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Há 40 anos Sócrates fazia sua estreia pelo Corinthians

Craque entrou em campo contra o Santos, no Morumbi, e se tornou um símbolo de originalidade entre os jogadores de futebol em todos os tempos

Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7

Sócrates foi capitão da seleção
Sócrates foi capitão da seleção

Eu era menino. Durante um jogo na quadra coberta da escola, em 1978, disputava uma bola na frente da pequena área.

Driblei, mas, sem completar, vi meu amigo recuperar a bola e chutar para frente. Só que ela bateu na minha cintura.

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Sem outra solução, assim que ela pingou, dei de calcanhar, meio sem querer, e vi a bola entrar de mansinho.


O que mais me marcou foi a fala de meu amigo Denis, sempre antenado e à frente de seu tempo: "Parece o Sócrates!"

Pouca gente falava do Sócrates naquela época. Até então, o mais famoso era o filósofo grego. O outro, jogador, só era conhecido regionalmente, por suas atuações pelo Botafogo.


Era raro ver um jogador daquele jeito, alto, passando uma impressão de que via o mundo sob outro prisma. E era assim mesmo.

Aquele jeito diferente se destacava em campo. Ele era estranho em sua elegância esguia. E por isso passei a admirá-lo.


A maneira de comemorar, com um braço levantado para cima, além da suposta homenagem aos Panteras Negras, simbolizava um gesto um pouco zombeteiro e ao mesmo tempo afetuoso.

Ele queria mostrar que, apesar de adorar marcar gols, aquele era um momento que não necessitava de tamanha explosão, que dela emanasse um ar de superioridade.

Não era blasé, pelo contrário. O braço elevado era a simplicidade humana presente, para dizer que ninguém é melhor que ninguém, diante de tantas coisas mais importantes na vida do que apenas um jogo. Belo justamente por causa da competição saudável.

Daquele braço emanava uma indiferença diante de seus feitos, que o levaram a ser capitão da seleção.

Direcionando a mão para o céu, ele passava a mensagem de que havia algo maior do que a ambição mesquinha de muita gente.

Sócrates remava contra a maré do que era convencional. Não era um jogador típico, que passava, chutava e corria daquele jeito padrão. Mesmo se quisesse, não conseguia disfarçar suas fragilidades.

Tinha espírito coletivista e estilo individual, escancarava sua identidade original e instrospectiva. 

Vendo Sócrates resolver uma jogada com o calcanhar, por causa da sua estatura, eu me sentia autorizado a gostar de novelas, a ser fã de música romântica (considerada piegas por muitos jovens), a comprar o esquisito marzipã na loja de doces e a me orgulhar do Fusca verde que meu saudoso pai comprara com o suor de se trabalho. 

Tudo isso começou naquele 20 de agosto de 1978, há 40 anos, quando Sócrates estreou pelo Corinthians, contra o Santos, em um Morumbi com quase 120 mil pessoas.

Desde aquele 1 a 1, tenho vivido de dar passes de calcanhar.

É como um olhar para o passado, em busca de uma solução para uma jogada mais à frente. E às vezes dá tão certo, que a gente acaba até fazendo o gol.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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