Rivellino foi na Copa de 70 o que Rivaldo foi em 2002
Apesar de Pelé ser o maior de todos os tempos e, assim como Ronaldo em 2002, o nome de mais peso naquele time, foi Rivellino quem melhor atuou
Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7
A famosa frase "A César o que é de César", desde os tempos do Império Romano, se tornou um dito popular para defender que cada um deve receber o que é de seu direito, por sua atribuição ou mérito.
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Rivellino, neste sentido, deveria ter seu nome elevado para sempre entre os grandes, e não erodido, apesar de continuar muito respeitado, pela passagem do tempo. E bem no dia desta coluna, morreu o atacante Ronaldo Drummond, ex-Palmeiras, cujo gol na final do Paulista precipitou a saída de Rivellino do Corinthians.
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Antes da Copa de 70, que neste mês completa 50 anos, Rivellino não era titular na seleção. Só foi garantir a posição em amistoso mais de um mês antes contra a Áustria, no Maracanã, após pedido dos próprios jogadores e a visão de Zagallo, de que a habilidade e a criatividade daquele jovem meia eram imprescindíveis para o time.
Na própria Copa, Rivellino foi o que, anos depois, Rivaldo seria na Copa de 2002. O melhor jogador do time, mas não o maior nome do time. Logo na estreia, assumiu a responsabilidade e fez o primeiro gol do Brasil, contra a Tchecoslováquia.
No restante da Copa, além de marcar outros dois, em mais quatro partidas disputadas, foi o destaque individual, apesar da qualidade e bom desempenho dos outros craques brasileiros.
Ao lado de Carlos Alberto, Gérson, Jairzinho e Pelé, foi eleito para o "time de estrelas" daquela competição.
Não foi para menos. Ainda com 24 anos, ele apresentou ao mundo um repertório infindável de toques com a esquerda até se tornar campeão mundial. Maradona sempre disse que a classe de Rivellino foi sua inspiração na infância. E Maradona inspirou Messi.
De todos os jogadores da história, Rivellino foi o que mais soube adaptar técnicas do antigo futebol de salão, hoje futsal, para o futebol de campo.
O domínio de bola assimilado nas quadras deu a ele um amplo controle do jogo nos gramados.
E uma gama de passes, fintas e lançamentos raríssima para um canhoto. O jeito dele tocar na bola era único. Roçava a bola com a parte de dentro do pé, fazendo um passe simples em curva se tornar belo.
Era nítido o prazer que tinha em sentir a bola aos seus pés, conduzindo-a tranquilamente como um soberano no gramado e olhando para todos os lados a fim de encontrar o mais justo destino a ela.
Parecia amaciar a bola com o peito de pé, no momento do lançamento, colocando um efeito que a fazia se assemelhar a uma ave de rapina, caindo quase parada no peito ou no pé do companheiro. Dava a chamada "rosca", com os três dedos, com uma precisão única.
E o chute, fortíssimo, poderia ser visto apenas como voluntarioso se, antes dele ser desferido, a bola não fosse tratada com tanta suavidade. A "bomba", portanto, era apenas uma evolução gradativa, até a elegância atingir seu ápice.
Pois Rivellino, com seu temperamento de leão e uma sensibilidade de violinista, utilizou tudo isso naquela Copa.
E mais, fazia de seu controle de bola um recurso básico para dribles desconcertantes: os "elásticos", os que passava a perna em cima da bola antes de dar o bote para a esquerda, os drag backs (vai-e-vem) à la Puskas.
Numa jogada deste tipo, deixou Pelé na cara do gol contra a Tchecoslováquia. E, na final contra a Itália, esnobou com elásticos e drag backs, que deixaram os zagueiros tão irritados, que, sob o calor da partida na Cidade do México, apelaram para a violência.
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A função tática como um quarto homem de meio, muito bem exercida, foi apenas um complemento da sua performance técnica.
Pelé, como Ronaldo, na Copa de 2002, era o nome de maior impacto no time. Foi o vice-artilheiro da equipe.
E, logicamente, é e sempre será Pelé. O maior de todos. Mas que o papel de Rivellino, nome que, na minha infância, remetia a algo nobre do futebol, jamais seja esquecido ou relegado com o passar dos anos. Sejam eles 50, 100, um milênio. A Rivellino o que é de Rivellino. Para sempre.
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