Exclusivo: “Nosso agro tem força e transforma vidas”

O Mundo Agro abre mais uma vez a porteira. Desta vez, quem entra aqui no blog para um artigo especial é Guilherme Piai, produtor rural, que deixa a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo para novos desafios.

A Piai, fica um agradecimento especial pela receptividade e atenção dedicadas ao blog durante sua gestão. Nosso objetivo é apresentar o mundo agro de um jeito diferente, mais próximo de quem vive e transforma o campo todos os dias.

Eu e São Paulo agradecemos pelo legado. Vambora, porque ainda temos muito a fazer pelo agro e pelo futuro do nosso país.

“Quando falamos da produção agropecuária de São Paulo, é comum pensarmos em recordes de produtividade, produção e exportação. De fato, o que o estado produz com apenas 3% da área total do país e com parte considerável desta fração preenchida pelas grandes metrópoles paulistas, é a prova de que somos a mais mecanizada e tecnificada potência agroalimentar do mundo, já que, mesmo com todas essas características, São Paulo fechou 2025 como um dos maiores exportadores do agro brasileiro, respondendo por 17% de todas as exportações do agronegócio nacional, colocando alimentos paulistas nas gôndolas de mercados em todo o mundo.

Entretanto, nestes mais de dois anos à frente da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo e após sucessivas visitas às propriedades da agricultura familiar, há um fator indissociável e essencial ao debate quando o assunto é a produção agrícola no interior paulista.

O impacto do agro está, antes de tudo, na vida de quem produz. Está na família que planta, colhe, processa e vende em um ciclo virtuoso de gerações. Está na coragem da mulher que assume as rédeas de uma pequena propriedade e transforma o negócio da família. Está no jovem que escolhe permanecer no campo porque enxerga ali um futuro possível e mais qualidade de vida.

Em São Paulo, decidimos fazer diferente. Em vez de programas que tentam abraçar o mundo, construímos uma política de Estado baseada em pilares que mudam a realidade de quem vive no campo. São eles, crédito com juros pagáveis, regularização fundiária, formalização e acesso a mercados. Nosso objetivo é garantir autonomia, que o produtor avance com independência e crie condições para que a sua força gere cada vez mais renda e prosperidade.

Começamos pelo essencial, que é a terra ter um dono. Entregar um título de propriedade não é apenas assinar um papel. É libertar uma família de décadas de insegurança jurídica e colocá-la no mapa do crédito e investimentos. Desde 2023, já entregamos 5.000 títulos de regularização fundiária no Estado de São Paulo. São agricultores que deixaram de ser ocupantes para se tornarem proprietários. Junto com a titulação, iniciamos uma ação inédita no país, com a construção de moradias populares dentro de assentamentos rurais. No estado, são 630 casas em implantação, resultado de uma parceria entre a Secretaria de Agricultura, a Fundação ITESP e a CDHU. Pela primeira vez, o produtor recebe a terra, a casa e a oportunidade de produzir.

Mas terra e moradia sozinhas não bastam. É preciso capacidade de produzir e vender. Em um cenário de juros altos no país, criamos um mecanismo para que o pequeno produtor possa investir em mecanização. Pelo programa Pró-Trator, São Paulo subsidia até metade da taxa Selic em financiamentos de tratores. Se a taxa é de 15%, o produtor paga 7,5%. A Secretaria cobre o restante. Desde 2023, 1.000 tratores foram financiados por meio dessa política. Para muitos agricultores familiares, foi o primeiro trator da vida, aquele que multiplicou produtividade, reduziu esforço e abriu novos horizontes.

O segundo eixo é o crédito. Criamos o FEAP Mulher, uma linha exclusiva para agricultoras, reconhecendo que cada vez mais mulheres estão liderando propriedades rurais. Em dois anos, 902 produtoras contrataram R$27 milhões em financiamentos. Quando o recurso chega na mão da mulher, ele vira investimento, eficiência e resultado. Mas não só isso, em todas as linhas do FEAP, fechamos 2025 com mais de R$800 milhões destinados a crédito com juros baixos, o maior investimento desde 1993.

O terceiro eixo é o mercado. Produzir não basta se não houver para quem vender. Por isso, fortalecemos o Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social - PPAIS, ampliando as compras públicas de alimentos diretamente da agricultura familiar. Em 2025, foram quase R$55 milhões, o maior volume da história. Alimentos produzidos pela agricultura familiar chegam às escolas, universidades, hospitais e unidades prisionais. O recurso fica nos municípios, movimenta cooperativas e sustenta economias locais.

E tudo isso só acontece porque há assistência técnica pública. Valorizamos os profissionais da pesquisa, assistência técnica e defesa agropecuária com a modernização de carreiras, aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo Governador Tarcísio de Freitas. Neste mês de dezembro, durante o aniversário do Instituto Agronômica (IAC), chamamos 37 novos pesquisadores para nossos institutos, que entram no Estado de São Paulo com ampliação salarial de mais de 70%, fruto do nosso trabalho, garantindo a permanência e a produção científica para o agro paulista.

Ampliamos o acompanhamento dos produtores e aceleramos a formalização de agroindústrias artesanais. Com a mudança normativa, a Defesa Agropecuária que, até 2023, só havia legalizado 39 estabelecimentos certificados, chegou a 256 neste mês de dezembro. Cada selo representa um produtor que saiu da informalidade, passou a emitir nota fiscal e entrou no mercado.

Essas iniciativas formam um ciclo que se autoalimenta, o produtor recebe o título da terra, tem onde morar, acessa crédito, compra máquinas, produz mais, tem mercado garantido e formaliza sua produção. É assim que se reduz vulnerabilidades e dá dignidade ao interior. Não com discurso, mas com política pública.

Nosso agro tem força porque transforma e muda a vida das pessoas e nada tem mais força do que dar suporte para que uma família permaneça no campo com dignidade, segurança e um futuro próspero."

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