Desmuniciar arma em balcão de aeroporto é irregular, mas não raro
Transporte de armas a bordo requer apresentação do viajante à Polícia Federal. Funcionários de terminal ouvidos pelo Blog reclamam de exposição.
Luiz Fara Monteiro|Do R7

O incidente ocorrido no Aeroporto Internacional de Brasília nesta segunda-feira (25), quando a arma manuseada pelo ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, disparou em pleno balcão de atendimento da companhia aérea, pode voltar a acontecer se autoridades do setor não tomarem uma providência.
O Blog conversou separadamente com 5 funcionários de algumas companhias que operam no terminal e todos foram unânimes em afirmar que a violação das regras de desmuniciar armas são desrespeitadas por uma quantidade considerável de passageiros.
"Em apenas um dia eu atendi 6 casos de Alpha Fox no balcão", disse ao Blog uma funcionária de companhia aérea.
"Alpha Fox" é o termo retirado do alfabeto fonético utilizado pelos funcionários de companhias para se referirem a arma de fogo.
O Blog não divulgará os nomes dos funcionários entrevistados pois os mesmos não querem se expor.
"Nós estamos vulneráveis todos os dias", diz uma atendente de checkin.
O procedimento padrão é que o viajante portador de arma de fogo se dirija diretamente à dependência da Polícia Federal para apresentar a documentação e autorizações necessárias e, somente no local, onde existem caixas de areia, retire a munição.
"Se houver disparo, o projétil para na areia e ninguém se machuca", explica um comandante de linhas aérea.
O procedimento nunca deve ser feito no balcão das companhias, exatamente para evitar incidentes como o que ocorreu com o ex-ministro Milton Ribeiro, que manuseou a arma dentro de uma pasta no balcão e por falta de espaço adequado, acabou efetuando o disparo, cujos estilhaços atingiram uma funcionária chamada Giovana, no balcão da Gol Linhas Aéreas.
Em nota, a Gol Linhas Aérea informou que "a funcionária foi atingida por estilhaços, mas sem nenhum ferimento grave. Ela está bem e recebendo suporte da GOL"
Trabalhadores que operam no aeroporto de Brasília - ouvidos pelo Blog - reclamam que os casos de passageiros que desmuniciam armas de maneira incorreta no balcão aumentaram consideravelmente.
"Todo mundo que tem porte [de arma] sabe disso. Desmuniciar arma em balcão é um absurdo, é de um primitivismo tremendo", se revolta um comandante de companhia aérea.
O advogado de Milton Ribeiro informou que o ex-ministro tem porte de arma. De acordo com o ex-titular do MEC, ao abrir a pasta de documentos, pegou a arma pata seraprá-la do carregador dentro da pasta, momento em que o disparo aconteceu.
Somente agentes de segurança em serviço e pessoas com prerrogativa podem embarcar armadas. Nos outros casos, como o do ex-ministro, a arma é transportada em um cofre dentro do porão de cargas da aeronave.
"Hoje muitos desses passageiros não querem perder tempo e vêm direto ao balcão da companhia", reclama outra funcionária que trabalha no aeroporto.
Até mesmo quem deveria operar armamentos com segurança descumpre a regra.
"Teve uma delegada que foi desmuniciar a arma aqui no balcão e houve um disparo que atingiu a esteira de bagagens", conta uma outra fonte que trabalha no aeroporto de Brasília.
Os formulários para preenchimento de autorizações de transporte de arma de fogo a bordo estão disponíveis online justamente para facilitar a rotina de quem precisa transportar a arma.
"Talvez depois desse incidente pode ser que a ANAC (Agência Nacional da Aviação Civil) tome medidas para endurer a fiscalização nos aeroportos", diz um passageiro que estava no aeroporto de Brasília no momento do incidente.
