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Adolescentes, sexo e ‘cabeça feita’

Tudo tem sua hora, mesmo para quem acha que nada tem limites

Eduardo Olimpio|Do R7

Campanha do atual governo busca atingir jovens de 10 a 18 anos
Campanha do atual governo busca atingir jovens de 10 a 18 anos Campanha do atual governo busca atingir jovens de 10 a 18 anos

Os roqueiros do Ultraje a Rigor (autores da canção ‘Sexo’), assim como outras bandas do bom momento do rock brasileiro dos anos 1980/1990, deram uma grande contribuição para o debate nacional acerca de quase tudo que rolava na sociedade de costumes, nos campos da política, no relacionamento afetivo e sexual, enfim, na experiência da juventude em relação àquele tempo de transição política, comportamental e institucional.

Eram letras e arranjos que entravam na cabeça daquela geração e faziam os neurônios se exercitarem, contribuindo para a reflexão mais crítica de uma certa ‘classe média’ urbana, de tom pastel. Entre exaltações ao amor e denúncias do cotidiano da política e afins, não faltava nunca a menção ao sexo de forma involuntária, poética ou escancarada mesmo.

Tudo corria solto num momento pós abertura política, sob nova Constituição, de abolição da censura e o transbordo de uma sociedade represada, aprisionada por elementos, até aquele presente instante, contrários à liberdade de ser e pensar diferente. E, por justamente ter sido forçada a ficar num lugar de cárcere, quando ganhou as ruas e o vento na cara naturalmente esbaldou-se de forma que, por vezes, penetrava sem dó nas curvas da libertinagem. Nada anormal, dentro desta narrativa.

Entre as duas décadas, a Aids precipitou a morte de alguns ídolos deste movimento cultural todo. Desde lá parece que uma espécie de releitura dos anos de transição entre os regimes autoritário e democrático se instalou no país. Num recorte dos comportamentos e feitos, por exemplo, a medicina deu saltos significativos ao esclarecer mais sobre as doenças sexualmente transmissíveis e melhorias do tratamento destas. Simultaneamente o governo brasileiro adotou uma política de atendimento aos portadores do HIV que virou referência na Organização Mundial da Saúde.

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Aqui um ponto começa a aflorar. Não há como afirmar que fatos pouco antes medidos (ou divulgados) durante o regime militar como pacientes infectados por contatos sexuais homo e heteroafetivos, por transfusão de sangue ou uma maior taxa per capita de gravidez precoce — originada pela antecipação da atividade sexual ou falta de informação sobre métodos contraceptivos — tenham tido uma maior ou menor ocorrência no passado do que agora.

O destaque agora é que no atual governo há uma campanha em curso destinada aos jovens entre 10 e 18 anos que pretende fazer a reflexão em cima desse público sobre a iniciação precoce da prática sexual. O Executivo prega a tese de que não defende a abstinência sexual como único método para se evitar a gravidez entre adolescentes. Pelo preposto, a ênfase é tratar do assunto como sendo de saúde pública e descolado de qualquer medição moral que se possa fazer.

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O que a gente consegue atestar sem dúvida é que ocorre na sociedade de classes uma indução esquemática à sexualização de crianças e pré-adolescentes para indistintas finalidades, das mais sórdidas às tidas como de menor impacto na vida dessa faixa etária; no entanto, quando vitimadas e acolhidas pelas redes de apoio, essas pessoas demonstram com frequência quadros de depressão associados a baixa autoestima e automutilação, dentre outras enfermidades.

Penso, e quero (a)creditar, que não se trata de implantar uma única conduta moral ou religiosa de dentro de um estado civil e laico como o Brasil. Oferecer uma ‘alternativa’ à atividade sexual precoce pode parecer sem sentido se não se falar abertamente sobre sexo. Conversar sobre o amor puro e ‘entrega’ contribui, mas não blinda a questão nesta fase hormonal. A própria OMS alerta que somente abrir mão da vivência sexual não funciona como medida eficaz de redução das consequências vistas, fora os abusos. A educação sexual pode ter um impacto positivo e não aumenta a busca dos jovens pelo sexo, diz a UNESCO.

Precisamos estar atentos, sem preconceitos aqui e acolá. Não é fácil para governo nenhum tratar desse tema. Também aos pais e tutores é tarefa por vezes complicada demais. Não rotular, julgar ou desdenhar já ajuda, muito!

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