Mercado reinventa o conceito de reinvenção
Mesmo estando sempre em um estado inatingível, a atualização infinita da sabedoria humana merece análise quando ‘marquetada’ ao trabalho
Eduardo Olimpio|Do R7

A Língua falada por um povo é, por certo, o seu patrimônio mais singular, culturalmente mais importante e ferramenta de desenvolvimento contínuo quando acessível a todos, ou a imensa maioria, que o compõe. É indispensável ao enlace socio-afetivo por se tratar de um caminho seguro no qual as relações pessoais se apoiam por conta de certas significações que, via de regra, asseguram a compreensão, dão firmeza e traçam uma espécie de unidade necessária ao convívio.
Em sua construção ininterrupta, criativa e influenciada por matrizes indígenas e estrangeirismos gregos, romanos, árabes, espanhóis, ingleses e africanos, dentre outros, significados diferentes abundam entre palavras igualmente cifradas na nossa riquíssima Língua Portuguesa. Mesmo tendo um arsenal de verbetes que vão dos simples do cotidiano aos mais lindos e usualmente explorados nas poesias, há substantivos, adjetivos e verbos cujas grafias não variam, mas seus sentidos sim quando usados em formas distintas.
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Nas áreas da comunicação e nas ciências da linguagem, determinadas escritas costumam saltar de importância de tempos em tempos por conta de alguém que as usou de maneira ‘inédita’ para determinado contexto; dizemos, informalmente, que ‘caíram’ nas graças do povo.
Seja por força e formosura próprias visuais, sonoridade agradável ou citadas em meio às regras ou atributos gramaticais que englobam, por exemplo, as figuras de linguagem (ou de estilo), é certo que fazemos algumas ‘trucagens’ de sentido em textos que costumam ornar a sua compreensão, ajudar na reflexão de seu conteúdo e tornar mais bela sua construção, emoldurando-a. Assim, mostra-se beleza e desperta-se admiração pela capacidade criativa de se usar determinados termos fora de seu contexto original, ou simplesmente um utilitarismo com algum grau de influência.
Precisamente no mercado de trabalho, pegando um exemplo dos especialistas em Recursos Humanos, tem sido quase imperativo encontrarmos a expressão ‘reinventar-se’ como uma espécie de mantra a ser cultuado para situações pessoais a fim de sensibilizar profissionais a melhorarem seus currículos ou mesmo ‘rasgar sua biografia’ para mudarem o rumo de uma carreira. A ideia aqui é manter-se atualizado o tempo todo para que o mercado possa te usar em suas potencialidades sem investir muito na sua formação, remunerando-o nem sempre à altura. O ônus da plena forma dos conhecimentos e das capacidades, portanto, está no colo de cada um.
No caminho dos novos conhecimentos, vira e mexe ouvimos vozes que nos incitam a acompanhar o mundo. O sentido aqui é dar vazão (e razão) os cíclicos e cada vez mais frequentes saltos de tecnologia que tendem a nos fazer viver mais, porém, com muito mais coisas a fazer, ler, gerenciar e aprender Estes e demais verbos de ação devem nos impulsionar a adquirir novidades e ajudar a se desfazer de coisas que, pelo fluxo entre o capital financeiro e o intelectual, chegaram ao seu final de vida útil. O mesmo mercado que te empurra mercadorias e conceitos te quer consumidor de mercadorias e conceitos o tempo todo.
É importante, claro, renovar o estoque de conhecimento, escantear (não necessariamente apagar) gatilhos que façam perder tempo e energia com o que não vale (mais) à pena e estar sempre aberto ao novo. Enciclopédias como a Barsa e a Conhecer devem ocupar seu lugar na história e, se tiver como acomodá-las, afetivamente podem ser enfileiradas e acumular poeira na estante, sem problemas, ou servir de base para aumentar a altura do monitor. Também devemos saber que nunca estaremos ‘zerados’, que sempre há espaço para se gravar novos saberes dentro da gente sem que abramos mão de nossa essência.
Consumo consciente de bens e conhecimentos, identidade, capacidade de medição e de leitura do mundo, estima, ética e outros atributos que devem continuar como o esteio sagrado na vida de cada um e não atrapalhar a reinvenção necessária a ser feita com e pela sabedoria.












