Consórcio impulsiona a modernização do agronegócio em 2025

Com a elevação dos juros e o restrições nas linhas de financiamento tradicionais, os consórcios se consolidam como uma das principais alternativas para aquisição de máquinas agrícolas no Brasil.

O setor registrou um crescimento de 63% em 2025 — um salto que reflete não apenas mudanças no cenário econômico, mas também uma transformação no perfil do produtor rural, que busca mais autonomia e previsibilidade em seus investimentos.

Nesta entrevista à Mundo Agro, Luís Toscano, vice-presidente de negócios da Embracon, explica por que o consórcio tem ganhado protagonismo no campo, quais seus diferenciais frente ao financiamento tradicional e como ele contribui para a modernização e expansão das propriedades rurais no Brasil.

Mundo Agro: Quais fatores explicam o crescimento de 63% nas vendas de consórcios para máquinas agrícolas em 2025?

Luís Toscano: O crescimento nas vendas de consórcios para máquinas agrícolas não é um evento isolado. Pelo contrário, ele reflete um cenário econômico que está transformando a forma como os produtores rurais investem. Com juros altos e menos opções de financiamento tradicional, o consórcio se tornou uma escolha inteligente e mais vantajosa financeiramente.

Essa alta se deve, principalmente, à ausência de juros. Essa é uma diferença crucial em relação aos financiamentos bancários, que ficaram caros e difíceis de conseguir. Sem juros, o produtor pode economizar muito, chegando a até 80% do valor total do bem, o que torna o investimento mais acessível. A flexibilidade é outro ponto importante, pois permite comprar máquinas novas ou usadas de vários tipos, e até mesmo ampliar instalações.

Outro grande benefício do consórcio é a chance de negociar o valor à vista. Isso pode gerar uma economia significativa na hora de comprar. Quando o produtor é sorteado ou dá um lance e é contemplado, ele recebe uma carta de crédito que funciona como dinheiro na mão. Com ela, é possível negociar preços e condições melhores, algo que não acontece no financiamento tradicional.

Mundo Agro: Como a retração nas linhas de crédito e os juros altos têm impactado a decisão dos produtores rurais?

Luís Toscano: Com o crédito mais caro, muitos produtores, especialmente os pequenos e médios, encontram dificuldades para conseguir financiamentos tradicionais. Esses financiamentos exigem garantias e têm custos elevados, podendo dobrar o valor final do equipamento. Essa situação desanima o investimento em novas tecnologias e a renovação da frota, prejudicando a competitividade e a produtividade a longo prazo.

Diante dessas dificuldades, os produtores buscam novas soluções, como o consórcio. Ele se apresenta como uma ferramenta estratégica e competitiva para o investimento agrícola, pois oferece uma opção sem juros e com custos mais controlados. Isso se alinha à necessidade de um planejamento financeiro mais rigoroso e permite a compra de bens de alto valor sem o peso do endividamento.

Mundo Agro: O consórcio é mais procurado por produtores de pequeno, médio ou grande porte?

Luís Toscano: O consórcio está se adaptando a diferentes escalas de operação, atendendo quem está começando, quem está em expansão e quem precisa renovar maquinário com equilíbrio financeiro. Vem atraindo perfis variados, mas observamos uma demanda forte nos produtores de médio porte e também entre grandes produtores que querem escalonar suas operações de forma sustentável. Os produtores menores, que tradicionalmente enfrentam maior dificuldade de acesso a crédito, começam a adotar o consórcio como uma porta de entrada segura ao mercado agrícola. Já os produtores de maior porte veem no consórcio uma estratégia viável para aquisição de máquinas caras sem comprometer todo o capital.

Mundo Agro: Quais são os principais benefícios do consórcio em comparação ao financiamento tradicional?

Luís Toscano: As principais vantagens do consórcio em relação ao financiamento tradicional são a economia e a flexibilidade. No consórcio, o cliente paga apenas a taxa de administração, o fundo de reserva e o seguro (se optar por ele). Isso pode gerar uma economia de até 80% no valor total do bem. Além disso, o consórcio não exige entrada, facilitando o acesso para quem não tem capital inicial, e oferece parcelas fixas e previsíveis, o que simplifica o planejamento financeiro.

Ao ser contemplado, o consorciado recebe uma carta de crédito que tem o poder de compra à vista, permitindo negociar descontos significativos. Essa carta de crédito também oferece grande flexibilidade, podendo ser usada para comprar bens novos ou seminovos, de diferentes marcas e modelos, e para diversas finalidades dentro da categoria.

Mundo Agro: De que forma o consórcio contribui para o planejamento financeiro do produtor rural?

Luís Toscano: O consórcio é uma ferramenta estratégica que melhora muito o planejamento financeiro do produtor rural. Ele torna a compra de bens de alto valor mais controlada e sustentável. A principal vantagem é a previsibilidade de custos: sem os juros, o produtor sabe exatamente quanto pagará em taxas de administração e fundo de reserva. Isso facilita demais a criação do orçamento e a gestão do dinheiro no dia a dia.

