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Eduardo Olimpio

Estourar bolhas de informação é útil e só faz bem 

Grupos fechados em si acabam viciando nossas percepções do mundo e não produzem nada de novo; apenas anestesiam velhos olhares 

Eduardo Olimpio|Do R7

A expressão "lugar de fala", popularizada como tema de um livro da filósofa Djamila Ribeiro, serve aqui nessa reflexão que está sendo construída com o leitor não necessariamente para denunciar quanto ainda falta para virem à tona vozes caladas durante muito, muito tempo mesmo, no Brasil.

Resumidamente, na obra da escritora e defensora dos direitos dos negros numa sociedade ainda estruturalmente racista, ela desvenda o propósito de manter no "modo silencioso" certas fontes de informação e de poder e assim garantir que reflexões, opiniões e avanços de direitos sobre grupos sociais fiquem no campo dominante que, de fora, contam e selam como única verdade a sua versão da história.

Esse pequeno porém rico exemplo atravessa hoje algumas discussões de como a comunicação circula, se comporta, lacra ou deslacra chaves de acesso à informação que roda em todos os meios. Particularmente, as tecnologias instantâneas baseadas na eletrônica e nas ondas eletromagnéticas dominam todos os cenários em que se produz um fato ou sua informação, bem como o modo em que é levada aos destinatários e, uma vez chegado até eles, qual o resultado da interpretação que se dá ao que foi noticiado.

A oferta de meios digitais mais baratos e acessíveis à grande massa da sociedade, aliada a uma natural essencialidade humana que é se comunicar horizontalmente e, preferencialmente, sem a mediação dos detentores dos meios tradicionais de comunicação de massa, dá um considerável poder de manipulação no sentido mais puro da palavra. Se um fato interessa ser veiculado, uma opinião, um perfil ou qualquer outra ‘new’, não há de se esperar que o marketing ou o jornalismo deem suas contribuições, moldadas seja lá em quais balizas.


A informação percorre um caminho dentro de um círculo vicioso e por vezes perverso
A informação percorre um caminho dentro de um círculo vicioso e por vezes perverso

Hoje, os papéis da imprensa e das redes sociais como interceptadoras entre os fatos e suas narrativas só se equivalem na medida da necessidade, como dita, de comunicar alguma coisa. De resto, parece cada vez mais arrazoado entender que os facilitadores digitais entram em cena a todo instante para captarem a si um protagonismo na análise de qualquer coisa, inviabilizando uma segunda (ou outras) leitura que seja feita dentro dos parâmetros da reportagem. A esta, cabe cada vez mais uma dura tarefa de se viabilizar como alternativa analítica de maior e mais amplo conteúdo explicativo e comparativo, que a diferencie de uma certa normalidade média e sem muito espaço ao aprofundamento, que nada de braçada nas telas e nos escassos papéis impressos.

Com isso chegamos facilmente a entender, por extensão, o caminho de informações dentro de um círculo vicioso e por vezes perverso que embala temas e pautas afeitos a suas vontades, percepções de vida e valores comunitários. Falar às bolhas, de dentro delas, é uma máxima que explode nos grupos das plataformas digitais, sobrando pouco ou quase nada de ambiente sadio a uma opção que realmente te lance para fora dela em nome de um saber novo.


É nesse fio condutor que percorre a corrente da "zona de conforto" de cada participante, uma "preguiça" típica de uma população não acostumada a uma pesquisa apurada de sua atualidade antropológica e de seu passado. E um momento político fraturado, nas duas pontas de um mesmo osso, engessa mais ainda qualquer tentativa de infiltração. Vejo isso nos grupos que acompanho de perto por conta do ofício e do prazer que me dá o saber.

Torço para que a calcificação das fraturas seja rápida o suficiente a fim de dar mais força para que bolhas se rompam e possam ter suas células realimentadas com novos componentes e, assim, produzam simplesmente outras descobertas.

Repito o título, acrescentando: estourar bolhas de informação é útil e só faz bem, quando nos balizamos pela razão, pela honestidade intelectual e pelo respeito ao pensamento diferente, que deve acrescentar em vez de nos tirar.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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