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Eduardo Olimpio

Dá pra entender quem somos e o país que queremos e merecemos?

O barulho em tempos de guerra eleitoral não pode se sobrepor ao que deve ser a tônica do debate político como ferramenta de transformação

Eduardo Olimpio|Do R7

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Sociedade brasileira é fruto das mais variadas densidades de caráter
Sociedade brasileira é fruto das mais variadas densidades de caráter

O Brasil sempre foi um país a ser estudado por muitas de suas peculiaridades geográficas, artísticas, ambientais, políticas, étnicas e econômicas. Academicamente, estão espalhadas em várias universidades pelo mundo teses e conteúdos programáticos produzidos pelos chamados brasilianistas, pessoas de outras nacionalidades que se dedicam a pesquisar documentos, viabilizar estudos, promover visitas e entrevistar os nativos das várias representatividades sociais que expressam o brasileiro. Buscam, assim, entender um pouco os frutos desta nação dita ‘abençoada por Deus e bonita por natureza’, que desperta a curiosidade e sensibilidade de cientistas das áreas de Exatas, Humanas e Biológicas, além de artistas, jornalistas etc.

Independentemente de acertos e erros nos registros que estrangeiros vêm fazendo ao longo dos séculos, o país tem sido formado por uma identidade múltipla moldada, entre outras matérias-primas, pelo que colonizadores e seus atributos imprimiram na massa humana que aqui encontraram. Esse processo perpetuou-se com relativo sucesso, pelo menos até a modernidade e a tecnologia da informação ascenderem ao trono.


Há espaço na História para afirmar que a sociedade brasileira é fruto das mais variadas densidades de caráter surgidas nos povos que para cá enviaram os seus. De criminosos a humanistas a nação importou o bom e o ruim que chegaram e se misturaram ao indígena e, num curtíssimo tempo depois, aos homens e mulheres vindos do Congo, da Guiné, do Benim, de Moçambique. Tal mosaico, como esperado, não se deu sem beleza mas foi emoldurado por muita dor e solavancos, com altos e baixos no seu processo de sedimentação e fixação territorial que perduram até os dias atuais. Sem novidades nisso, essa característica é uma das que baseiam a formação da sociedade nacional e sua auto-organização. 

Ao lado dessa mistura quase singular no mundo, a política veio sendo tocada século a século entre muitos trancos e calmarias, calçada em meio a essa nova estratificação social e humana do planeta que atravessa, a grosso modo com pequenas lacunas, os ciclos da colônia, do império e da república.


Portanto, não é de se estranhar que na atualidade política aguda em que estamos, com nossas características e acesso à informação circulante (de alta ou baixíssima confiabilidade de conteúdo e forma), acompanhar e entender a realidade que nos circunda torna-se ação indispensável para entender de onde viemos, em que lugar da história e do espaço estamos e para onde nossas caravelas rumarão. Em resumo, o que fomos, nosso entendimento do que ocorre neste instante e o que vamos construir e exigir dos nossos representantes estão em pleno jogo, com bola rolando, caneladas, faltas e torcidas a postos.

Os debates exaltados entre candidatos a nossos representantes na máquina pública de gestão estão alicerçados em históricos vindos lá do Brasil-Colônia analfabeto, seletivo e serviçal à elite de cada momento. Mesmo com algoritmos etc., esses pretendentes ainda suam a camisa e gastam solas dos calçados atrás dos votos dos descamisados, descalços, desdentados, definhados e desconectados. E a política real, enquanto instrumento de transformação da sociedade, é também vítima de sua própria natureza como valor a ser sustentado à medida em que ainda é vista como algo que em nada impacta a vida do tal cidadão comum num país de iletrados, pela baixa escolaridade no conteúdo e/ou no tempo em que se fica matriculado numa instituição de ensino.


Trata-se, obviamente, de um erro grave de avaliação justamente por ser a política a principal - se não a única - atividade humana e social pela qual se pode conseguir a dignidade como partícipe de uma comunidade, com o mesmo direito de qualquer outra escala social a ter os direitos humanos respeitados.

Continuando nos trilhos da política e da eleição, conhecer os candidatos, suas reais capacidades, seus limites de atuação, suas pertinências e demais características que o levem a ter o voto de cada um, é fundamental.

Ler, ouvir, refletir e analisar para além do que nos querem fazer acreditar são atos que podem ajustar, com a liberdade que a democracia garante e empresta, as peças da engrenagem social que visa o fim da desigualdade de oportunidades, da fome, da ignorância, da vala fedida, da bala perdida, da fila pela operação no SUS, da fila da perícia no INSS, da demanda do ‘coiote’ na fronteira do México com os EUA, da beligerância que entope e polui a rede de fibras óticas e as telinhas e telões de LCD.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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