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Turquia, Rússia e Irã medem forças em conflito no Azerbaijão

Rixa da Turquia com armênios  vem desde os tempos em que o Império Otomano perdeu regiões, como a cidade de Kars, na guerra Russo-Turca

Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7

Manifestantes em Istambul com bandeiras turcas e azeris
Manifestantes em Istambul com bandeiras turcas e azeris

Sempre que há um conflito em alguma região, para se chegar à sua origem não basta se ater aos fatos do momento. Nesta espécie de "piscanlánise da História", rusgas sempre são movidas a rivalidades, traumas e mágoas passadas. Uma guerra portanto, geralmente não é uma guerra de uma geração. É uma guerra de gerações.

Veja também: Confronto entre Armênia e Azerbaijão deixa pelo menos 80 mortos em dois dias

Retrato típico disso é o que ocorre neste momento nos combates em Nagorno-Karabakh, enclave armênio no Azerbaijão que, desde 1994, declarou sua independência, ainda carente de formalização. A população de maioria armênia não aceita fazer parte do país. Combates entre separatistas e forças azeris, reiniciados em 27 de setembro último, já deixaram mais de 120 mortos.

Os combatentes pró-independência recebem o apoio da própria Armênia (país vizinho), da Rússia, historicamente aliada, e do Irã, interessado em medir forças com a Turquia, esta sim uma oponente radical dos armênios.


A rixa vem desde os tempos em que perdeu regiões, como a cidade de Kars, na guerra Russo-Turca de 1877-1878. Kars voltou à Turquia em 1921, em negociação com a União Soviética, que havia controlado a área.

Não é raro ver a Turquia viver um estado de delírio de grandeza, alimentado pelo governo de Recep Tayyip Erdogan. Há um ressentimento governamental em relação à queda do Império Otomano, na Segunda Guerra Mundial.


E assim, a cada crise econômica, os governos desviam para situações históricas, alimentando o nacionalismo e o militarismo. E buscando um inimigo comum, desde os tempos da queda do Império, quando os milhões de armênios que moravam nas regiões controladas pelos otomanos, foram perseguidos, em um episódio conhecido como "Genocídio Armênio", iniciado formalmente em 24 de abril de 1915 e reconhecido por 29 países.

A perseguição era feita de várias maneiras, desde execuções sumárias, até expulsão para locais sem recursos, provocando mortes por fome e doenças. Os armênios buscavam a independência, recusavam-se a servir o exército otomano eram vistos como aliados dos russos.


Cerca de 1,5 milhão de armênios foram mortos. A Turquia não reconhece o termo e afirma que as mortes foram causadas pela crise da fome e da miséria, aliada a uma guerra civil. De qualquer maneira, 1,5 milhão de armênios morreram. E havia, historicamente comprovada, uma perseguição a eles.

Mais de cem anos depois, a Turquia volta a se envolver em um conflito contra armênios. Tem apoiado o Azerbaijão. Desta vez, amparada em desejos mais contemporâneos de se aliar a esta república islâmica, como ela, no Cáucaso. 

E de poder ampliar o comércio, principalmente de armamentos, como o drone Bayraktar. Há informações de que, para os confrontos, foram enviados combatentes da guerra da Síria, mostrando que os conflitos do Oriente Médio têm total relação com os do Cáucaso.

O Irã, afinal, não quer ver a Turquia ganhar poder na região. E, aliado da Rússia também na Guerra da Síria, faz até a hostilidade a Israel ser motivo de competição com o governo turco.

Recentemente, para incômodo da Turquia, o Irã participou de exercícios militares no Cáucaso, ao lado da Rússia, Armênia, China, Mianmar e Paquistão.

A questão também envolve o receio de interrupção do transporte de gás natural para a Europa, já que a região da Armênia e do Azerbaijão, duas ex-repúblicas que se "davam bem" nos tempos soviéticos, é um corredor para países como a Alemanha, a França e a própria Turquia.

Nesta situação complexa, há pontos de união entre a própria Rússia e a Turquia. Relações comerciais entre Turquia e Israel. Bom relacionamento de Israel tanto com a Armênia quanto com o Azerbaijão. E permanente diálogo entre Israel e Rússia.

Mas a tensão entre Armênia e Turquia ainda se mantém. Alimentando outras tensões, como a da Turquia com o próprio Irã. E espalhando, para o Cáucaso e para o Oriente Médio, traumas do passado. Como o ressentimento pela perda de territórios e, mais do que tudo, saudades do poder de um império.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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