Investigação sobre soldado israelense causa desconforto entre delegados da Polícia Federal
Reservadamente, delegados da PF dizem discordar de abertura de inquérito no Brasil
A Polícia Federal instaurou uma NCV (Notícia Crime em Investigação) para apurar crimes de guerra, supostamente cometidos por um soldado israelense que estava de férias na Bahia. A NVC foi aberta na sexta-feira, 3 de janeiro, mas a Justiça só enviou os documentos com a manifestação do MPF (Ministério Público Federal) depois da abertura da Notícia Crime NCV. Como a apuração está sob sigilo, não se sabe o motivo pelo qual a PF iniciou as diligências antes do recebimento dos documentos. A Notícia Crime em Investigação é a apuração que antecede uma abertura de inquérito policial, o que ainda não ocorreu.
O investigado é o israelense Yuval Vagdani, um soldado de Israel que estava de férias no Brasil. Yuval foi denunciado por uma Fundação belga que defende os direitos dos Palestinos no mundo, a Hind Rajab. No total, a fundação denunciou 1 mil homens da Israel Defense Forces (Forças de Defesa de Israel). O Governo de Israel diz que a ONG tem ligação com organizações terroristas.
Um relatório do ministério Israelense de Assuntos da Diáspora e Combate ao Antissemitismo afirma que a Fundação Hind Rajab “é liderada por proeminentes apoiadores do terrorismo”. Além disso, afirma que um dos criadores da organização, Diab Abu Jahja, passou treinamento militar no Líbano, onde atua o grupo terrorista Hezbollah.
A organização “Stand With Us Brazil”, que combate o extremismo e o antissemitismo no mundo, publicou uma nota em que afirma não ter havido mandado de prisão e que o soldado está agora na Argentina. Além disso, acusa a organização que apresentou a denúncia de não “ter nenhuma legitimidade para fazer as denúncias” e que “o próprio Ministério Público Federal afirmou que as provas apresentadas são insuficientes para estabelecer qualquer ligação entre o acusado e os crimes a ele imputados.
Desconforto dentro da PF
Fontes dentro da PF afirmam que a maioria dos agentes da unidade que ficou responsável pela investigação discorda da investigação. Reservadamente, dizem não haver motivos justificáveis para instauração de inquérito no Brasil, e que isso pode ser interpretado como o uso da instituição para afirmar uma posição política. Outra fonte afirma que a abertura da apuração inicial foi determinada pela Justiça e ela se justificaria pelo Estatuto de Roma, do qual o Brasil é signatário.
A determinação da Justiça federal para abertura de investigação ocorreu durante o plantão de 30 de dezembro de 2024. A embaixada de Israel no Brasil foi informada da abertura da apuração no sábado, dia 4 de janeiro. Representantes da embaixada comunicaram ao soldado sobre o processo. Yuval Vagdani foi embora do país, às pressas, no mesmo dia.
Questionados sobre o andamento da investigação sobre um soldado que não é brasileiro, não cometeu crime dentro do país e já não está mais em território brasileiro, não obtivemos resposta sobre o que a PF deve fazer agora, apenas que o caso segue sob segredo de Justiça.
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