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Como o paisagismo transforma cidades e vidas

Denis Bessa, fundador do Estúdio MUSGO, revela como um verde acessível, sensível e sustentável está mudando o olhar sobre os espaços urbanos

Mundo Agro|Fabi GennariniOpens in new window

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RESUMO DA NOTÍCIA

  • Denis Bessa, fundador do Estúdio MUSGO, promove um paisagismo ecológico acessível e consciente.
  • Os projetos da MUSGO priorizam a escolha de espécies nativas e o respeito ao ciclo da natureza.
  • O paisagismo é visto como uma ferramenta para mitigar mudanças climáticas e melhorar a qualidade de vida urbana.
  • A pandemia trouxe uma nova valorização dos espaços verdes, que agora são considerados essenciais para o bem-estar.

Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Jardim das Descobertas, espaço do Estúdio Musgo, na CASACOR São Paulo 2025 Foto cedida: Estúdio MUSGO

Uma nova forma de fazer paisagismo — mais sensível, consciente e profundamente conectada ao tempo e à vida real. À frente dessa revolução verde está Denis Bessa, paisagista e fundador do Estúdio MUSGO, que transformou sua vivência como filho de jardineiro e florista em uma proposta única: democratizar o acesso ao paisagismo e mostrar que o verde não é luxo, mas uma necessidade.

Mundo Agro: O que diferencia o paisagismo ecológico do convencional na prática dos projetos da MUSGO?


Denis Bessa: Na MUSGO, o paisagismo ecológico vai além da estética — ele nasce do respeito ao ciclo da natureza. A escolha das espécies, os sistemas de irrigação, o manejo do solo e até os materiais das floreiras são pensados para ter o menor impacto ambiental possível. Enquanto o paisagismo convencional muitas vezes prioriza a imagem, o ecológico considera o tempo, o entorno e a regeneração.

Mundo Agro: Quais critérios você considera essenciais ao escolher espécies nativas para os projetos?


Denis Bessa: Adaptação climática, resistência à seca e relevância ecológica são os primeiros pontos. Mas também levo em conta o potencial ornamental, a história daquela planta no bioma local e sua capacidade de atrair fauna — como pássaros e polinizadores. A escolha precisa dialogar com o projeto arquitetônico e com quem vai habitar o jardim.

Denis Bessa, do Estúdio MUSGO Foto cedida: Estúdio MUSGO

Mundo Agro: Como você enxerga o papel do paisagismo na mitigação das mudanças climáticas nas cidades?


Denis Bessa: O paisagismo é uma ferramenta essencial. Árvores reduzem ilhas de calor, forrações ajudam na permeabilidade do solo, sistemas bem pensados contribuem para a retenção da água da chuva. Um jardim urbano bem desenhado é um ato político e climático: refresca, filtra, purifica e conecta.

Mundo Agro: A MUSGO cresceu mais de 160% em dois anos. A que você atribui esse salto tão expressivo?


Denis Bessa: Acredito que esse crescimento é resultado de uma soma entre consistência, sensibilidade estética e a coragem de propor uma nova forma de fazer paisagismo no Brasil.

Na MUSGO, criamos projetos para pequenos, médios e grandes espaços — sempre com olhar autoral, funcionalidade e muito cuidado com cada detalhe. A proposta é mostrar que o paisagismo não é algo distante, reservado apenas a grandes mansões ou condomínios de alto padrão. Hoje, um jardim bem pensado pode estar na varanda de um apartamento, no quintal de uma casa simples ou em um empreendimento corporativo. E isso vem mudando o olhar das pessoas.

Essa visão também vem da minha origem: sou filho de jardineiro e florista, cresci com os pés na terra. E sempre senti que o paisagismo precisava ser mais acessível, mais próximo da vida real. Durante muito tempo, só quem tinha muito dinheiro tinha acesso a um projeto paisagístico. Hoje, estamos desconstruindo isso — com mais diálogo, com educação e com soluções que cabem em diferentes realidades.

Também noto que as pessoas estão mais abertas a aprender: muitas ainda não sabem a diferença entre espécies nativas e exóticas, por exemplo, mas têm sede de entender. E essa consciência ecológica está crescendo. Cada vez mais, as pessoas percebem que a natureza não é só estética — ela melhora a saúde mental, a qualidade do ar, o dia a dia em casa ou no trabalho.

Acredito que a MUSGO tem crescido porque fala com verdade, entrega com propósito e planta um tipo de paisagismo que acolhe — não afasta.

Mundo Agro: Como você avalia a valorização dos imóveis com áreas verdes em São Paulo hoje?

Denis Bessa: É notável. Um jardim bem planejado deixou de ser um “plus” para se tornar um diferencial. Em São Paulo, onde o concreto domina, ter um pedaço de natureza privada representa bem-estar, saúde e qualidade de vida — isso se reflete diretamente no valor de mercado do imóvel.

Mundo Agro: A pandemia mudou o olhar das pessoas para os espaços abertos? Essa tendência continua?

Denis Bessa: Com certeza. A pandemia foi um divisor de águas. De repente, todo mundo foi obrigado a ficar em casa — e isso trouxe um novo olhar para o tempo, para o espaço e, principalmente, para o agora.

Antes, muita gente vivia no modo automático, sempre projetando o futuro. Mas naquele momento, tudo desacelerou. E aí veio a redescoberta: respirar ar puro, tocar a terra, cuidar de uma planta, sentar ao sol… coisas simples passaram a ter um valor imenso.

