As cenas da multidão que invadiu o aeroporto de Cabul desesperada para deixar o país após a retomada de seu controle pelo Talibã em 16 de agosto último ainda não foram esquecidas. Dois meses depois do pesadelo, em que se viu até passageiro cair de um C-17A da Força Aérea Americana após a decolagem, a situação do transporte aéreo no Afeganistão ainda está longe de ser normalizada. Nesta quinta-feira (14) a Pakistan International Airlines (PIA) anunciou a suspensão das operações no país vizinho. A medida extrema foi tomada depois que o governo do Talibã ordenou que a PIA, a única companhia que operava regularmente na capital afegã, reduzisse o preço das passagens. "Nossos voos frequentemente enfrentavam atrasos indevidos por causa da atitude pouco profissional das autoridades da aviação de Cabul", reclamou Abdullah Hafeez Khan, porta-voz da PIA, à agência de notícias AFP. E acrescentou que as operações da PIA permanecerão suspensas em Cabul até que a situação se torne propícia. Uma fonte da companhia aérea informou que homens a serviço do Talibã chegaram a maltratar fisicamente um funcionário da PIA. As passagens aéreas para a capital do Paquistão, Islamabad, estão sendo vendidas por até US$ 2.500 na PIA, de acordo com agentes de viagem em Cabul, em comparação com os US$ 120, US$ 150 anteriores. A PIA, que opera voos fretados para Cabul em vez de serviços comerciais regulares, disse que manteve os voos por motivos humanitários e que pagou mais de US$ 400.000 como prêmio de seguro, “o que só seria possível se 300 passageiros estivessem disponíveis”, explicou o porta-voz Hafeez Khan. Abdullah, de 26 anos, funcionário de uma empresa farmacêutica, afirmou que os voos da PIA têm sido "uma janela minúscula" para os afegãos que tentam deixar o país. "Precisamos muito desses voos. As fronteiras estão fechadas; agora, se o aeroporto for fechado, é como se estivéssemos todos em uma gaiola", disse ele à agência de notícias Reuters. A companhia reforça as denúncias sobre ameaças e intimidação. De acordo com seus funcionários, desde que o novo governo do Talibã foi formado, sua equipe em Cabul enfrentou mudanças de última hora nos regulamentos e permissões de voo e o comportamento intimidador dos comandantes do Talibã. A agência disse que seu representante no país foi mantido sob a mira de uma arma por horas e só foi libertado depois que a embaixada do Paquistão em Cabul interveio. A rede Al Jazeera informa que, com a crescente crise econômica aumentando as preocupações sobre o futuro do Afeganistão sob o Talibã, tem havido uma forte demanda por voos, agravada pelos repetidos problemas nas travessias da fronteira terrestre para o Paquistão. O principal escritório de passaportes em Cabul tem sido cercado por pessoas que tentam obter documentos de viagem desde sua reabertura, neste mês.