diagnóstico e o destino que queremos pra ela como a muitas outras obras ficcionais, feitas na mais pura forma direta de imagens de algum apocalipse ou de metáforas para lidar com sistemas governamentais e seus (entre)meios. No entanto, nesta nossa atual realidade, diagnóstico e destino ainda são variáveis incontroláveis.

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