A importância do meu primeiro vasinho
Como uma planta ou flor pode mudar a relação entre pais e filhos
Toda quarta-feira eu comprava rosas para levar para as minhas professoras. Mamãe também adora cultivar samambaias, orquídeas e flor de maio.
Então, o gosto vem do berço. E eu levei isso pra minha casa e faço com o meu filho. Ele me pediu uma vez para comprar uma muda de primavera. Depois, ajudou a plantar as mudas de pingo de ouro. Até chegar no ipê e, recentemente, uma muda de quaresmeira.
Durante a 29ª Veiling Market eu conheci a Thamara D’ Angieri, gerente de marketing de produto da Cooperativa Veiling Holambra. O filho gosta de aromáticas, isso que é muito legal.
“A gente tem uma propriedade rural e ele põe a mão na massa já. Vê galinha, vê onde tem horta, ele se interessa”, disse ela. “A minha menina é mais da parte da cor e da flor,” complementou.
Mundo Agro: O meu primeiro vasinho. Como surgiu a ideia de fazer esse conceito?
Thamara D’ Angieri: Acho que, primeiro, o instinto de mãe. Nós que somos mães, mulheres, a gente olha muito hoje nossos filhos muito viciados em tecnologia. E, sendo uma profissional do setor, eu sinto muito essa ausência da natureza na vida das crianças. E a cooperativa, ela investe muito em viagens técnicas para nós executivos. Durante uma viagem técnica em 2019, para uma feira nos Estados Unidos, na Califórnia, eu vi um projeto parecido, My First Little Vase. Só que o mercado na Califórnia é flor de corte. Então, a criança comprava um buquê e ela ganhava junto um vasnho de cerâmica com uma caneta para ela escrever no vasinho. E aquilo me encantou.
Mundo Agro: Hoje não são todas as crianças que têm oportunidade desse contato com a natureza, estar no meio do mato, mexer na terra... E esse projeto então aproxima, não?
Thamara D’ Angieri: Eu falei, a gente está perdendo um time muito importante na vida das nossas crianças. De é que faz elas se relacionarem com a natureza, pôr a mão na terra, aprender o cultivar. Porque isso ela vai levar para a vida. E o gerente daquele projeto nos Estados Unidos me encantou mostrando a pesquisa. Eles fizeram um estudo junto com um colégio na Califórnia. Com aquelas crianças que estavam trabalhando com o produto, colocando a mão na massa, abrindo o saquinho, cortando o pé da flor, a haste da flor, elas começaram a ter mais foco na sala de aula, a ficar mais calmas e menos ansiosas. As crianças voltaram a ter relacionamento, até mesmo dentro do ambiente da casa, da própria casa.
Mundo Agro: A flor, planta, aproxima as pessoas, né ? O que mais essa pesquisa americana revelou?
Thamara D’ Angieri: É muito emocionante, porque ele falava assim, Thamara, a maior reclamação que a gente tinha é que os pais não olhavam mais para o olho dos filhos. E quando você faz uma atividade em conjunto, eles têm essa troca. As crianças voltaram a usar mais as mãos, a sentir mais o cheiro, a voltar a se relacionar com o todo que está ao redor dela. Aquilo me marcou muito, eu voltei para o Brasil e a gente começou a entender como a gente podia introduzir isso.
Mundo Agro: Essa ideia de aproximar pais e filhos é sensacional.
Thamara D’ Angieri: Então a nossa ideia era essa, levar para as crianças algo que tenha propósito. Que é o relacionamento familiar, a convivência de novo com a natureza, que a gente vê que está se perdendo. E principalmente a importância do semear, cuidar e colher. Colher, exatamente. Porque, querendo ou não, com um vasinho de flor você transfere a questão do cuidado, da responsabilidade. E de ver florescer, ver que quando não cuida corretamente não dá certo, morre, saber lidar com essas emoções.
Mundo Agro: Então vocês deram o primeiro passo com essa proposta. Qual o resultado desse trabalho?
Thamara D’ Angieri: O primeiro protótipo deu super certo e foi apaixonante. Alguns produtores acreditaram na ideia e a gente colocou no mercado tem um ano. Ele é um desafio. Acho que é importante a gente mencionar isso porque o mercado hoje busca preço.
Mundo Agro: Desafio por causa do preço? Custa caro?
Thamara D’ Angieri: Custa em torno de R$ 10 a R$ 12. Então a gente agora está revitalizando ele, a gente está fazendo a embalagem mais simples. Então ela vai ter também o mesmo conceito, mas ela virá mais barata, por causa da embalagem, que é de papel.
Mundo Agro: Mas não é só a flor que a criança recebe para aprender e brincar. Vocês têm uma outra proposta com um QRcode. Me fale mais sobre isso.
Thamara D’ Angieri: QR Code para saber como cuidar. A gente ensina a criança a cuidar, tem desenhos para colorir, ela pode imprimir, que são dois personagens que nós criamos, que é o Tome, a Melina e a Duda... e fazer com que a criança se identifique de novo com as coisas de criança.
Mundo Agro: E o mercado? Aceitou esse conceito? Dá bons resultados?
Thamara D’ Angieri: Para essa linha a gente quer pelo menos ativar em torno de 30 lojas. A gente não está colocando em valor, mas sim em quantidade de lojas ativadas com o projeto. Primeiro porque quando o cliente olha, ele fala, mas o dia das crianças é em outubro. Não tem data, ele não é uma sazonalidade, ele é um conceito, ele tem propósito. Então a gente precisa fazer com que o cliente acredite nisso.
Mundo Agro: Qual é o desafio de vocês neste momento?
Thamara D’ Angieri: Para o nosso setor, eu vejo que hoje ainda é insumos. Preço para o produtor produzir bem e investir cada vez mais dentro do sítio para trazer qualidade com preço também para a ponta. Porque depois da pandemia a gente viu um aumento muito grande no valor do insumos, principalmente do que vinha da Rússia para o Brasil. Isso está se equalizando, mas a gente ainda sente que inflação, tudo ainda impacta na produção. Mas a gente ainda está num momento bom, porque por mais que falem que o produto é supérfluo, ele leva para dentro de casa uma sensação que as pessoas não têm com outras coisas. Então, às vezes a pessoa está sem dinheiro para ir para um restaurante, mas ela compra uma planta para mexer no jardim. E isso de alguma forma realiza ela dentro do lar.
Mundo Agro: Pra você, uma planta, flor é...
Thamara D’ Angieri: A pessoa mexer com terra, adubar o próprio produto, é uma terapia na vida dela.E quando ela recebe um amigo em casa, quando ela tem o cuidado de pôr uma flor na mesa, é o carinho que ela tem com a visita dela que está vindo para dentro de casa. Então eu falo que a gente tem um diamante nas nossas mãos. A flor é um diamante, porque ela é a ponte de muitas amizades, de relacionamentos e até mesmo do interno, da pessoa se encontrar com o que ela gosta no interno dela.