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Sírio revela dor em Damasco: "Muito sangue vai correr no meu país"

No Brasil há três anos, ele afirma que guerra chegou à capital e diz que população local não quer falar para não ser punida pelo governo 

Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7

População síria está com receio de falar sobre guerra
População síria está com receio de falar sobre guerra

O sírio Talal Al-Tinawi, 45 anos, conseguiu fugir com a família para o Brasil, em 2013, após várias tentativas. Sua história é conhecida. E seu êxito também, com o restaurante árabe que abriu em São Paulo, no bairro nobre Jardim das Acácias, numa demonstração de organização e força de vontade.

Mas o alívio nunca deixa de ser acompanhado por um profundo sentimento de desgosto, por ter sido obrigado a abandonar seu país, onde prosperava como engenheiro, e por seu pai e seu irmão ainda permanecerem por lá.

Do jeito que está a situação, será muito difícil eles se verem novamente. Talal também já não fala com tranquilidade sobre o clima em Damasco, que até há alguns meses estava poupada dos bombardeios.

Agora, a partir de Ghouta Oriental, nas proximidades da cidade, a capital Síria também é alvo de bombardeios. Confusos bombardeios que, em meio à violência, deixam até mesmo sua população em dúvida. "Quem está vencendo, o governo ou os rebeldes?"


Dúvida atroz, como atroz é a guerra. Qualquer guerra. A lógica sem lógica desta manifestação humana, está se apresentando com toda a intensidade no país de Talal, como ele fala no depoimento a seguir. É a impressão cruel de que o fim chegará somente quando um dos lados deixar de existir:

"Já recebi pedido de entrevista com sírios conhecidos meus, que continuam na Síria, enfrentando a dureza daquela guerra.


Falei com vários deles e a resposta é sempre a mesma: 'a situação está difícil, não quero falar nada sobre a guerra, não dar nenhum depoimento. O governo de Bashar al-Assad está atrás daqueles que o criticam, é implacável. Prefiro me calar, pois caso contrário o risco é muito grande de eu ficar para sempre na prisão.'

Muitas pessoas em Damasco já começam a ficar mais preocupadas. Antes, a capital era o único lugar em que os bombardeios não chegavam. Era como um oásis dentro do caos.


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As pessoas podiam sair tranquilas às ruas, comprar nos mercados, os bares e restaurantes ainda se mantinham movimentados nesta cidade que sempre foi um centro cultural e de entretenimento.

Agora, porém, a situação mudou. Damasco começou a ser afetada pelos bombardeiros. Não se sabe ao certo de onde vem a bomba e quem as lançou.

Só se ouve os estampidos que cada vez mais têm feito parte da cidade tremer. Pelo impacto e pelo medo.

Meu pai e meu irmão moram ainda lá. Já não podem deixar a cidade. Sair seria muito arriscado. Eles não querem. Se acostumaram com a vida por lá, mesmo com a guerra. Estão conformados em permancer, torcendo, como nós, para que não sejam atingidos.

Essa guerra está ficando cada vez mais complicada. A população não tem poder de resolvê-la. E o pior, não se sabe qual o caminho para resolvê-la, diante de tantos interesses e de tanta violência.

Enquanto houver apego ao dinheiro, ao poder, à custa do sofrimento humano, essa guerra vai continuar. Minha tristeza, daqui de longe, é saber que muito sangue ainda vai correr no meu país."

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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