Dia da Criança: A semelhança entre as crianças da cidade
O coração daquele menino da favela pulsa uma ânsia de vida, bate no ritmo frenético da criança, como o do meu filho
Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7
Ele deixa o barraco, sai da travessa da favela, atravessa a rua. Anda pela trilha da praça, entre o parquinho para cães e as árvores. A praça é bonita, seus contornos contrastam com o céu e com os prédios do bairro.
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De pele negra, o menino percorre seu caminho em direção à padaria, com passos convictos e apressados, como os do meu filho.
Seu coração pulsa uma ânsia de vida, bate no ritmo frenético da criança, como o do meu filho.
Vai pegar a sobra do pão para a família, no fim do dia, para saborear um sanduíche, do qual ele tanto gosta, como gosta o meu filho.
Tem olhos espertos, volumosos, a contemplarem os arredores com um misto de curiosidade e ar de desafio, como meu filho.
Gosta de jogar bola e sair driblando pela rua, pelas quadras, descalço ou com tênis gasto, tal como meu filho.
Veste camiseta e bermuda. Tem só esse tênis, mas, como o meu filho, prefere mesmo andar de chinelo enquanto empina pipa.
Brincar no parquinho ou no jardim, ele não aprecia muito. É coisa para menina, como diz meu filho.
Prefere guerra de água em frente ao barracão, nas manhãs ensolaradas de sábado, assim como, em algumas viagens, faz meu filho.
Uma senhora conseguiu para ele uma bicicleta. Ele não larga dela, em volta do parquinho. Às vezes esbarra no meu filho.
Olham-se com simpatia. E logo prosseguem em seus mundos alimentados por uma esperança.
Se pudesse, faria uma cabana no jardim com a família ou os amigos. Iria ao cinema para assistir Troll 2. Passaria tardes na piscina do prédio. Viajaria para um acampamento nas férias. Jogaria Fortnite.
Tudo isso faz meu filho.
Mas a vivacidade no olhar mostra que o menino está satisfeito em poder subir em árvores, colher frutas na horta improvisada, ir com a estadual ao zoológico e brincar com os cães que ficam latindo para ele, da cerca do parquinho.
Também sorri sempre que cumprimenta meu filho, interagindo o brilho do olhar que alimenta cada um dos dois.
Quando a noite avança, a alegria dele não é só pensar em um futuro de conquistas, como também faz meu filho.
Gosta mesmo é de, deitado na penumbra do quarto-sala, ouvir um sussurro amoroso, assim como acontece com meu filho.
Sussurro vindo de uma voz humana, à beira da cama. Quando as palavras se misturam ao calor da respiração. E dizem, bem lá do fundo, "durma bem, meu filho".
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