Pesquisador revela que inundações, secas e queimadas tendem a se tornar mais frequentes
Em ‘Planeta Hostil’, o geólogo Marco Moraes explica como o uso de combustíveis fósseis, as atividades de algumas indústrias, a pesca predatória e a criação indiscriminada de pastos destroem ecossistemas
O Mundo Agro bateu um papo com Marco Moraes, geólogo formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Ph.D. pela Universidade de Wyoming (EUA). Durante a maior parte de sua carreira profissional, trabalhou como pesquisador no Centro de Pesquisa da Petrobras (CENPES). Desde 2017, se dedica a estudar os problemas do planeta.
Mundo Agro - O que nós podemos fazer para contribuir e tentar amenizar de alguma maneira a situação?
Marco - Há um conjunto de ações diretas, tais como reduzir o consumo de plástico descartável, ser um consumidor mais consciente e utilizar energias renováveis em carros e residências
Mundo Agro - Você é um estudioso sobre a degradação do planeta. A culpa é de quem?
Marco - O estilo de vida atual da humanidade, leva a consumir 1,7 planetas por ano, ou seja, 70% a mais do que o planeta consegue regenerar, o que é absolutamente insustentável. Se queremos viver num planeta em que as pessoas tenham as condições mínimas para sobreviver com saúde, conforto e segurança, precisamos urgentemente mudar tudo isso.
Mundo Agro - Em seu livro você aborda o problema da ingestão de microplásticos. O que é isso?
Marco - Os microplásticos são partículas de plástico de tamanho menor que 5 milímetros e são encontrados na água, nos peixes e em toda a cadeia alimentar humana. Eles são um dos principais poluentes dos oceanos e prejudicam os ecossistemas, tanto marinhos como terrestres, e a saúde humana. Os microplásticos são produzidos pela desagregação das partículas maiores ou pela fabricação das micropartículas diretamente pela indústria para uso na área de cosméticos, por exemplo, produtos de limpeza e eletrônicos. Os microplásticos estão por toda parte, no ar, na água, nos solos e dentro de nós. Estima-se que os seres humanos absorvam, em média, mais de 70 mil dessas partículas a cada ano. É importante registrar que, como todos os plásticos, as partículas de microplásticos contêm aditivos químicos, muitos dos quais são prejudiciais à saúde.
Mundo Agro - O Sr aborda também sobre o desaparecimento de insetos no planeta. Quantas espécies de insetos desapareceram e a importância deles para nosso ecossistema?
Marco - Não sabemos quantas espécies de insetos há no planeta, mas sabemos que suas populações estão diminuindo drasticamente. Na Alemanha, por exemplo, a quantidade total de insetos capturados em mais de 60 locais em todo o país diminuiu 75% em pouco menos de 30 anos. No Reino Unido, 58% em menos de 10 anos. Na Dinamarca, 54%. E estes são apenas alguns exemplos. As estimativas globais são de que, enquanto a população humana duplicou nos últimos 40 anos, o número de insetos foi reduzido a quase a metade. Os insetos prestam serviços essenciais aos ecossistemas, incluindo decomposição da matéria orgânica, polinização e disseminação de sementes. Servem ainda de alimentação para outros animais e para o controle de pragas.
Mundo Agro - Por que queimadas, secas, inundações podem se tornar frequentes?
Marco - O aquecimento da atmosfera faz com que aumente a quantidade de água que ela pode conter. Para cada grau centígrado de aquecimento aumenta em 7% a quantidade de vapor d'água contido na atmosfera. Por isso as secas se prolongam. Por outro lado, quando ocorre precipitação, exatamente porque há mais vapor d'água na atmosfera, essa é mais intensa. O ar mais quente e a vegetação mais seca também favorecem a ocorrência e a rápida disseminação das queimadas.