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Luiz Fara Monteiro

CEO da LATAM cita colisão de avião com pássaro para protestar sobre enxurrada de ações judiciais

‘Aposto que a primeira ação na Justiça contra a aérea pedindo indenização chega amanhã mesmo’, diz Jerome Cadier

Luiz Fara Monteiro|Luiz Fara MonteiroOpens in new window

Colisão com pássaros: "Quem paga a conta?", questiona CEO da latam Reprodução Jerome Cadier

O CEO da LATAM Brasil ilustrou uma ocorrência de colisão entre uma aeronave e pássaros para reclamar - mais uma vez - do número de processos judiciais contra companhias aéreas que operam no Brasil. O “bird strike” é comum nas proximidades de aeroportos em todo o mundo. Mas o volume de ações contra empresas, não. Jerome Cadier escreveu em uma rede social:

“Hoje um desabafo! Agora há pouco, mais uma colisão com pássaro (chamado “bird strike” na aviação). A aeronave voltou em segurança, mas obviamente o voo foi cancelado, atrapalhando a vida de todos os passageiros, e obviamente da cia aérea também. Posso apostar com vocês que a primeira ação na Justiça contra a cia aérea, pedindo indenização por dano moral por cancelamento deste voo vai chegar amanhã mesmo…e assim segue a aviação brasileira…a pergunta é: quem paga a conta?“

Por ano, o número de processos contra as companhias aéreas brasileiras aumentou, em média, 60% de 2020 a 2023, informa a ABEAR, Associação Brasileira das Empresas Aéreas. Desse montante, 10% das ações foram movidas por apenas 20 advogados ou escritórios, o que sugere a concentração de litígios.

O estudo “Mapeamento sobre Litigância Predatória no Setor Aéreo do Brasil” reúne informações sobre a judicialização no setor e como esse mercado tem crescido no país.

Dados coletados pela plataforma Spotlaw, a partir da análise de mais de 400 mil processos judiciais em todo o Brasil, revelam a complexidade e o modus operandi dos principais agentes envolvidos na judicialização do setor aéreo brasileiro.


“98,5% das ações contra companhias aéreas no mundo foram ajuizadas no Brasil. Esta não é uma consequência natural de problemas operacionais, mas sim o resultado de um esquema sofisticado que envolve diversos atores, desde advogados até empresas de tecnologia e influenciadores digitais. Precisamos de uma abordagem integrada para enfrentar essa questão, para garantir que o crescimento do setor aéreo brasileiro não seja comprometido por práticas predatórias e desproporcionais”

(Jurema Monteiro, então presidente da ABEAR, em setembro de 2024)

Por trás desse cenário, há indícios de uma estrutura que utiliza ferramentas de marketing digital para captar consumidores de forma irregular, além de envolver a compra de créditos judiciais e o comércio ilícito de vouchers de viagens. Entre as sugestões para enfrentar a avalanche de processos, a ABEAR destacou pontos como:

  • Melhorar a comunicação entre companhias e passageiros, destacando informações sobre direitos do passageiro e como proceder em caso de problemas
  • Fortalecer os canais de atendimento ao cliente para resolução rápida das reclamações
  • Informar os passageiros dos procedimentos corretos e seguros para reivindicar direitos, divulgando alternativas de mediação eficazes e menos onerosas, como o Consumidor.gov.br
  • Realizar acordos setoriais com Tribunais de Justiça e ações educativas com o Poder Judiciário
  • Harmonizar junto ao Poder Judiciário o entendimento sobre dano moral presumido
  • Alteração legislativa para fixar o entendimento de que o dano extrapatrimonial no transporte aéreo não é presumido
  • Alteração legislativa para prever o conceito da pretensão resistida, que consiste em incentivar soluções extrajudiciais
  • Revisão da Resolução 400 da ANAC para atualizar regulação 

A estimativa é que, no Brasil, as companhias aéreas estão gastando, anualmente, em torno de R$ 1 bilhão com custos judiciais. Entre outras causas porque, em média, elas pagam cerca de R$ 6.700 de indenização a cada pessoa que a Justiça entende ter sofrido alguma espécie de dano moral em virtude do serviço que a empresa prestou ou deixou de prestar.


A grande quantidade de ações contribui de forma expressiva para o alto valor dos bilhetes aéreos no Brasil.

“Entre condenações na justiça e indenizações a serem pagas, cerca de R$15 de cada passagem já são separados para depois pagar o custo lá na frente, só acontece no Brasil”, reclamou Jerome Cadier em entrevista.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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