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Luiz Fara Monteiro
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Choques entre aviões e pássaros colocam passageiros em risco e causam prejuízo de R$ 5 bi por ano

Aeroportos e especialistas buscam maneiras de contornar esse tipo de incidente, conhecido como 'bird strike' 

Luiz Fara Monteiro|Luiz Fara Monteiro

Pássaros e aviões: 'bird strike'
Pássaros e aviões: 'bird strike'

O enorme Airbus A330-300 da Swiss Airlines, com capacidade para 236 passageiros, que partiu da pista 32 de Zurique, na Suíça rumo a Chicago, nos Estados Unidos, na última sexta-feira (23), não foi longe. Assim que ganhou altitude, o comandante precisou interromper a subida. Um ave tinha acabado de ser sugada pelo motor localizado do lado direito da aeronave, um modelo Trent 772. O voo LX-6 da Swiss teve que queimar boa parte do caríssimo combustível de aviação por cerca de duas horas até alcançar o peso mínimo recomendado para um pouso seguro e retornar ao aeroporto.

Mas não precisamos ir tão longe para entendermos os prejuízos e inconvenientes causados por um choque entre aviões e pássaros - eventos conhecidos como "bird strike". Aqui no Brasil, na última segunda-feira (26), o voo G3 1433 da GOL —que decolava de Goiânia com destino a Congonhas, em São Paulo — retornou ao aeroporto Santa Genoveva após se chocar com uma ave. Nove integrantes da equipe do cantor Roberto Carlos precisaram esperar um novo voo para chegar ao destino e experimentaram atrasos na agenda. 

A colisão com pássaros, até o momento, está entre as ameaças mais potentes para a aviação em todo o mundo. Quem não lembra do voo da US Airways do Comandante Sully, que teve de pousar no rio Hudson, em Nova Iorque, depois que gansos se chocaram com o Airbus A320-214 em 15 de janeiro de 2009?

Uma pesquisa realizada pela Organização da Aviação Civil Internacional - ICAO - incluindo dados de 91 países, descobriu que as companhias aéreas enfrentam uma média de 34 colisões com pássaros por dia em todo o planeta. O dano se traduzido em dinheiro, chega a mais de US$ 1 bilhão anualmente, cerca de R$ 4,8 bi. Só o órgão Federal de Aviação dos Estados Unidos (Federal Aviation Administration - FAA) recebe em média mais de 10.000 relatórios de colisões com aves e animais selvagens a cada ano. Em 2012 foram 10.343, ou seja, pelo menos 28 incidentes por dia.

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No Brasil, de acordo com dados do painel SIPAER, da Aeronaútica, foram registrados 38 casos de colisões com aves em 2022. Esse ano, até agora, foram 18 incidentes. São Paulo é um dos campeões nesse tipo de ocorrências: foram seis no ano passado. Provavelmente o alto índice se deve ao altíssimo tráfego de aviões no Estado. 

Os casos são tão comuns que os fabricantes implementaram modificações em seus projetos para reforçar a segurança operacional dos aviões durante um evento de choque com pássaros. 

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Resultado do choque com um pássaro: danos á fauna e ás companhias aéreas
Resultado do choque com um pássaro: danos á fauna e ás companhias aéreas

A maioria dos motores modernos deve ser capaz de engolir pássaros que pesam cerca de 1,8 quilo enquanto operam em potência máxima. Eles são obrigados a fazê-lo dentro da velocidade inicial de subida sem incendiar ou impossibilitar o desligamento do motor. Além disso, também é necessário operar com pelo menos 50% de energia por até 14 minutos após o choque. Isso significa que, mesmo que ambos os motores sejam atingidos por pássaros grandes, a aeronave poderá ser operada com uma potência combinada de pelo menos um motor, o que seria mais do que suficiente para pousar em um aeroporto em segurança. Traduzindo: dificilmente um evento de "bird strike" causará acidente aeronáutico significativo.

À medida em que esses incidentes atingem níveis recordes, os aeroportos têm um papel significativo na prevenção e experimentam diversas formas para combatê-los. Em Londres, autoridades de Heathrow investem em pesquisas para entender quais tipos de pássaros são nativos da área e como eles respondem a diferentes tipos de ações preventivas. O terminal usa certos métodos para gerenciar o habitat: mantém a grama do aeródromo sempre baixa para evitar que os pássaros se refugiem ali. Os funcionários - entre eles biólogos - também tomam iniciativas para gerenciar a biodiversidade nas áreas circundantes para garantir que a vida natural seja bem mantida.

Alguns aeroportos também emitem sons específicos por meio de alto-falantes, na tentativa de afugentar as aves. Usos de espantalhos também são comuns. Outros fatores dentro da cadeia alimentar devem ser pensados, como sistemas de controle de populações de insetos. Os órgãos de aviação trabalham em estreita colaboração com as instituições de vida selvagem para incentivar os animais a residir em outro lugar.

Eliminar a vegetação pode remover uma fonte de alimento para as aves e as impede de se estabelecerem. Em Salt Lake City, pastagens foram substituídas por um tipo de asfalto. Gafanhotos, mosquitos e lagartas atraem roedores, que por sua vez atraem aves de rapina. Um aeroporto em Sandusky, Ohio, experimentou diferentes tipos de grama, para identificar qual mistura é menos atraente para os gansos do Canadá.

A tecnologia nos aviões também são cada vez mais exploradas para evitar choques com pássaros. Um projeto estuda formas de manipular as características das luzes das aeronaves variando as taxas de pulso e comprimentos de onda no espectro eletromagnético e sintonizar essas mudanças para espécies específicas de pássaros. As luzes forneceriam um aviso prévio para que os pássaros pudessem detectar e evitar a aeronave. Algumas dessas mudanças na luz podem ser imperceptíveis para os humanos. Evidências coletadas de pássaros mortos em aeroportos, no entanto, sugerem que eles estavam tentando escapar dos aviões quando foram atingidos.

Na Holanda, a força aérea usa um radar de detecção de pássaros que pode eventualmente poderá ser adotado por aeronaves civis.

"Sabemos desde a Segunda Guerra Mundial que o radar pode ver pássaros, quando eles estavam atravessando o Canal da Mancha e descobriram que eram pássaros e não bombardeiros alemães", diz Michael Begier, coordenador nacional do programa de perigos da vida selvagem do aeroporto no Departamento de Agricultura dos EUA, em entrevista à BBC.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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