A economia a longo prazo, que vem justamente da ausência de juros, libera capital para que o produtor possa reinvestir na propriedade. Além disso, o poder de negociação que a carta de crédito oferece otimiza o investimento, permitindo a modernização da frota sem o peso de dívidas excessivas. É uma forma inteligente de crescer sem comprometer a saúde financeira do negócio.

Mundo Agro: Existe alguma flexibilidade no consórcio que permita ao produtor antecipar ou adiar a aquisição da máquina?

Luís Toscano: Sim, o consórcio oferece uma flexibilidade ao produtor rural, adaptando-se às suas estratégias e necessidades de negócio. Para antecipar a contemplação, o principal recurso são os lances: que podem ser feitos com recursos próprios ou por meio do lance embutido, utilizando parte da própria carta de crédito. Já para adiar, o produtor pode aguardar a contemplação por sorteio e, mesmo após ser contemplado, não é obrigado a utilizar imediatamente a carta de crédito.

Essa é uma outra vantagem da modalidade: o valor da carta contemplada fica aplicado em um fundo com rendimento diário até o momento de uso, permitindo que o produtor escolha o melhor cenário para realizar a compra, seja por uma condição de mercado mais favorável, uma promoção pontual ou uma necessidade estratégica da fazenda.

Além disso, a carta de crédito garante liberdade de escolha em relação ao bem, sem amarras a marcas ou modelos específicos, o que proporciona uma negociação mais vantajosa e personalizada.

Mundo Agro: O crescimento do consórcio influencia diretamente a modernização da frota agrícola no Brasil?

Sim. O consórcio tem se mostrado uma alternativa eficiente para facilitar o acesso dos produtores rurais a máquinas agrícolas mais modernas, especialmente diante do alto custo dos financiamentos tradicionais. Sem juros, com parcelas acessíveis e possibilidade de lances, o consórcio permite que o agricultor planeje a renovação da frota sem comprometer sua saúde financeira.

Essa modernização é essencial para aumentar a produtividade no campo, reduzir perdas e melhorar a eficiência operacional. Máquinas mais novas otimizam o uso de insumos, consomem menos combustível e incorporam tecnologias que ajudam o produtor a competir em um mercado cada vez mais exigente. Com isso, o consórcio se consolida como um motor de inovação e desenvolvimento para o agronegócio brasileiro.

Mundo Agro: Como os produtores estão usando os consórcios: para expansão, substituição de máquinas ou ambos?

Luís Toscano: Ambos. Muitos utilizam o consórcio para substituição de equipamentos antigos, justamente para não deixar o maquinário defasado, mas sem comprometer o capital com juros. Outros o encaram como estratégia de expansão, planejando aquisições futuras de tratores, colheitadeiras ou implementos, distribuindo os investimentos ao longo do tempo. Há ainda produtores que combinam as duas situações: contemplação parcial para substituição imediata e planejamento adicional para expansão com outra carta futura. O consórcio, nesse cenário, é uma ferramenta versátil adaptada ao ciclo de investimento do agronegócio moderno.

Além disso, o comportamento do produtor rural também se ajusta ao cenário econômico. Em períodos de juros altos, o consórcio é visto como alternativa inteligente de economia, ao permitir aquisições sem o peso dos encargos financeiros. Já em momentos de juros mais baixos, ele segue sendo utilizado como estratégia de planejamento futuro, garantindo previsibilidade de custos e flexibilidade de uso. Essa adaptabilidade faz com que o consórcio continue sendo uma solução robusta, estratégica e financeiramente eficiente, independentemente do contexto.

Mundo Agro: Quais são os desafios que ainda existem para a expansão dessa modalidade no setor agrícola?

Apesar do crescimento expressivo, um dos principais desafios para a expansão do consórcio no setor é a falta de conhecimento sobre a modalidade. Muitos produtores ainda desconhecem as vantagens e ainda acreditam que o consórcio é um processo burocrático ou demorado. Isso é agravado em regiões mais afastadas ou entre pequenos produtores, onde a cultura da aquisição imediata do bem ainda predomina. A falta de informação muitas vezes impede que esses consumidores considerem o consórcio como uma alternativa real para aquisição de bens de alto valor.

Outro obstáculo é a falta de planejamento financeiro. O consórcio exige planejamento e visão de médio a longo prazo, o que pode ser desafiador em um setor acostumado a soluções rápidas, mesmo que mais caras, como o financiamento. No entanto, à medida que a educação financeira avança e as vantagens se tornam mais conhecidas, esse cenário tende a evoluir. Iniciativas de conscientização, atendimento consultivo e digitalização da jornada do cliente são fundamentais para ampliar o acesso e mostrar que o consórcio é, sim, uma solução segura, econômica e eficiente para o produtor rural.

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