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Luiz Fara Monteiro

'Precisamos reconhecer os avanços', diz empresário que perdeu a filha em acidente da TAM

Blog publica artigo exclusivo de Christophe Haddad, vice-presidente da Abrapavaa, sobre relação de familiares com aéreas após eventos traumáticos. Acidente do TAM 3054 completa 15 anos neste domingo (17)

Luiz Fara Monteiro|Do R7

Christophe Haddad, vice-presidente da Abrapavaa
Christophe Haddad, vice-presidente da Abrapavaa

Perder um parente em acidente de avião traz uma dor enorme a qualquer ser humano. E, quando a perda atinge a filha adolescente, o tamanho da ferida certamente é incalculável.

O empresário Christophe Alfred Haddad, de 56 anos, passou por essa experiência.

Na fim da tarde de 17 de julho de 2007, o empresário foi surpreendido pelo plantão da TV que mostrou uma cena impactante: um Airbus A320 da TAM não conseguiu frear na pista de Congonhas e se chocou com um prédio já na área urbana.

A bordo da aeronave estava Rebeca, a filha de 14 anos que viajava com uma amiga para passar as férias em São Paulo. As 189 pessoas a bordo e outras 12 que se encontravam no prédio morreram. Começava então a tragédia do voo TAM 3054. 


Não é difícil imaginar quão traumático foi o evento para o empresário e sua família.

Chris se apegou ao filho mais novo, Samuel, para encontrar forças e lidar com a perda da filha. E precisou de apoio e resiliência para tratar de questões delicadas, como uma longa espera pelo reconhecimento do corpo de Rebeca para realizar o sepultamento. Tudo isso numa época em que as companhias aéreas não estavam preparadas, segundo o empresário, para prestar uma assistência plena aos famiiares.


"Cada vez mais as empresas sabem da necessidade e importância que isso seja feito para ajudar os parentes de vítimas a voltar a viver", disse ao blog.

A maioria das pessoas que perderam um ente em acidente aéreo provavelmente ia querer distância de questões aeronáuticas ou relacionadas a futuros acidentes. Foi a perda da filha, no entanto, que fez Chris usar sua experiência para colaborar com outros parentes de vítimas de acidente aeronáutico. 


O empresário é vice-presidente da Associação Brasileira de Parentes e Amigos de Vítimas de Acidentes Aéreos. Ao lado da presidente, Sandra Assali, que também perdeu uma pessoa próxima em outro acidente da TAM, no voo 402 em 31 de outubro de 1996, Chris tem atuado em nome da Abrapavaa para cobrar e forçar mudanças na relação entre as intituições, órgãos e companhias aéreas envolvidas em eventos traumáticos. 

Uma das cobranças envolve "treinar pessoas para responder a exigências muito mais impactantes que as da rotina diária das operações das companhias", como ele destaca no artigo produzido especial e exclusivamente para o Blog quando o acidente que vitimou sua filha completa 15 anos.

É o que você vai ler a seguir:

O ano de 2007 já tão longínquo e duramente marcado pela tragédia do voo TAM 3054 que cumpriu a rota vespertina entre Porto Alegre e São Paulo-Congonhas, e que ainda trazia ao longo de seus primeiros meses, resquícios muito vivos da tragédia do voo GOL 1907, nos mostrava uma realidade da aviação à qual felizmente pouco estamos acostumados.

A perda de tantas vidas de pessoas que simplesmente seguiam sua rotina em viagens pelo país nos fez acordar para esta realidade.

Realidade sim, porque infelizmente não se pode considerar a aviação comercial sem essa variável, que por mais dura e cruel que possa ser, mesmo que em percentuais muito baixos, é real e precisa ser tratada com seriedade.

Quando algo acaba mal, mas muito mal mesmo, como em um acidente aéreo, a resposta precisa ser dada à altura para toda uma coletividade afetada em luto profundo e surpreendente.

É isso que a aviação moderna em nível mundial tratou de amadurecer e encarar essa resposta e principalmente seu preparo como uma atividade quase que curricular dentro das empresas aéreas. Treinar pessoas para responder a exigências muito mais impactantes que as da rotina diária das operações das companhias. Treinar para amparar e responder a necessidades que um familiar passa a enfrentar sob o choque da notícia que seu ente querido estava a bordo de uma aeronave que se acidentou.

Como pai da Rebeca, minha filha de 14 anos em 2007, que viajava com uma coleguinha para passar férias de julho em São Paulo e acabou vitimada pela tragédia do voo 3054, acompanhei e sigo acompanhando a evolução desse árduo trabalho de resposta à emergência e assistência familiar que as companhias aéreas ao redor do mundo estão seriamente mantendo em constante treinamento e aprimoramento.

Além das companhias aéreas, operadores de aeroportos e agências de aviação civil entraram ou começam a entender a importância de entrar no jogo para completar esse círculo de atendimento imediato, em que o conjunto do sistema assegura a qualidade dessa resposta.

Como pai da Rebeca, chego a este dia 17 de julho de 2022 ainda ferido pela dor de perder minha menina tão doce de forma tão dura, choro ainda a dor da ausência e da saudade que nada poderá curar apesar do passar dos anos, porém ver e acompanhar de perto que há sim uma conscientização dos operadores do setor de que o tema acidente aéreo precisa ser trabalhado além da prevenção, segurança de voo e zelo para que o acidente não ocorra, preparando suas equipes para o caso do acidente acontecer, é algo que me traz o alento de saber que, quando tudo parece desabar com uma notícia tão terrível como o desaparecimento de uma filha, haverá alguém preparado para lidar com a situação e amparar quem tanto precisa naquele momento de dor.

Dor que eu senti em 2007 quando esse amparo foi fundamental para que eu pudesse fazer a transição necessária e retornar a ter uma vida “normal”.

Como pai da Rebeca, como aeronauta que fui voando na saudosa Vasp na virada do século e como cidadão atuante como vice-presidente da Abrapavaa (Associação Brasileira de Parentes e Amigos de Vítimas de Acidentes Aéreos), entendo que precisamos sim reconhecer os avanços do setor no que tange a este tema tão delicado mas real. Reconhecer que a aviação mudou muito com altas tecnologias embarcadas mas que também evoluiu para se tornar mais humana.

Nada apagará as dores de milhares de famílias enlutadas ao redor do mundo por causa de um acidente aéreo, mas agir e preparar para que a aviação avance cada vez mais para manter-se humana quando é mais preciso faz e fará toda a diferença.

Christophe Alfred Haddad, 56, é empresário e vice-presidente da Abrapavaa.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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