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IA e irrigação inteligente transformam a gestão da água no campo

Cada gota conta para irrigar com precisão e evitar desperdícios

Mundo Agro|Fabi GennariniOpens in new window

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Sensores, dados e satélites: o novo olhar sobre a água na agricultura Foto cedida: Kilimo

Com quase metade da água retirada no Brasil destinada à agricultura, o uso eficiente dos recursos hídricos no campo se tornou essencial para o equilíbrio das cidades.

É nessa interconexão que atua a Kilimo, empresa latino-americana que aplica inteligência artificial e sensores para medir, economizar e validar o uso da água na irrigação.


Em entrevista ao Mundo Agro, Camila Aguirre, gerente de Soluções Climáticas para Chile, Argentina e Brasil da Kilimo, comentou sobre os desafios da adoção tecnológica, o papel das empresas e o impacto direto dessas práticas na segurança hídrica urbana.

Camila Aguirre, gerente de Soluções Climáticas para Chile, Argentina e Brasil da Kilimo Foto cedida: Kilimo

Mundo Agro: Como o agricultor pode ser um agente estratégico na promoção da segurança hídrica urbana?


Camila Aguirre: No Brasil, cerca de 50,5% da água retirada é destinada à agricultura (principalmente à irrigação). Por isso, cada metro cúbico economizado na fazenda reduz a pressão sobre as fontes que também abastecem as cidades. O modelo da Kilimo conecta agricultores que aprimoram seu manejo de irrigação com empresas e cidades, para gerar “benefícios volumétricos de água”, economias mensuráveis e verificáveis, que contribuem diretamente para a segurança hídrica urbana.

Mundo Agro: Que tipo de resistência ainda existe entre os produtores rurais para adotar tecnologias de irrigação mais eficientes?


Camila Aguirre: Ainda persistem alguns fatores que podem retardar a adoção dessas tecnologias. Entre eles, a necessidade de investimentos iniciais e os custos operacionais. Em propriedades pequenas e médias, a baixa automação e a falta de acompanhamento técnico contínuo também podem dificultar a incorporação sustentável de novas práticas.

Mesmo com o avanço das ferramentas digitais, há desafios de infraestrutura e capacitação que exigem atenção coordenada. Essas barreiras podem ser superadas com projetos-piloto em etapas e quick wins (economias mensuráveis já na primeira safra), financiamento sob medida, assistência técnica contínua — como oferecemos na Kilimo por meio de nossos assessores agronômicos —, capacitações em campo com a Academia de Irrigação, além de ferramentas interoperáveis e de baixo custo.


Mundo Agro: Quais são os principais desafios para implementar soluções como as da Kilimo em outras bacias hidrográficas do Brasil?

Camila Aguirre: Cada bacia é diferente: solos, cultivos, regras de uso da água e capacidades técnicas variam muito. Por isso, as soluções precisam ser calibradas localmente. Nossa resposta é pragmática: realizamos pilotos em etapas com quick wins, associamos o financiamento aos resultados, oferecemos assistência técnica contínua e aplicamos tecnologia de baixa fricção (IA + sensores). Com esse enfoque, as economias mensuráveis geram confiança e permitem expandir o modelo para novas bacias do Brasil.

Mundo Agro: Como se pode medir o impacto real dessas soluções no abastecimento de água das cidades?

Camila Aguirre: Na Kilimo utilizamos o Guia Volumetric Water Benefit Accounting (VWBA 2.0), que permite quantificar em metros cúbicos os volumes economizados ou recarregados, e reportá-los com rastreabilidade por atividade e por bacia. É a metodologia de referência do WRI e seus parceiros, desenhada para comunicar benefícios volumétricos de forma comparável e verificável. Além disso, compartilhamos relatórios validados com nossos clientes, como Microsoft, Google, Coca-Cola e AWS, integrando dados de campo e modelos para demonstrar o benefício hídrico gerado para as cidades.

Mundo Agro: Qual é o papel das grandes empresas nesse ecossistema de corresponsabilidade pela água?

Camila Aguirre: As empresas são o motor essencial dos projetos de restauração de bacias hidrográficas. Com seu comprometimento, financiam projetos que geram benefícios volumétricos verificáveis em bacias sob estresse hídrico. Nosso papel é ser o elo operacional: conectamos essas empresas aos produtores, implementamos gestão de irrigação com dados e inteligência artificial, e padronizamos a medição das economias para garantir rastreabilidade a nível de bacia.

Mundo Agro: Que tipo de tecnologia a empresa desenvolve ou adota para promover o uso eficiente da água na agricultura?

Camila Aguirre: Oferecemos algumas soluções, como um software de gestão de irrigação com IA, que integra clima, umidade do solo e imagens de satélite para gerar recomendações e medir economias. Conversão de sistemas de irrigação e planos eficientes por cultura/região, com validação dos benefícios. Oferecemos, ainda, serviços educativos, como a Academia de Irrigação, além de ações em Agricultura Regenerativa, voltada à restauração das bacias hidrográficas.

Mundo Agro: Como estão sendo aplicadas a inteligência artificial e os sensores na gestão hídrica agrícola?

Camila Aguirre: Na Kilimo utilizamos IA para estimar, diariamente e por talhão, a demanda real de água, combinando dados de clima, satélite, solo e manejo da cultura. Essas informações geram recomendações prescritivas — quando e quanto irrigar — e alertas operacionais que o produtor recebe em um painel simples ou via mensagem. Integramos sensores de umidade e telemetria para calibrar o modelo, medir o que foi aplicado, comparar com o recomendado e ajustar continuamente. Com essa mesma base, realizamos o MRV (medição, reporte e verificação) dos metros cúbicos economizados em nível de fazenda e de bacia. Tudo isso faz parte de uma intervenção integrada de bacia, na qual também participam empresas comprometidas com projetos de gestão responsável da água (water stewardship).

Mundo Agro: Quais resultados concretos foram observados após a implementação das tecnologias da Kilimo?

Camila Aguirre: A Kilimo registra reduções no uso de água que variam de 70%, em casos de irrigação tecnificada, a 20% com o monitoramento de irrigação. Isso representa dezenas de bilhões de metros cúbicos economizados em projetos auditáveis.

Mundo Agro: Existe alguma tecnologia em teste ou desenvolvimento que possa transformar o uso da água na agricultura?

Camila Aguirre: Sim. Existem linhas promissoras de P&D, desde novos sensores até modelos avançados de IA.

Mas, hoje, as quatro soluções que oferecemos são as mais eficientes e com melhor adoção em campo: Conversão para irrigação tecnificada; Monitoramento e recomendações com inteligência artificial; Agricultura regenerativa; Educação e acompanhamento técnico. Priorizamos o que já demonstra impacto mensurável, adoção rápida e potencial de escala no Brasil e na região.

Mundo Agro: O Brasil é um mercado promissor?

Camila Aguirre: Sim. O Brasil é o coração agrícola da América Latina: combina escala, diversidade de cultivos e um ecossistema dinâmico de produtores, cooperativas e grandes empresas comprometidas com a gestão responsável da água. Essa combinação cria uma oportunidade única para gerar impacto rápido, articular parcerias público-privadas e replicar modelos de sucesso em toda a região.

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