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Muros do século: quando a arquitetura do medo vira projeto de governo

Parece, mas não é: erguido como símbolo de poder, o muro de Berlim ecoa em outros tempos e lugares

Heródoto Barbeiro|Heródoto Barbeiro

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Pular na selva de pontas e arame farpado é ter a chance de apenas um por cento de chegar vivo ao outro lado Reprodução/Instagram @usbpchiefsdc

O muro é um espinho atravessado na garganta dos dois países. E ambos têm argumentos contra e a favor do muro. Têm também forças militares capazes de se confrontar na beirada dele. Uma obra como essa comove boa parte da humanidade.

Ele não separa apenas duas nações — separa famílias, escolas, e impossibilita o desenvolvimento cultural. É uma ideia infeliz, mas que tem toda a mídia estatal para defendê-la.


Os argumentos mais repetidos são de que o muro aumentará a segurança dos cidadãos, impedindo a entrada de criminosos de todo tipo: de traficantes de drogas e de armas, e de que até impedirá atos de espionagem que coloquem em risco a segurança nacional.

A longa muralha de tijolos é intercalada por longas filas de cavaletes enrolados em arame farpado de alto impacto. Pular naquela selva de pontas é ter a chance de apenas um por cento de chegar vivo ao outro lado, isso se o transgressor não levar um tiro de fuzil nas costas. Ou na cabeça.


O número de pessoas que tenta pular o muro é cada vez maior. A pressão contra a emigração é cada vez mais intensa, mas funciona de modo contrário. Homens, mulheres, crianças, velhos, famílias inteiras se arriscam para alcançar o outro lado.

É verdade que isso custa a vida de muitos. Os soldados estão instruídos a atirar em qualquer um que queira passar para o outro lado. A reação das pessoas é usar a imaginação para atravessar a fronteira entre os dois países, ora cavando túneis, ora nadando pelos rios das proximidades, ora simplesmente dirigindo carros em alta velocidade contra as cancelas intercaladas no muro.


O mundo acompanha com interesse e preocupação as escaramuças devido ao muro. As duas potências nucleares escaparam de um confronto recentemente. Os comunistas revidam a derrota na crise dos foguetes em Cuba com a construção relâmpago de um muro que divide a cidade de Berlim em duas partes.

Os mundos comunista e capitalista se materializam na República Federal da Alemanha e na República Democrática Alemã. Ou melhor, Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental.


É o novo foco de Guerra Fria capitaneado de um lado por John Kennedy, presidente americano, e de outro por Nikita Kruschev, o ministro soviético. A população da cidade é pega de surpresa. O muro é construído rapidamente e divide ruas pela metade.

De uma janela é possível ver o interior da casa da frente. Uma do lado leste, outra do lado oeste. Com uma corda é possível fugir. Até que as janelas do lado oriental sejam seladas com tijolos e cimento. Tentar pular o muro é punido com um tiro. Túneis são explodidos. Há uma ameaça das forças soviéticas impedirem o corredor aéreo entre Berlim ocidental e a Alemanha capitalista.

Se isso ocorrer, o fim da Segunda Guerra dará início à Terceira.

O presidente democrata peita mais uma vez a União Soviética e viaja para Berlim. Junta-se ao chanceler alemão Willy Brandt e faz um discurso na escadaria da prefeitura da cidade onde proclama: ICH BIN EIN BERLINER.

Uma comemoração que durou apenas 4 meses do ano de 1963, quando Kennedy viajou para Dallas, no Texas, e encontrou Lee Harvey Oswald.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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