O avanço do seguro paramétrico no agro
Startup brasileira transforma a gestão de risco no agronegócio

Em um cenário em que eventos climáticos extremos se intensificam e o seguro agrícola passou a ser fundamental para o produtor, a GUARDA é a primeira plataforma 100% digital de seguros paramétricos do país.
Em entrevista à Mundo Agro, Paula Mendes Caldeira, cofundadora da empresa, explicou por que o Brasil ainda tem baixa adesão de seguro rural, como funciona o acionamento automático baseado em índices climáticos e de que forma a tecnologia pode transformar a gestão de risco no campo — especialmente para pequenos e médios produtores.

Mundo Agro: O que motivou a criação da GUARDA e como surgiu a ideia de oferecer seguros paramétricos para o agronegócio?
O agronegócio representa quase 25% do PIB brasileiro, mas é também o setor privado mais exposto ao risco climático, acumulando mais de R$ 300 bilhões em perdas desde 1995. Ao mesmo tempo, enquanto países líderes já têm 40% de penetração em seguro agrícola, o Brasil não chega a 10% da área segurada — e esse número vem caindo.
Faltava ao Brasil uma empresa capaz de atacar os dois gargalos estruturais:
A dependência da subvenção pública, hoje imprevisível, e o mismatch (discrepância) entre os produtos tradicionais e a realidade operacional do produtor em termos de design e distribuição.
A Guarda nasce para resolver esse problema com uma tese simples:
O produtor brasileiro só vai adotar seguro quando o produto pagar o que ele perde, tiver preço justo e quando a experiência de uso for tão boa quanto a de qualquer produto que ele goste.
Transformamos ciência de dados, satélites e automação em um produto que protege a resiliência de quem alimenta o mundo, sem burocracia, sem subjetividade e com total transparência.
Mundo Agro: Qual é o principal diferencial da GUARDA em relação aos produtos tradicionais de seguro agrícola?
O modelo tradicional herdou uma lógica analógica que já não funciona mais:
Ele cobre apenas 60% da produtividade média municipal, o que gera baixa efetividade — o produtor raramente é compensado no tamanho da perda real.
Mistura risco climático e risco de performance*, o que abre espaço para fraude e eleva o custo.
Exige obrigações contratuais, perícia subjetiva e processos lentos — uma experiência frustrante em momentos de perda.
A Guarda inverte essa lógica.
Somos o primeiro seguro 100% digital de clima do Brasil, sem risco de performance, graças a três pilares:
Eficiência
Automação total da subscrição, monitoramento e pagamento. Sem obrigações, sem vistoria, sem papelada.
Eficácia
O produtor escolhe o valor que quer proteger — seja o custo (ex.: 40 sc/ha) ou a produtividade alvo (ex.: 80 sc/ha). Cobrimos *exatamente a lacuna que importa.
Experiência
Na Guarda, o produtor é tratado como cliente, não como suspeito.
PIX 30 dias após o fim da cobertura. Portal transparente. Jornada simples.
E mais: emitimos para qualquer produtor, inclusive aqueles sem histórico, sem cultivar certificado ou com áreas novas, algo que o seguro tradicional não atende.
Mundo Agro: Como funciona, na prática, o acionamento automático do seguro por meio de índices climáticos?
Trabalhamos com quatro riscos climáticos:
Seca, chuva excessiva, calor extremo e frio/geada.
Para cada risco, o produtor escolhe:
- O gatilho — exemplo: número de dias de solo seco.
- A indenização por gatilho — valor em sacas/ha ou em reais.
- O limite máximo — quando chega ao 100% da indenização.
- A janela de cobertura — que pode focar no estágio mais sensível da cultura, como florescimento.
Após a contratação:
Monitoramos cada pixel de 100m x 100m da área contratada, diariamente, por satélite.
Calculamos o acumulado do índice (dias secos, chuva excessiva, etc.).
Se o índice ultrapassa o gatilho, o produtor já sabe quanto vai receber — sem perícia, sem subjetividade.
O pagamento é feito via PIX em até 30 dias*após o fim da cobertura.
É literalmente a forma mais simples, transparente e previsível de proteger a lavoura.
Mundo Agro: Quais tecnologias são usadas para monitoramento dos talhões e validação dos dados climáticos?
A Guarda combina a melhor ciência global em dados climáticos com um pipeline proprietário de validação, composto por:
Satélites de Observação da Terra
Radar (SAR), que enxerga mesmo em dias nublados ou chuvosos
Ópticos de alta resolução
Análise espectral para estimar umidade do solo e vigor da planta
Bancos Climáticos Oficiais
ERA5-Land (ECMWF)
CHIRPS (UCSB/USGS)
NOAA
Estações automáticas regionais
Inteligência Proprietária (Guarda Engine)
Correção de vieses locais
Fusão de sensores múltiplos
Ajuste por fisiologia da planta e tipo de solo
Algoritmos de consistência para eliminar ruído e falsos positivos
Digital Twin da Lavoura
Criamos uma simulação “gêmea digital” da lavoura para entender como ela deveria evoluir em condições normais e comparar com o clima real.
