Numa área de 10 mil metros quadrados em Holambra, interior de São Paulo, Jean Filipe Kortstee Ferreira, da Flora Beijo, decidiu plantar a espécie conhecida como maria-sem-vergonha, beijo ou beijinho. A inovação deste ano só foi possível com o auxílio da genética. As plantas, conhecidas como SunPatiens, foram desenvolvidas no Japão pela empresa de sementes Sakata e embelezam o mundo inteiro.A maria-sem-vergonha de Jean é bicolor e resistente à intensa exposição solar. Isso faz toda a diferença nos dias de hoje, especialmente no Brasil, com as frequentes ondas de calor.O Mundo Agro esteve em Holambra para acompanhar as novidades do setor e, hoje, finaliza a série de matérias especiais sobre o mercado. Mais uma vez, a companheira de estrada dessa jornada para desbravar o mundo do agronegócio foi a Titano Ranch, da Fiat. Em breve, traremos uma nova abordagem sobre o Diesel S10 nos novos motores de modelos que atendem a inúmeros produtores rurais.O jovem Jean Filipe Kortstee Ferreira é cativante. Com sua expertise, encanta ao apresentar as flores produzidas em sua fazenda e a sua vontade de expandir a produção para transformar lares, jardins e a economia do país.O Mundo Agro convida você a conhecer mais sobre a ousada sacada de negócio de Jean.Mundo Agro: Você é descendente de holandeses que vieram para o Brasil e já trabalhavam com flores. Conte-nos sua história.Jean Filipe Kortstee Ferreira: Meus avós são holandeses e meus pais já tinham sua produção de flores, mas eu não assumi o negócio deles. Decidi criar minha própria produção do zero. Nasci em Holambra e, quando era jovem, minha família se mudou para o Rio Grande do Sul. Quando voltamos para Holambra, após concluir o Ensino Médio, decidi começar minha produção em 2009, na propriedade do meu pai. No ano seguinte, em 2010, compramos a propriedade onde estamos hoje. Foi lá que começamos a construir o que temos atualmente. Mundo Agro: Por que a empresa se chama Flora Beijo?Jean Filipe Kortstee Ferreira: O nome vem do produto. Ele é conhecido popularmente como beijinho, maria-sem-vergonha ou beijo.Mundo Agro: O que as SunPatiens – a sua maria-sem-vergonha – têm de diferente?Jean Filipe Kortstee Ferreira: São variedades que são resistentes ao sol. Essa variedade veio do Japão e foi aprimorada pela Sakata, que é uma empresa especializada em genética de plantas. Começamos a testar a variedade em 2011, devido à Copa do Mundo. Havia uma demanda por variedades de flores com folhas verdes e amarelas. Vi que, para a Copa, deu certo, mas o que realmente me chamou a atenção foi a resistência ao sol pleno do Brasil. A partir de 2013, começamos a produção em escala.Mundo Agro: Então, essa maria-sem-vergonha não é qualquer uma, né?Jean Filipe Kortstee Ferreira: No começo, foi um trabalho muito difícil, porque visualmente o produto se parece com outras variedades. Mas, quando você coloca no jardim sob o sol, as outras queimam, enquanto essa resiste. Esse foi o grande diferencial. Porém, para convencer os clientes e mostrar essa diferença, tivemos que realizar diversas ações de divulgação. Essa planta é capaz de ficar em um jardim sob sol pleno durante 14 meses no Brasil, o que é impressionante.Mundo Agro: Ela é resistente ao sol e ao calor intenso. E qual é o cuidado necessário?Jean Filipe Kortstee Ferreira: Ela precisa de muita água. No verão quente, deve ser regada duas vezes ao dia. Quando já está enraizada, a recomendação é regar de manhã cedo e no final da tarde. Não há problema em regá-la durante o almoço. O mais importante é que ela não pode murchar, pois, se isso acontecer, parece que morreu. Mas basta regar e ela volta à vida.Mundo Agro: Você investiu muito tempo e dinheiro. Valeu a pena?Jean Filipe Kortstee Ferreira: Sim, com certeza. Desde o começo, percebi que havia algo de diferente nessa planta. No Brasil, o mercado de flores para jardins ensolarados praticamente não existia. Algumas flores resistem ao sol, mas só florescem uma vez por ano. Esta, por outro lado, permanece florida o ano inteiro. Vi um grande potencial para o mercado brasileiro e acreditei no produto. No começo, foi um trabalho difícil convencer os clientes.Mundo Agro: Como funciona a parceria com a Breeder Sakata?Jean Filipe Kortstee Ferreira: A Sakata fornece a genética, e temos um parceiro em Atibaia, chamado Bioplugs, que cuida da produção das mudas. Eles pegam as matrizeiras e nos enviam as mudas prontas, o que leva entre 8 a 10 semanas. Pagamos royalties para eles e cobrimos o custo da produção.Mundo Agro: Qual é o maior desafio deste mercado?Jean Filipe Kortstee Ferreira: Acho que o maior desafio do setor, não só para mim, mas para todos os segmentos, é a mão de obra. Está cada vez mais difícil encontrar trabalhadores qualificados. Por isso, estou investindo em automação para melhorar a qualidade do serviço. Hoje, tenho uma máquina que enche os vasos, o que elimina o trabalho manual. As flores já saem por uma esteira, onde as pessoas só plantam. Também investi em uma máquina para etiquetar os vasos e tenho esteiras para transportar as flores até os locais apropriados. Recentemente, comecei a utilizar um tratorzinho para facilitar o transporte dentro da propriedade. Acredito que a mão de obra será um grande desafio nos próximos anos.Mundo Agro: A questão climática afeta diretamente os produtores rurais. E para você, mesmo com uma flor resistente?Jean Filipe Kortstee Ferreira: O clima realmente afeta as plantas. Por isso, os produtores estão investindo cada vez mais em climatização, proteção das estufas e até migrando para áreas mais frescas. Essa é uma dificuldade crescente para muitos produtores.