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A negação e o direito à contra-argumentação

Para desconstruir algo consolidado, há de se ter boa-fé e conhecimento estruturado, o que nem sempre encontramos pelo caminho da desinformação

Eduardo Olimpio|Do R7

Divergência de opinião todo mundo tem, seja em relação a quem vai levar o título de campeão de uma competição ou sobre se vale a pena usar o molho agridoce em uma determinada comida. Essa capacidade sintetizada de escolha de um discurso ou de um ato a partir de uma experiência pessoal é exercitada todos os dias, em maior ou menor proporção à medida que somos excitados a nos posicionar.

Partindo dessa quase individualização do pensamento sobre as coisas, fica fácil de entender e aceitar que consensos são difíceis de serem conquistados por defensores de unanimidades. Traduzindo, se a pessoa tem direito a opinar sobre o que for, de construir para si uma explicação e consequente ação a partir de suas fontes, se somos diferentes em DNA mesmo pertencendo à raça humana, que diabos querem os que os que buscam, nos seus grupos de influência, uma hegemonia na forma de pensar, de agir?

Por falar em fontes de informação, já ouvimos de craques da comunicação que, por exemplo, ‘toda unanimidade é burra’. Mesmo que discordemos dessa essencialidade por alguma razão, o que talvez esteja por trás dessa afirmação é que nem sempre a maioria das pessoas de um específico estrato social ou geográfico, ao manifestar uma escolha política ou posicionamento comportamental, a faça de forma correta, partindo-se do pressuposto de que correta, aqui, seja a coisa moralmente aceitável diante de um leque de escolhas.

Tudo é discutível? Por direito, até pode ser, mas, de novo, há consensos formados a partir de evidências científicas, formulados estudados e provas documentais históricas que se tornam incontestáveis justamente por sua natureza robusta de construção. Fica claro que nada é imutável, mas o problema acontece quando movimentos de grupos de pessoas impõem uma negação tácita a algo, inconsistente no seu conteúdo mas eficaz na sua forma de conduzir massas, que vai contra as citadas provas de um fato fincado de qualquer área do conhecimento humano.

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A corrente de opinião organizada, quando focada na desestabilização, desinforma a partir de uma falsa origem. Alguns exemplos se fazem necessários aqui: a dominação comunista atribuída a um falso programa de governo que teria sido elaborado pelo Partido Comunista Brasileiro e que levou o presidente Getúlio Vargas a decretar o Estado-Novo, um autogolpe de governo para ‘salvar’ o país dos comunistas em 1937; o ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, disse algo como “ Nós não falamos para dizer alguma coisa, mas para obter um certo efeito” ou “ Uma mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade”. Ambos não inauguraram a era das fake news, mas usufruíram de suas consequências.

Apresentar uma visão diferente e até revisar tratados com argumentações está na raiz do desenvolvimento de uma comunidade, assim como apostar em outras matrizes de semeadura. O que não dá para dar espaço na sociedade da informação que hoje vivemos, com todo o aparato tecnológico científico e comunicacional de que dispomos, é aceitar a negação do aquecimento global, do holocausto da 2ª Guerra Mundial ou da alunissagem da Apolo 11 no satélite natural da Terra em 1969, ou de que não existe racismo estrutural no Brasil, de que ditaduras não torturam e aniquilam seus opositores, de que vacinas não funcionam, matam ou alteram o núcleo celular ou que, se navegar até o horizonte, seu barquinho vai cair no vazio do universo. Para pensar: de acordo com a União Pró-Vacina, o movimento anti-vacina que atua via rede social cresceu 18% durante a epidemia, reunindo mais de 23 mil usuários no Facebook.

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Isso tudo compromete o presente e o futuro de uma nação em desenvolvimento como esta em que vivemos, pois gasta-se uma enorme energia para contestar pensamentos fantasiosos recolocando questões óbvias nos seus devidos lugares. E tais discursos, negacionistas ou até mesmo de ódio, influenciam posturas antissociais que levam à desagregação social.

A pergunta que fica: com qual objetivo operam tais máquinas de promoção desse tipo de coisa?

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