‘Haverá aumento de preços’, diz economista sobre fusão entre Azul e Gol
José Roberto Afonso afirma em entrevista ao ‘Estadão’ que duopólio irá aumentar a concentração no setor mesmo com atuação do CADE

Com passagem pelo BNDES e experiência em operações que envolveram A Varig e e Embraer, o economista José Roberto Afonso criticou a fusão entre a Azul e a Gol, prevista para ser concretizada em 2025. Ao jornal Estado de São Paulo, Afonso afirmou que mesmo o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) atue para mitigar a formação de um duopólio, haverá aumento generalizado de preços.
Um dos pais da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que completa 25 anos em maio deste ano, o economista é professor do IDP e vice-presidente do Fórum de Integração Brasil Europa (Fibe). Ele chama atenção para a concentração de 60% do mercado que a parceria irá render para as duas companhias. “Gol e Azul vão controlar [por exemplo] 90% do movimento do aeroporto de Recife.
O economista, que cita operações bem sucedidas de recuperação financeira sem a necessidade de fusão, como Latam, jetBlue e Air Europa, criticou o papel do governo no processo.
“O governo não tem que ter preferência sobre esse ou aquele dono. O que o governo precisa é que haja mais investidores e mais aviões para que, assim, os preços caiam e mais pessoas possam viajar”.
Em reunião com representantes da Azul e do Grupo Abra, que controla a Gol e a colombiana Avianca, nesta quinta-feira (23), o ministro de Portos e Aeroportos Silvio Costa Filho solicitou esclarecimentos sobre as consequências que a fusão entre Gol e Azul trará ao mercado, em termos de manutenção de empregos, oferta de rotas e reflexos nas tarifas.
Silvio Costa, que em dezembro de 2023 convocou as companhias aéreas e as fez prometerem em coletiva de imprensa que as passagens poderiam baixar em 2024, tem repetido que não acredita em aumento das passagens com a fusão. O Grupo Abra e a Azul negociam possíveis sinergias de receitas, o que pode significar, no entanto, aumento de tarifa. Até o momento, nenhum dos atores envolvidos bateram o martelo sobre eventual aumento ou manutenção no preço das passagens pós união entre Azul e Gol.
A Gol deve encerrar nos próximos meses o processo judicial de recuperação que enfrenta nos Estados Unidos. O Chamado “Chapter 11″ prioriza o funcionamento das operações de empresas em dificuldade financeira, enquanto as mesmas renegociam dívidas com os credores. A percepção de analistas é que a companhia sairá fortalecida após o processo. Grupos como o IAG, Lufthansa Group e companhias como American e United Airlines estudam um aporte na Gol, de olho na expansão de rotas.
Também em tentativa de uma reestruturação financeira, a Azul anunciou recentemente a troca de quase a totalidade do valor principal de títulos de dívida emitidos pela aérea por novas obrigações. Ao contrário da Gol, que utiliza apenas um modelo de aeronave, a Azul enfrenta desafios para manter a totalidade de sua frota diversificada em operação, uma vez que o mercado registra demora para reposição de peças e motores, deixando parte dos aviões em solo. A azul opera modelos tanto da Airbus e Embraer, quanto da Boeing. Enquanto a Gol utiliza apenas as variações do modelo 737, da fabricante americana. Frota diversificada não é problemas quando a companhia possui saúde financeira pujante. No caso da Azul, pesa nos custos de manutenção.
A falta de componentes para o estoque de peças e de aeronaves novas é uma dificuldade compartilhada pela aviação global, originária no período da pandemia. No Brasil a situação se agravou ainda mais com a alta do dólar, além das enchentes no Rio grande do Sul, no ano passado. Todas as companhias domésticas perderam receitas consideráveis com a interrupção por meses dos voos para Porto Alegre, uma das rotas mais rentáveis para o setor.
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