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Qual o crime praticado pela pessoa gorda?

Combater preconceitos como a gordofobia recoloca a dignidade dos obesos no conjunto de valores a ser cultivados numa vívida co-civilidade

Eduardo Olimpio|Do R7

Ninguém merece ser discriminado por suas condições físicas
Ninguém merece ser discriminado por suas condições físicas Ninguém merece ser discriminado por suas condições físicas

A gordofobia não perdoa ninguém obeso. O preconceito alastrado pela sociedade em mil formas (do humor barato ao escárnio puro e direto) sentencia pessoas que, por sua característica corpórea mais chamativa, são vítimas constantes da discriminação por serem consideradas de tudo, de ‘fora do padrão’ a preguiçosas, doentes ou ‘mal amadas’, seja lá qual for a consistência de tais atributos, a fonte destes conteúdos ou sua (falta de) pertinência.

Afora o caso recente e infeliz dessa manifestação por conta da morte da cantora e compositora Marília Mendonça, quando se discute o tema, esse indicativo do peso que alguém carrega consigo só entra na pauta se, e então somente, o objeto do debate é alguém cujas medidas ‘extrapolam’ as ‘bases’ estabelecidas, quer pela comunidade médica, quer pelo mainstream, alterando de alguma maneira nosso pensar e viver coletivo e cotidiano

Poucas são, em nosso meio social, as pessoas gordas que, publicamente ou não, foram ‘normalizadas’ pelas circunstâncias ‘positivas’ com as quais lidam ou trafegam. Pobres costumam perecer bem mais na boca alheia do que ricos; se desempregados então, a coisa piora muito. Negros e negras parecem ser mais gordos do que ‘cheinhos’ da ala branca da sociedade. Doentes obesos, então, seriam levados à força - caso a lei assim dispusesse – para tratamentos físicos e psicológicos.

Por outro lado, como toda luta contra preconceitos em geral, a gordofobia tem encontrado resistência à altura em meios noticiosos e políticos, ainda que iniciativas que combatam autores ou condutores de falas e valores desconectados de civilidade sejam poucas. No campo governamental, recentemente, a capital pernambucana foi a primeira do país a aprovar uma legislação sobre o tema. A Lei 18.831/2021 institui o Dia Municipal de Luta contra a Gordofobia (dia 10 de setembro), que servirá de marco anual de debates sobre a questão, e a Lei 18.832/2021 assegura às pessoas gordas carteiras escolares adequadas aos seus corpos nas instituições públicas ou privadas de ensino básico e superior do Recife, além de garantir o ensino livre de discriminação ou práticas gordofóbicas.

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Legislações a respeito dessa realidade, não só nacional como mundial, deveriam ser levadas mais a sério. No Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) feita há 2 anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de adultos obesos, em 17 anos, subiu 12,2% entre 2002 e 2003 para 26,8%, em 2019, e a proporção desta população com excesso de peso passou de 43,3% para 61,7%; são quase 2/3 dos brasileiros nesse recorte.

São luzes importantes que se acenderam no certame institucional e potencializam outras despertares de legislações Brasil afora. E há tratativas que não passam por lei alguma e que devem ser vistas e adotadas a título de refratar preconceitos a uma pessoa gorda.

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Um bom começo é perceber-se como alguém também dotado de particulares formas que o caracterizam. Sim, simples assim. Conversas francas e abertas, sem estereótipos, ajudam a elucidar necessidades dessa população. Assim, o mobiliário urbano e coletivo, púbico e privado, bem como serviços de transportes, de saúde, de educação, de lazer e de cultura, entre outros, devem se atentar para o justo e respeitoso atendimento às demandas desse contingente.

Ninguém, adulto ou criança, merece ser discriminado pelas suas condições materiais, físicas nem psíquicas.

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