As pessoas começaram a entender que o verde também é cuidado — e isso se conecta diretamente com a tendência mais forte que vivemos hoje: o autocuidado. Não só físico, mas emocional, mental, sensorial. Jardins deixaram de ser apenas estéticos para se tornarem espaços de pausa, de equilíbrio, de conexão.

E essa mudança não foi passageira. Ela amadureceu. Hoje, muitos clientes nos procuram não apenas querendo “um jardim bonito”, mas um espaço que faça sentido na rotina, que traga leveza, que cure.

Acredito que o paisagismo, nesse contexto, ganhou um novo papel — e isso é muito potente.

Mundo Agro: Quais são as tendências mais fortes no paisagismo contemporâneo que você acredita que vieram para ficar?

Denis Bessa: A valorização das espécies nativas, o uso de floreiras sob medida para pequenos espaços, a integração entre arquitetura e vegetação, e a acessibilidade nos projetos. Vejo também um movimento forte de design afetivo — criar jardins que emocionam, que contam histórias e não apenas decoram.

Mundo Agro: Como foi a concepção do “Jardim das Descobertas” para a CASACOR 2025?

Denis Bessa: Para quem vem de onde eu venho, estar nessa mostra é o auge da carreira. Meus pais sempre trabalharam com jardinagem e flores, mas não tiveram acesso a estudo ou às oportunidades que eu tive. Quando viram meu nome ali, criando um jardim com propósito, se emocionaram — e eu também. Foi um momento muito forte pra mim, como profissional e como pessoa.

O “Jardim das Descobertas” nasceu desse desejo de devolver, de criar algo que fosse generoso e acessível. Ter um espaço inserido dentro do Parque da Água Branca, com acesso gratuito ao público, me motivou ainda mais. Quis aproveitar essa chance para apresentar um paisagismo que emociona, informa e acolhe.

Todas as espécies presentes no jardim foram levadas por mim, de forma pensada e cheia de significado. A maior parte é composta por espécies nativas, mas também incluí algumas exóticas que já existem no próprio parque — criando assim um diálogo com o entorno e com a história daquele lugar.

A ideia foi proporcionar uma experiência multissensorial, trabalhando com elementos como água, fogo, aroma, textura e movimento. Um jardim que fosse acessível a todos — inclusive pessoas com deficiência — e que convidasse à contemplação, à pausa, ao toque.

Mais do que uma vitrine, o jardim é um convite à reconexão. Um espaço para se perder, se inspirar e se reencontrar.

Mundo Agro: A reversibilidade é um dos pilares do projeto. Como ela funciona na prática?

Denis Bessa: Desde o início, pensamos o “Jardim das Descobertas” como um espaço 100% reversível, com o compromisso de que nada fosse desperdiçado após a mostra.

Todas as espécies utilizadas permaneceram em seus próprios potes de berçário — nenhuma foi plantada diretamente no solo. Isso facilita o transporte, a adaptação e garante que todas sejam reaproveitadas após o evento. Ao final da CASACOR, todas as plantas retornarão para o nosso viveiro, prontas para novos projetos.

As luminárias escolhidas foram pensadas em parceria com o fornecedor: ao término da mostra, elas serão recolhidas e levadas de volta para o processo de produção, onde serão derretidas e transformadas em novas luminárias, fechando um ciclo sustentável de uso.

O piso drenante da Lepri, que normalmente é utilizado de forma horizontal, foi aplicado verticalmente como cobogó. Após a desmontagem, ele será devolvido à fábrica, onde passará por higienização e reaproveitamento.

Para garantir acessibilidade em um terreno com 1,5 metro de declive, elevamos toda a base do jardim utilizando cerca de 3 mil sacos de terra ensacados — evitando qualquer tipo de concretagem. Após a mostra, esses sacos também serão levados para o viveiro e reutilizados.

Além disso, todos os móveis e elementos decorativos do espaço serão devolvidos aos parceiros — nada foi pensado como item descartável.

A reversibilidade aqui não foi apenas um conceito: ela foi executada na prática, com responsabilidade e planejamento. Criar um jardim bonito, sensorial e acessível sem deixar resíduos para trás foi uma das maiores conquistas desse projeto.

Mundo Agro: Como a curadoria de produtos (vasos, plantas e artigos) reflete o conceito da marca?

Denis Bessa: Cada item que entra em um projeto da MUSGO carrega intenção. Os vasos, por exemplo, são escolhidos ou desenvolvidos sob medida para valorizar o conjunto. As espécies não são só bonitas — elas têm propósito. E os artigos decorativos, quando presentes, servem para reforçar o caráter sensorial do jardim, nunca para disputar protagonismo com o verde.

Mundo Agro: Paisagismo pra você é? (em uma palavra)

Denis Bessa: Conexão.

Mundo Agro: O que não pode faltar numa casa ou apartamento?

Denis Bessa: Um canto de natureza — por menor que seja.

Um espaço onde as pessoas possam se reconectar com o tempo presente, regar suas espécies, observar o crescimento das plantas, sentir os cheiros, as texturas, e perceber a vida acontecendo ali, aos poucos.

Em São Paulo, uma cidade onde quase todo mundo está sempre correndo, atrasado ou sob pressão, ter um lugar onde você possa parar por um minuto, refletir sobre a vida, os anseios, se olhar e se enxergar com o verde ao redor... é revigorante.

Mais do que decorar, esse canto acolhe, nutre e transforma.

É ali que a gente respira com mais calma e encontra pequenos momentos de paz no meio do caos.

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