Argentina volta a ficar à beira da bancarrota mesmo com Macri
País recorreu ao FMI para evitar "default" no pagamento da dívida externa, que Macri havia retomado, na tentativa de voltar a atrair investimentos
Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7
Quando um país pede emprestado ao FMI (Fundo Monetário Internacional), o faz na tentativa de evitar uma crise. Mas, só o fato dele ter procurado a instituição para empréstimo, já revela que a situação da economia se tornou insustentável. Na Argentina, isso novamente aconteceu.
O país passou por um mês de maio turbulento, com forte desvalorização do peso e taxa de juros superando os 40% e, mesmo com todas as políticas do presidente Mauricio Macri, no sentido de dar fôlego e robustez à economia, novamente teve de recorrer à entidade que, historicamente, testemunhou crises fortíssimas, alimentadas, inclusive, por seus empréstimos.
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É verdade que Macri, eleito em 2015, já está um passo à frente de outros governos só pelo fato de, mesmo com protestos, ele estar conseguindo se manter estável no cargo. Mas, tecnicamente, conforme afirma Denis Rappaport, mestre em Administração pela Duke University (EUA), este empréstimo, de 50 bilhões de dólares, quase 10% do PIB argentino, ocorreu porque o governo não tem mais crédito no mercado voluntário (investidores que voluntariamente aplicam dinheiro no país). E quando isso ocorre, diz ele, o governo recorre ao FMI.
O governo argentino fez isso para evitar um "default" no pagamento da dívida externa, que Macri havia retomado. Mas Rappaport alerta que, quando isso ocorre, equivale a um pedido de concordata de uma empresa. "É como uma empresa que pede recuperação judicial para evitar a falência." Dizendo isso, ele admite que a Argentina está novamente perto da bancarrota.
Quando Macri assumiu, ele sabia que uma série de reformas seriam necessárias para evitar a situação de insolvência da Argentina. E até vem fazendo algumas delas. Mas a Argentina é um país de características próprias: instituições ainda instáveis, com forte mistura entre o Judiciário e a política, além de ter uma população vigilante, combativa, disposta a se manifestar diante de qualquer ato do governo, visto como um retrocesso social.
Ao assumir o poder, mesmo com sua experiência como político e seu patrimônio empresarial, Macri preferiu a cautela. Afinal, era o primeiro presidente não-peronista a ser eleito desde a redemocratização, em um país em que o peronismo, apesar de viver uma crise, sempre foi predominante nos movimentos de massa.
E para gerenciar a reação da sociedade, ele optou por gradualizar essas reformas e manter a Argentina solvente através do endividamento externo, conforme ressalta Rappaport. Acontece que, como o economista diz, com o aumento dos juros americanos, houve um crescimento da aversão global ao risco e ele não conseguiu mais se financiar no mercado voluntário. O recurso foi voltar a recorrer ao FMI para acelerar os ajustes.
Neste período turbulento, o país se deparou com forte alta dos juros, aliada à depreciação cambial com forte impacto recessivo. Para Rappaport, apesar de Macri caminhar na direção correta de eliminar o déficit público, ele não teve tempo de implantar seu programa antes de estar em posição de necessitar do socorro do FMI. E a Argentina, agora, precisa seguir novamente uma cartilha imposta pela entidade.
"É como no caso de uma empresa que pede recuperação judicial. Ela, então, se compromete com uma série de reformas. O país que recorre ao FMI também se compromete com uma série de reformas para evitar o 'default'."
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