Conflito entre Vasco e Flu deixa de lado tragédia no CT do Fla
Há menos de duas semanas, quando o incêndio matou 10 jovens, clubes se uniram em um discurso profundo de amizade, cooperação e respeito
Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7
Não me venham falar que as pessoas precisam se unir, que a solidariedade deve prevalecer, que há coisas mais importantes do que as rivalidades esportivas.
Não me falem em ações de cidadania, de respeito ao adversário, de generosidade com o outro. De apreço às famílias, aos torcedores, aos brasileiros em geral.
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Não me venham com essa conversa mole de humildade, de maturidade, de serenidade ao analisar a demanda alheia. De sensatez e de aprendizado com as derrotas. De exemplo para as crianças.
Nem me digam que o mundo não se resume à frustração pela perda de um jogo, em um Brasil tão carente de justiça social e de valores éticos.
Tudo isso foi falado há menos de duas semanas, quando o incêndio no CT do Flamengo matou 10 jovens. Flu e Vasco se uniram em um discurso profundo de amizade, cooperação e respeito.
O Flu aceitou o adiamento do jogo contra o Fla com o argumento de que a partida não era mais importante do que as vidas. O Vasco, em atitude linda, colocou um símbolo do rival em sua camisa, para homenagear as vítimas.
O vascaíno Paulinho da Viola bem diz que "Dinheiro na mão é vendaval." Assim como a vaidade, a mesquinharia, a picuinha, que impedem pessoas até de se lembrarem das palavras bonitas que proferiram em momentos de tragédia e drama humano.
E mergulham no esquecimento, em brigas por causa de ingressos para um setor do estádio. Cada um achando que tem razão. Estando os dois errados. E contrariando o discurso anterior, sobre aquilo que é realmente importante.
Onde estão aquelas palavras que tanto exaltaram a consciência humana? Foram levadas pelo vendaval, junto com o interesse financeiro e o orgulho infantil? O tricolor Chico Buarque responde: "Melhor seria ser filho da outra; outra realidade menos morta; tanta mentira, tanta força bruta."
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Então as palavras, que podem ser poesia, viram pó. Esvaem-se para além do horizonte carioca, transformando-se apenas em ilusão, enquanto o entardecer envolve o mar em uma cena paradoxal, que mostra a maravilha que é a vida.
Pelas frestas entre montahas, as palavras somem, expondo, sobre as pessoas nas ruas, nas arquibancadas, nas praias, no calçadão, que, também paradoxalmente, buscam a felicidade, as reais estruturas que acompanham a maior parte do ambiente futebolístico atual.
E junto com a bela paisagem, com a esperança dos homens, surge a face do Brasil repleta de hipocrisia. Feita de palavras que servem apenas para acomodar consciências. E que, sem se transformarem em ações, são levadas pelo vento, logo depois das tragédias, deixando solitários os poetas, os nostáligicos e a própria Cidade Maravilhosa.
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