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Antes inimigo, Irã se tornou força influente no Iraque

Após guerra sangrenta nos anos 80, presença iraniana cresceu no país vizinho, comprovada pela atuação do general Soleimani em território iraquiano

Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky

Soleimani era símbolo da presença do Irã no Iraque
Soleimani era símbolo da presença do Irã no Iraque Soleimani era símbolo da presença do Irã no Iraque

Aqueles que viviam a infância nos anos 80 têm em mente imagens duras da guerra entre Irã e Iraque. Cenas tremidas nas telas das TVs daquela época eram um indício de que, naquelas paradas do Oriente Médio, não haveria nunca solução. Prevaleceria, para sempre, a barbárie.

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A impressão estava mesmo em consonância com a realidade. Qualquer criança que, com 10 anos, soube do início dos combates, cresceu questionando seus sonhos de um mundo melhor, os confrontando com as imagens atrozes dos telejornais.

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Por uma disputa territorial, um longo banho de sangue. Testemunhado por essa criança até ela se tornar adulta e completar 18 anos. O conflito militar entre os dois países começou com a ambição do ditador Saddam Hussein em abocanhar uma região disputada às margens do Rio Shatt Al-Arab, na fronteira.

Hussein, de origem sunita, queria prevalecer sobre o xiita Irã, que acabara de passar pela Revolução Islâmica (1979) e, sob um novo regime, de cunho religioso, começava a se estruturar. A aposta era a de que não teria como reagir.

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O conflito, entre 1980 e 1988, deixou mais de 300 mil iraquianos e 400 mil iranianos mortos. Não houve vencedor. Entre as vítimas, estavam mais de 5 mil curdos que apoiaram os xiitas e foram assassinados em um cruel ataque com armas químicas, ordenado por Hussein.

Àquela altura, os americanos tinham o Irã como principal inimigo. Mas, quando as aspirações do megalomaníaco Hussein se estenderam para o petróleo, após invasão do Kuait, em 1990, os Estados Unidos passaram a considerar o governo iraquiano o vilão do momento. E se iniciou a Primeira Guerra do Golfo.

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Derrotado, Hussein foi repelido e o Iraque deixou o Kuait. Teve de acatar um embargo ocidental. Os curdos ganharam autonomia. Ele, no entanto, permaneceu no poder. Porém, após os atentados de 2001, nos Estados Unidos, orquestrados pela organização radical sunita, Al-Qaeda, as coisas pioraram para o ditador iraquiano.

Sob alegação americana de que o Iraque armazenava armas proibidas, posteriormente comprovada como falsa, o Iraque foi invadido. Hussein foi capturado e condenado à morte.

E a presença americana no Iraque acabou atraindo inimigos dos EUA para a região. Fez dela uma espécie de novo Líbano, em uma efervescente luta pelo poder e por regiões.

O terreno ficou fértil para grupos terroristas, como a Al-Qaeda no Iraque, depois transformada em Daesh, perpetrarem atentados contra grupos vistos como inimigos.

Nesta brecha, o Irã também foi ganhando terreno. E influência no Iraque. Por meio das forças Quds, comandadas pelo general Qasem Soleimani, o Irã passou a defender o Iraque do que chamava de invasão americana.

Ambos os países, Estados Unidos e Irã, voltaram às hostilidades iniciadas em 1979 e interrompidas pelas peripécias de Hussein. Com recursos financeiros, o Irã investiu em sua influência no Iraque, temendo se tornar novamente o principal inimigo dos americanos.

Os assassinatos de Soleimani e militares iraquianos evidenciaram essa relação entre Irã e Iraque, algo que parecia impossível para aquele menino nos anos 80. O caldeirão do Oriente Médio é mesmo enganoso.

Os conflitos se disseminaram para a Síria, com a participação do Daesh; para a Turquia, estendendo o drama dos curdos; para a Líbia, que mostrou sua fragmentação escondida nos tempos de Kaddafi.

E acirrou, como nunca se havia percebido, o conflito entre Irã e Arábia Saudita pela hegemonia local.

De positivo, se destaca uma aproximação de países sunitas com Israel, impulsionada por acordos comerciais, tecnológicos e integração de recursos energéticos. Além, é claro, do mútuo interesse em isolar o Irã.

Há décadas, uma união entre Irã e Iraque poderia ser vista como um passo decisivo para o entendimento regional. Atualmente, é apenas mais uma peça deste emaranhado. Os conflitos ganharam um novo formato. E a chave para a paz continua enterrada em algum canto daqueles imensos desertos.

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