A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) tem promovido nos últimos anos diversas iniciativas em prol da saúde mental da população brasileira. Durante todo o mês de abril, as ações contra a Psicofobia são intensificadas, com o intuito de conscientizar a sociedade sobre o prejuízo causado pelo preconceito que existe contra as pessoas que têm transtornos e deficiências mentais.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde- OMS, aproximadamente 1 bilhão de pessoas vivem com transtornos psiquiátricos em todo o mundo. No Brasil, a realidade também é preocupante: estima-se que 70 milhões de pessoas padecem de doenças mentais e que nem sempre são diagnosticadas ou tratadas corretamente.
O preconceito contra quem sofre de alguma doença mental pode vir de diversas formas: 1) discursos do tipo "doença mental não é doença", é "comodismo, desequlíbrio de parafuso ou frescura"; 2) associações de doença mental à violência embora 95% dos violentos não tenham doença mental; 3) fala discriminatória de que o doente mental é incapaz e necessita ser isolado; 4) menores oportunidades e salários em empregos e até no meio acadêmico; 5) prejulgamentos do tipo "tudo que o doente mental sente é da cabeça dele" e por isso nem sempre os médicos investigam problemas orgânicos com os mesmos detalhes e atenção de outros pacientes, colocando a saúde e vida dos doentes mentais em doenças fisicas não diagnosticadas ou tratadas.
Muito dificil viver em uma sociedade que o tempo todo estabelece padrões de normalidade e de inclusão social e cultural. Não há modelos perfeitos ou ideais, todos nós temos nossas fragilidades, algumas expostas, outras não. A verdade é que há uma crueldade social contra quem é diferente, com estereótipos inaceitáveis e repugnantes.
A Pesquisa Vigitel, publicada em 2022 pelo Ministério da Saúde, incluiu a depressão na lista de doenças crônicas apuradas pla primeira vez e revelou que cerca de 23 milhões de cidadãos têm o transtorno depressivo, ultrapassando a própria diabetes mellitus- uma doença crônica muito comum. Além disso, a OMS aponta que o nosso país ocupa o terceiro lugar na lista de países com maior número de transtornos psiquiátricos no mundo e lidera o ranking de casos de ansiedade na América Latina, com quase 19 milhões de padecentes em todo o país.
Por essa marca expressiva de doentes mentais no Brasil, é que precisamos combater o estigma que dificulta demais a busca por tratamento precoce de depressão, ansiedade e outros transtornos mentais. Como em qualquer doença, a busca precoce pode evitar consequências trágicas como o suicídio, entre outras.
Pessoas com doenças mentais geralmente sofrem caladas porque a familia e a sociedade as discriminam o tempo todo. A Psicofobia (preconceito contra quem sofre de doença mental) impede que as pessoas busquem a ajuda correta e muitas vezes a assistência no SUS é precária, com pouca infraestrutura e déficit de profissionais capacitados. O orçamento da saúde mental no Brasil é ainda muito baixo e por isso não temos igualdade de condições entre as instituições privadas e as do SUS. Todos os níveis de assistência precisam ser contemplados desde comunidades terapêuticas, CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) até hospitais psiquiátricos de excelência e que não podem simplesmente ser fechados de forma irresponsável impedindo que casos severos tenham um atendimento altamente especializado e humanizado quando necessário. No setor privado, ao contrário, do SUS, o investimento tem sido gigantesco por parte de grandes grupos empresariais inclusive em hospitais psiquiátricos de excelência onde tais investidores detectaram uma lacuna e um nicho de lucros.
Portanto, precisamos arregaçar as mangas e lutarmos incessantemente contra o preconceito que o doente mental vem sofrendo calado ao longo de décadas no nosso país. Ações governamentais eficazes e calcadas na ciência são esperadas, não apenas discursos.
Maiores informações: http://www.psicofobia.com.br
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