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Catalunha é comparada a São Paulo na formação da riqueza de um país

"Tudo depende da interação de várias regiões", diz especialista

Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky

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Cerca de 42% dos eleitores compareceram às urnas
Cerca de 42% dos eleitores compareceram às urnas

O desejo de ver a Catalunha separada da Espanha, demonstrado por parte da população catalã, tem que ser considerado. Mas, por outro lado, é injusto dizer que a formação de uma nação depende somente de suas regiões mais ricas, na opinião do economista Francisco Pessoa Faria, mestre em Economia pela Universidade de São Paulo. Ele compara a situação catalã com a do Estado de São Paulo que, no Brasil, é o Estado mais rico, sem no entanto, reivindicar sua separação do País.

— A situação até tem um paralelo com o Brasil. Quem gerou a mão de obra nesse processo de alavancada de industrialização de São Paulo foram os imigrantes. Depois, na década de 70, a zona rural e depois a zona rural do Nordeste. A formação da riqueza de um país é um processo de mão dupla, que depende da interação de regiões.


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O fato de hoje o PIB da Catalunha, com seus 7,5 milhões de habitantes, representar cerca de 19% do PIB espanhol, também pode ter relação, apesar de todas as diferenças históricas e culturais ao longo do tempo, com alguns momentos de investimentos no passado, segundo o especialista. 


— O governo espanhol também já apoiou a indústria da Catalunha, no século 18. Claro, não dá para mensurar o quanto hoje a situação catalã depende daquele momento, mas é errado imaginar que uma região só é prejudicada por estar dentro de uma região maior. Tanto é que uma mão de obra barata e eficiente depende de outros lugares do país, com pessoas vindas de várias partes.

Para ele, a tendência, em caso de separação, é a Catalunha ser a maior prejudicada, do ponto de vista econômico. Faria acredita que haveria a necessidade de um ajuste de moeda. E que, no processo de formação da infraestrutura do país, não seria fácil separar o que é dívida espanhola da catalã.


— A União Europeia não está disposta a reconhecer novos países e esse referendo é algo que vai contra o projeto do bloco. A Catalunha provavelmente perderia os benefícios do mercado comum, inclusive da própria Espanha, que poderia comprar produtos mais baratos em outros países.

A Catalunha, ao longo da história, enfrentou severas restrições, como no momento seguinte ao fim da Guerra de Sucessão Espanhola (após o Trtado de Paz de Ultrecht em 1713) e na época da ditadura do general Francisco Franco (1939-1975) na Espanha.


Atualmente, uma das maiores queixas dos separatistas é com relação ao desequilíbrio fiscal. Eles alegam que a região recebe uma parcela muito menor dos impostos que paga ao governo central.

Faria considera que, neste contexto, as reivindicações da Catalunha, mesmo com a participação de somente 42% dos eleitores, já chegaram a um limite que precisa ser considerado pelas autoridades espanholas. Caso contrário, a situação, segundo ele, só irá se agravar.

— Ter chegado a esse ponto é um sinal de alerta para o governo espanhol buscar o diálogo e tentar ver o que pode estar errado. É muito provável que, para além da questão cultural e histórica, exista um mal-estar que reflita uma questão concreta na Catalunha. Não dá para tapar os ouvidos para uma manifestação deste nível, será muito ruim para o futuro da Espanha.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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