É injusto criticar Trump e poupar Obama em relação a ataques
Assassinato do general Soleimani e influentes militares iraquianos, em Bagdá, é apenas a continuidade de uma política adotada ao longo dos anos
Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7
Um professor meu do ginásio, no saudoso Colégio Bialik, costumava dizer que republicanos e democratas, no fundo, eram farinha do mesmo saco nos Estados Unidos. Mas ressaltava: em termos de política externa e segurança nacional. Nas questões internas, as diferenças são mais claras, dizia.
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Desde os tempos do presidente democrata Andrew Jackson (1829-1837) e a filosofia do chamado Direito Manifesto, questões relativas às fronteiras levavam os governos a ações similares, independentemente dos partidos.
O recente assassinato do general Qasem Soleimani e influentes militares iraquianos, em Bagdá, é apenas a continuidade de uma história, ou melhor, de uma política, adotada ao longo dos anos por uma estrutura militar muitas vezes independente do próprio presidente.
A ordem dada pelo presidente Donald Trump, com base em informes da Inteligência, portanto, poderia também ser vinda do seu antecessor Barack Obama.
Como veio para os pelo menos 26 mil bombardeios a sete países durante os dois governos do democrata. Criticar um e poupar o outro, neste sentido, é algo injusto e fora do contexto.
Na maioria das vezes, quando o assunto era lidar com o terrorismo, ambos os governos tomaram iniciativas semelhantes, principalmente, quando na visão militar, estava em jogo a segurança nacional. As questões políticas, neste sentido, ficam relegadas ao segundo plano.
Mesmo mantendo uma retórica menos inflamada em relação às potências europeias, os EUA nos tempos de Obama não titubeavam em ir atrás de seus alvos considerados iminentes perigos, como Soleimani passou a ser visto com mais intensidade nos últimos meses. Vários ataques contra alvos americanos foram atribuídos ao iraniano.
Da mesma maneira que Trump deu o aval para o ataque a Soleimani, Obama apoiou a ação que matou o terrorista Osama Bin Laden, em 2011, dez anos após o saudita ter orquestrado o 11 de setembro, no governo do republicano George W. Bush, em retaliação à política americana durante as gestões do democrata Bill Clinton.
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Da mesma maneira que o governo republicano se manteve na Guerra do Vietnã (1965-1975), cuja participação direta foi iniciada pelos democratas, até perceber os prejuízos que tal conflito estava causando ao próprio país.
E aceitar uma saída, após a queda do governo sul-vietnamita (apoiado pelos americanos), em função da tomada de Saigon.
Obama retirou tropas americanas do Iraque sem, no entanto, deixar de monitorar a região. O mesmo fez Trump em relação à Síria que, nos tempos de Obama, foi palco de diversos ataques que ajudaram a minar as forças do Daesh.
Ataques estes complementados com vigor pela adminstração Trump, com ambos seguindo semelhante linha de ação.
Na administração de Obama, deu-se início, com maior ênfase, o uso de drones, com o objetivo de minimizar as vítimas de ataques. No entanto, eles não deixaram de acontecer, mesmo com o acordo assinado com o Irã para o controle da produção de energia atômica.
Vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2009, Obama foi um presidente que permaneceu praticamente o tempo inteiro em situações de guerra, não por responsabilidade dele em muitos casos, mas pela mesma necessidade que tem mobilizado Trump a agir.
As ordens presidenciais, neste sentido, são consequência de um manancial de dados vindos dos setores de Inteligência, Defesa e Segurança do país, que formam praticamente uma estrutura independente.
Logicamente, um presidente pode seguir ou não algum tipo de orientação. Isso, em relação à diplomacia. Porque, na guerra contra o inimigo, fala mais alto a velha frase "América para os americanos".
Nos tempos atuais, acrescente-se "onde os americanos estiverem." É o famoso lema da Doutrina Monroe. Criado pelo Partido Democrata e endossado pelos Republicano. Neste sentido, tenho que concordar com o meu professor.
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