Presidente da Air France critica governo francês por aumento de imposto criado por Chirac para iniciativa de Lula
Benjamin Smith classificou proposta como ‘irresponsável’. Taxa foi criada em 2005 por Jacques Chirac para apoiar luta contra a pobreza e o HIV

Irresponsável.
Assim, o CEO da Air France, Benjamin Smith, classificou a intenção do governo francês de envolver a companhia aérea na restauração das finanças públicas, aumentando a taxa de solidariedade sobre passagens aéreas.
A declaração foi dada em entrevista ao Le Parisien, neste domingo (19). Conhecido pelo estilo discreto e avesso `a entrevistas, Smith manifestou indignação com o possível aumento do imposto sobre passagens aéreas planejadas pelo governo, que estuda maneiras de limitar o déficit orçamentário.
Smith criticou ainda o que chamou de favorecimento da legislação às aéreas estrangeiras.
“Durante vinte anos perdemos de 1 a 2% da quota de mercado por ano em benefício de empresas estrangeiras. O risco é transferir o valor que o nosso tráfego gera para outros países”, afirmou, referindo-se à taxa de acesso a França.
A TSBA (Taxe Sur les Billets d’Avion) foi criada na França originalmente em 2005 por Jacques Chirac para financiar a luta contra a AIDS, dentro de um conjunto de medidas para amenizar a fome e pobreza no mundo, uma proposta lançada pelo presidente Lula, que logo ganhou apoio do então presidente Chirac e de outros líderes mundiais.

Smith classificou a iniciativa do governo francês - de aumentar a taxa - como irresponsável. A ideia foi implementada naquele ano na França e depois em outros 14 países. O valor era de cerca de US$ 1 por bilhete de classe econômica. “Essa decisão irresponsável [de aumentar a taxa] tornaria a França o país onde o transporte aéreo é mais tributado na Europa”.
O CEO lembrou que o governo já havia introduzido um novo imposto ao setor em 2024, em referência ao novo imposto sobre infraestruturas, repassado pelos aeroportos às aéreas.
“Caso se confirme um aumento do imposto, o que certamente eu não desejo, pedimos que seja pelo menos direcionado para a descarbonização do setor da aviação”, apelou.
O executivo calculou as implicações financeiras que atingiram o setor.
“Com o que foi votado no Senado no governo anterior, foram até 130 milhões de euros de prejuízos por ano. O Estado sabe disso, mas considera fácil taxar as viagens aéreas, porque somos vistos como transporte de ricos. Isso é obviamente falso, pois 80% dos franceses já pegaram um avião, e isso é perigoso para a economia do país. A Air France é a maior empregadora privada da região parisiense, com 40.000 funcionários. Representamos 1,9% do PIB do país. Mas, durante vinte anos, perdemos de 1 a 2% de participação de mercado por ano para empresas estrangeiras. O risco é mover o valor que nosso tráfego gera para outros países”, afirmou Smith, que fez uma comparação com seus concorrentes
“Fizemos muitos esforços para transformar a Air France nos últimos seis anos. A margem operacional da Air France em 2019 foi de cerca de 1%. Em comparação, a KLM e a Lufthansa estavam em torno de 7%, a Ryanair em mais de 13% e a British Airways em quase 15%. Mesmo com nossos resultados recordes no ano passado, e uma margem que se aproximou de 6%, estamos longe de nossos concorrentes, com um nível de endividamento ainda extremamente alto. Somos muito frágeis”.
O CEO da Air France citou reflexos do eventual aumento de impostos para a empresa.
“Seria um fardo adicional. Isso significaria menos clientes, menos crescimento e, portanto, menos contratações. Uma atividade que poderia se movimentar: metade do nosso tráfego é de conexão de passageiros. Eles podem se conectar facilmente em Munique, Frankfurt ou Londres. Sem esses passageiros, muitas linhas como Paris-Seattle ou Paris-Santiago não seriam mais lucrativas para nós. Não conseguiríamos manter nossa posição no mercado. Em 2004, a Air France-KLM era o maior grupo aéreo do mundo em termos de número de passageiros; hoje, não estamos mais nem entre os 5 primeiros”.
“Não estamos pedindo esmolas, apenas igualdade de condições”.
Para Benjamin Smith, o estado é muito gentil com seus concorrentes.
Veja o acordo de céus abertos entre a União Europeia e o Catar: demos acesso total ao nosso mercado à Qatar Airways, que pode operar quantos voos quiser na França e na Europa. Mas para nós, não há mercado lá. Não temos voos para Doha. Solicitamos a revogação deste acordo. O estado também foi ingênuo com a Ryanair. Ele não entende que está apoiando uma empresa que não cria valor na França e que não deve ter nem 100 funcionários aqui. Em Bordeaux, eles receberam subsídios públicos para se estabelecer e, assim que tiveram aumentos nos preços, eles foram embora.
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