Pesquisa eleitoral ajuda ou atrapalha a natureza do voto?
Não precisaria ser, mas é um desafio saber de fato quem é e como pensa o eleitor sobre seus representantes nas cadeiras executiva e legislativa
Eduardo Olimpio|Do R7

Reta final para as eleições deste ano e os nervos dos pouco mais de 29 mil candidatos aos diversos cargos públicos espalhados pelo Brasil estão no limite. Afinal, esse contingente vai disputar 1 cargo de presidente da República, 27 de governadores de estado e do Distrito Federal, mais 27 vagas de senadores e 513 de deputados federais, fora os estaduais.
E para peneirar e fazer caber uma parte deles nas cadeiras disponibilizadas pela democracia participativa, mais de 156 milhões de eleitores devem comparecer às urnas daqui a 6 dias a fim de escolherem seus representantes, que serão ninguém mais ninguém menos do que seus funcionários públicos temporários, escolhidos pelo voto direto e popular com a função de prestarem serviços ao cidadão visando garantir preceitos constitucionais a partir de 2 bases dos 3 poderes da República.
Neste ritual, a cada 2 anos dentro do calendário eleitoral, um dos produtos (ou serviços) que mais chamam a atenção da imprensa e da opinião pública e, consequentemente, atraem e consomem o trabalho de cientistas políticos e estatísticos, é a pesquisa eleitoral. Polêmica, ela dá uma espiada nos anseios momentâneos de parcela pequena do eleitorado, que aponta os possíveis grãos retidos na rede das vontades entre os concorrentes.
Vilã ou mocinha, fiel ou manipulada, a enquete tem como função primária retratar o desejo do eleitor, a intenção de voto deste protagonista dentro de uma lâmina da população votante naquele determinado tempo em que foram colhidas as respostas das perguntas colocadas pelo pesquisador, que no Brasil pode sair às ruas ou telefonar para seus pesquisados e obter deles suas simpatias.
E foi na rua que, no interior de São Paulo, um pesquisador do Datafolha foi recentemente agredido fisicamente por uma pessoa que se apresentou como eleitor de uma corrente política e partiu para cima dele alegando que a vítima somente creditava na planilha as intenções de votos do candidato da corrente tida como oposta, numa eleição cravada tanto pela mídia como pela sociedade como polarizada. Não dá para aceitar como normal, mas sociologicamente compreende-se o grau de excitação que norteia a violência instalada nos debates entre eleitores medianos brasileiros. Vimos nisso assassinatos ainda em fase de investigação, mas que indicam fortemente terem sido cometidos por motivação explicitamente política-ideológica.
Sabe-se que tal expediente forçoso em nada adianta o processo. Pegando como prumo o ano de 1989, no histórico das publicações de variados institutos de pesquisas, independente das bravatas ou socos e pontapés, os resultados das urnas praticamente confirmaram as intenções levantadas antes delas serem lacradas pelos tribunais regionais eleitorais, expelindo a expressão do eleitor por meio do papel ou dos bits, pouco importa aqui o método.
Disso cria-se uma questão para a reflexão sobre a importância dessa divulgação antecipada de intenção de voto, no caso dos cargos majoritários de prefeito, governador e presidente. Nunca questionei a importância desse levantamento, mas coloco em dúvida a sua utilização e divulgação públicas antes do primeiro turno. Queiramos ou não, a cada publicaçãoo os números acabam influenciado segmentos de eleitores.
Não leio como fraude, mas vejo nisso uma espécie de retrato desfocado da ‘cara do eleitorado’ que, invariavelmente, acaba revelado como uma meia verdade pois esconde, também naturalmente, a realidade de uma determinada região que queiramos caracterizar, seja pelo vértice de voto conservador, por exemplo, ou de qualquer outra expressão que se deseja medir de um ou de outro recorte da população.
Penso que seria um debate interessante propor um veto à publicação de pesquisas antes do primeiro turno. Teríamos, por certo, uma imagem mais definida e fidedigna dos eleitores e de seus traços, costumes e visões políticas, problematizadas e traduzidas por especialistas. As pesquisas, no caso, continuariam a ser feitas porque são instrumentos importantes de tomadas da temperatura e, consequentemente, de decisões dos núcleos das campanhas eleitorais. Portanto, apenas seriam consumidas internamente pelos partidos ou federações abrindo o caminho livre para o voto não induzido.
Isso refrearia o voto útil, aquele ao qual há apelações em retas finais de campanhas e que, na opinião deste que escreve, distorce o fato e cria penumbras sobre a real leitura e casamento do perfil e necessidades expostas do eleitorado.
No segundo turno, esse veto de publicidade dos resultados cairia por terra, não faria sentido algum mantê-lo por se tratar de uma segunda eleição que, agora, polariza ou diferencia minimamente duas candidaturas majoritárias; ter ou não ter pesquisa influenciando o eleitorado não atrapalha a fluidez natural da vontade soberana e popular. Hashtag, fica a proposta.











