Atrair pesquisadores brasileiros e garantir diversidade: as prioridades do novo presidente do CNPq
Em entrevista exclusiva ao R7 Planalto, Olival Freire Júnior detalhou plano de ações para sua gestão
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Após ser anunciado como o novo presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), na última sexta-feira (5), o professor Olival Freire Júnior concedeu uma entrevista exclusiva para o R7 Planalto destacando as prioridades para a sua gestão. Entre elas, estão o desafio de manter os pesquisadores qualificados no Brasil e garantir a diversidade de quem faz ciência no país.
“O elemento mais importante é que ciência é algo de médio prazo. Não é uma coisa que você vai no mercado e compra. Formar pessoas leva tempo. O mestrado são dois anos, o doutorado quatro anos. Não existe projeto de pesquisa com tempo de duração menor que um ano. Então os nossos pesquisadores precisam ter a expectativa de continuidade, uma garantia de manutenção de bolsas, com financiamento assegurado e pagamento regular”, cita.
Físico e historiador da ciência, Olival ocupava a Diretoria Científica do CNPq e já vinha trabalhando em pautas que serão continuadas agora que chefia o Conselho. “Estamos buscando aprimorar alguns programas do CNPq, como o de bolsas produtividade, porque ser um pesquisador do CNPq já é uma espécie de selo de qualidade para o profissional, e também estamos trabalhando na padronização das seleções, para evitar preconceitos de gênero, de raça, de região, ou etimológico”, explica.
Por isso, o CNPq montou um código de conduta para os processos de avaliação. “Essa é uma mudança que está em andamento. E mais importante é que os mecanismos de avaliação, além de ter um componente quantitativo, precisam ter um componente qualitativo de como esse projeto vai fazer avançar a fronteira do conhecimento. Antes, era avaliada a revista que tinha a publicação do pesquisador. Mas muitas pesquisas disruptivas são publicadas em revistas menores, sem tanto destaque”, pondera.
Uma das ações para garantir isso é a criação de uma súmula curricular, que será preenchida pelo próprio pesquisador que deseja concorrer a uma bolsa. “Em mil palavras, o pesquisador vai dizer quais as principais realizações científicas da sua vida nos últimos anos, e o impacto que isso teve. Às vezes, uma pesquisa levou à reformulação de uma política pública, por exemplo”, declara.
Diáspora brasileira
Um dos movimentos que Olival quer fortalecer em sua gestão é a de atrair pesquisadores brasileiros de novo para o país e impedir que os novos cientistas deixem o Brasil. “Devido a diversas situações, nós perdemos muitos pesquisadores e desestimulamos os jovens talentosos a ficar no país. Por isso, tivemos o edital Conhecimento Brasil, para repatriação desses profissionais. Tivemos 2.500 brasileiros inscritos, e 600 estarão voltando para o país”, explicou.
Outro edital, com os mesmos valores ofertados para atrair esses pesquisadores, será lançado, desta vez para segurar esses pesquisadores antes deles deixarem o país, no chamado Programa de Apoio à Fixação de Jovens Doutores no Brasil, uma iniciativa conjunta do CNPq e das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs).
Segundo Olival, mil novas bolsas serão ofertadas, tentando vencer as assimetrias regionais, para seleções ao longo de 2026.
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Diversidade
O presidente do CNPq contou que teve uma conversa muito positiva com o presidente Lula, antes de ser anunciado. Na ocasião, o chefe do Palácio do Planalto demonstrou entender que uma fase do investimento em pesquisa deve ser feita pelo Estado.
“O presidente usou uma metáfora: no começo do treinamento de um atleta, o Estado precisa fornecer apoio, porque só depois deste atleta ganhar medalhas e conquistar campeonatos, que o setor privado vai começar a se interessar e arriscar nele. Na ciência é a mesma coisa”, contou.
Olival disse entender os anseios da população por resultados rápidos, mas citou que se hoje o Brasil tem essa potência agrícola, foi porque houve investimento na Embrapa. Assim como houve investimento na Petrobras ou no Instituto Tecnológico de Aeronáutica, que hoje são exemplos de formações e pesquisa no país.
Por fim, o presidente reforçou que durante sua gestão vai ampliar a diversidade dos pesquisadores. “Temos a plena convicação de uma ciência mais diversa, com mais PcDs (Pessoas com Deficiência), mais mulheres, mais negros, mais indígenas e quilombolas, é uma ciência de melhor qualidade. Isso não é só reparação histórica. No mundo estão percebendo que mais pessoas, com sensibilidade e perspectivas diversas, conseguem produzir ciência de melhor qualidade”, afirmou.
Como exemplo, Olival citou o Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência, que selecionou 90 mulheres negras, quilombolas, indígenas ou ciganas para receberem bolsas de estudo. O foco do CNPq, portanto, é manter a prática de seleções voltadas para os grupos minoritários.
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