As seguradoras ganham auditabilidade total e o produtor ganha transparência e previsibilidade.
Mundo Agro: Por que o produtor rural ainda enfrenta tanta burocracia e lentidão nos seguros convencionais?
Porque o seguro tradicional foi criado para um mundo pré-satélites.
Quando a cobertura depende de produtividade, ela inclui risco de performance, que é:
- subjetivo por natureza,
- caro de precificar,
- difícil de verificar sem vistoria,
- sensível à fraude, e baseado em dezenas de obrigações contratuais.
Mesmo com tecnologias novas, as seguradoras ainda carregam estrutura legada — tentam digitalizar um produto que nasceu analógico.
A Guarda faz o contrário:
Nasceu digital, sem risco de performance, e presta serviço às seguradoras justamente para ajudá-las nessa transição, automatizando subscrição, monitoramento e sinistros.
Mundo Agro: De que maneira os eventos climáticos extremos estão mudando o cenário de risco no agro brasileiro? Que perdas vemos com mais frequência?
Os últimos cinco anos deixaram clara uma tendência:
Secas mais longas e irregulares, especialmente nas regiões de fronteira agrícola.
Chuvas concentradas, provocando encharcamento e erosão.
Onda de calor, afetando florescimento e enchimento de grãos.
Geadas fora de época, especialmente em café e cana.
O padrão tradicional baseado só em médias históricas não reflete mais a realidade.
Com nossos dados, observamos que os riscos que mais afetam produtividade, em ordem, são:
- Seca prolongada
- Calor extremo
- Chuva excessiva
- Frio ou geada (variando por região e cultura)
O clima está mudando, e o seguro precisa mudar também.
Mundo Agro: Como você vê a evolução da adoção dos seguros paramétricos no Brasil nos próximos anos?
A tendência é inequívoca:
paramétrico vai se tornar padrão para riscos climáticos nos próximos 5 anos, assim como já é em mercados maduros.
Por três motivos:
- É mais simples para o produtor.
- É mais eficiente para seguradoras e resseguradoras.
- A subvenção começou a incluir paramétrico, ampliando a competitividade.
O movimento já começou, e quem se posicionar agora vira referência.
Mundo Agro: Quais são os maiores entraves para que o seguro paramétrico se torne comum entre produtores?
Dois fatores centrais:
- Baixa previsibilidade da subvenção, que dificulta planejamento de longo prazo.
- Desconhecimento do produtor sobre como o paramétrico funciona — principalmente porque o mercado nasceu técnico demais e falhou na comunicação.
A Guarda resolve o segundo ponto com uma plataforma simples, linguagem clara e uma jornada digital que ensina o produtor enquanto contrata.
Mundo Agro: Como a plataforma da GUARDA garante transparência e confiança sem perícia de campo?
Justamente eliminando o elemento mais subjetivo do seguro tradicional.
Transparência total:
- O produtor acompanha em tempo real o índice acumulado da sua lavoura.
- Todos os dados usados no cálculo são públicos e auditáveis.
- Ele sabe antes mesmo de contratar qual é o gatilho e qual é o valor da indenização.
Confiança:
Não existe regulador dizendo “sim” ou “não”.
Não existe discussão de interpretação.
Não existe processo de meses para receber.
É clima → índice → pagamento. Ponto
Mundo Agro: Qual é o impacto da subvenção do MAPA (até 45% do prêmio) na expansão dos seguros paramétricos?
A subvenção é o elemento que permite que pequenos e médios produtores finalmente tenham acesso ao paramétrico.
Hoje, 45% de subvenção:
- reduz fortemente o custo de entrada,
- aumenta a adoção entre produtores de menor margem,
- estimula cooperativas e revendas a criarem programas de risco climático para seu portfólio,
- e atrai seguradoras a expandirem sua capacidade de underwriting.
É o motor que viabiliza escala
Mundo Agro: O produtor rural já tem conhecimento dessa subvenção ou ainda existe falta de informação?
Ainda existe muita desinformação.
A maioria dos produtores:
- não sabe que paramétrico é elegível,
- não entende o processo de solicitação,
- desconhece a janela de adesão,
- e acredita que subvenção é “sorteio”.
A Guarda investe em educação, transparência e canais rurais para resolver isso
Mundo Agro: O que poderia melhorar na política pública para incentivar ainda mais esse mercado?
Há três avanços simples e de alto impacto:
- Previsibilidade plurianual, permitindo que seguradoras planejem capacidade.
- Reserva de cota específica para paramétrico, promovendo inovação.
- Processo 100% digital, evitando gargalos e insegurança no acesso à subvenção.
Isso faria o Brasil saltar anos em resiliência climática.
Mundo Agro: A GUARDA pretende expandir seu portfólio para outras culturas, regiões ou riscos?
Sim. A Guarda nasceu como plataforma multisafra e multirrisco.
Temos planos de expandir:
- Riscos (vento, granizo, radiação, doenças favorecidas por clima)
- Culturas (trigo, algodão, café, cana, hortifruti)
- Regiões (Nordeste irrigado, Oeste da Bahia, MAPITO, Mercosul)
Nosso motor de dados já está preparado, basta calibrar índices e parcerias locais.
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