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Briga no INSS: as denúncias e acusações para justificar atrasos que afetam 2,83 milhões de pessoas

Servidora de carreira é acusada de tentar ocupar a presidência da autarquia

R7 Planalto|Edis Henrique Peres, do R7, em BrasíliaOpens in new window

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O mal-estar entre a autarquia e o ministério é antigo, mas ganhou novas camadas de tensão a partir de novembro Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Alguns servidores do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) apontam um nome como a responsável pelo aumento da fila do órgão: Lea Bressy, diretora de Tecnologia da Informação (veja posicionamento dela abaixo).

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A servidora de carreira é acusada de tentar ocupar a presidência da autarquia, atualmente liderada por Gilberto Waller. Ela foi a presidente interina do órgão em novembro, quando Gilberto tirou férias, e seria um nome, supostamente, apoiado pelo ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz.


O mal-estar entre a autarquia e o ministério é antigo, mas ganhou novas camadas de tensão a partir de novembro. E vem escalando com os resultados que revelam o crescimento da fila de espera — em outubro a fila contava com 2,86 milhões de requerimentos aguardando análise.

Em entrevista exclusiva ao R7 Planalto, Lea rebateu as acusações. Ela disse não saber o que causou a ruptura entre o Ministério da Previdência e o INSS, mas defendeu uma solução rápida do problema em defesa dos aposentados e outros beneficiários.


Servidores ouvidos sob reserva pela Coluna, dizem que Lea teria permitido o crescimento da fila para prejudicar Gilberto e o derrubar do cargo. A diretora de tecnologia teria atuado em duas frentes: avisando tardiamente sobre o fim do orçamento para manter o programa de redução de filas e permitindo atrasos na entrega de um sistema da Dataprev.

Isso porque o sistema da Dataprev precisava passar por ajustes devido a mudança da legislação na oferta do BPC (Benefício de Prestação Continuada) — antes o BPC não incluía a renda de outros benefícios, e agora o sistema precisa receber dados do CadÚnico com essas informações.


Segundo levantamento do INSS, em julho, devido a essa mudança, 191 mil requerimentos precisavam ser analisados pelo Dataprev. Sem a entrega dos novos cálculos, contudo, o número aumentou para 660 mil em outubro.

Com isso, cerca de 1,94 milhões de requerimentos do INSS seriam de responsabilidade do Ministério da Previdência, pela questão de perícia médica, ou de responsabilidade do Dataprev.


Como diretora de tecnologia, segundo servidores antigos do INSS, seria responsabilidade da Lea cobrar a entrega rápida do sistema e garantir o funcionamento das ferramentas.

Em conversa com a reportagem, contudo, Lea disse que teve reuniões constantes com a equipe do Dataprev cobrando a entrega do sistema (veja posicionamento do Dataprev abaixo). Embora as reuniões não constem na agenda pública da servidora, a diretora informou uma lista de encontros realizados desde julho.

Em agosto, por exemplo, segundo os dados fornecidos por ela, Lea teria tido contato com a Dataprev até duas vezes por semana, em todas as semanas do mês. Em setembro foram outras duas reuniões e, em novembro, três.

Lea disse ainda que o sistema foi entregue na terça-feira (2/12). “Minha equipe homologou o sistema para liberar o funcionamento dele ontem (terça) à noite”, afirmou.

Sobre a sua atuação como Diretora de Tecnologia, Lea também reforçou a redução dos casos de instabilidades ou problemas no sistema do INSS. Segundo ela, esses incidentes caíram de 224, em julho, para 63, em novembro.

Orçamento para redução de filas

Os servidores ouvidos pelo R7 Planalto também afirmam que Lea permitiu que o orçamento para a redução das filas acabasse sem avisos prévios a Gilberto, pois estava sob encargo da sua diretoria.

“Esse orçamento fica sob responsabilidade de duas diretorias, não era só eu que tinha acesso a essa informação. E várias vezes a gente teve reuniões que tratamos do tema”, rebate a diretora.

Pesa sobre o Gilberto o fato do presidente da autarquia ter tirado férias na semana em que o orçamento acabou. Essa é uma das críticas de interlocutores ouvidos pela reportagem e próximos do ministro da Previdência, Wolney Queiroz.

No entanto, fontes ouvidas pela Coluna e próximas de Gilberto, negam a versão da do Ministério. Eles reforçam que Gilberto conseguiu levantar, mesmo estando de férias, R$ 63 milhões de recursos com a Casa Civil para permitir a continuidade da bonificação dos servidores e o programa de redução de filas.

O ponto de ruptura

Até novembro, Lea seria uma pessoa de confiança de Gilberto. O cenário mudou, contudo, quando a diretora assumiu como interina e fez nomeações de pessoas sob investigação. É o caso de Weslley Martins, nomeado coordenador de Gestão do Relacionamento com o Cidadão que assinou acordos com entidades de políticos e alguns investigados pela PF para conceder seguro-defeso a pescadores.

O processo começou a tramitar, segundo apuração da Coluna, no dia 5 de novembro, e no mesmo dia foi alterado o nível de acesso do processo para restrito pela própria diretora de tecnologia. Com isso, a nomeação de Weslley correu praticamente sob sigilo, sem o conhecimento de Gilberto.

Enquanto esteve como interina, Lea também deu andamento à nomeação de Yveline Barretto Leitão, aliada da diretora.

Questionada sobre isso, Lea disse que fez apenas o que estava dentro das suas atribuições.

“Houve a indicação da diretora Yveline como diretora, vindo do Ministério [da Previdência]. Eu só assinei os documentos que estavam em tramitação, para agilizar o processo e resolver as pendências. Em nenhum momento iniciei algo que já não estava em andamento. A Yveline, por exemplo, já estava como interina há quatro meses”, explicou.

“Machismo”

Gilberto chegou a pedir o afastamento da diretora para o ministro Wolney, alegando, por exemplo, a proximidade de Lea com Alessandro Stefanutto, preso em operação da PF em 13 de novembro.

Lea, contudo, questiona o argumento: “Se eu fosse um homem, será que haveria esse tipo de justificativa? A minha relação com o Stefanutto era estritamente profissional. Era próxima como sou de muitos colegas meus. Esse tipo de afirmação descredibiliza o meu trabalho”, apontou.

Para ela, o objetivo foi “macular sua imagem”. “Não entendo a motivação para [Gilberto] ter feito isso”, diz. Lea reforça que durante o tempo que esteve como interina, teve uma longa semana de trabalho, adiantando processos e inclusive visitando as cidades atingidas por um tornado no Paraná, como representante de Wolney. Ela acrescenta que fez apenas o que era de sua responsabilidade.

Interlocutores ligados a Gilberto, no entanto, negam qualquer relação de machismo voltado ao tema. Eles reforçam, por exemplo, que a maioria das diretorias da autarquia são ocupadas por mulheres e que o presidente mantém boa convivência com todas elas.

Pega de surpresa

Lea afirma, ainda, que foi pega de surpresa com a divulgação de seu nome na imprensa como um pivô do embate entre Previdência e INSS.

“Não vejo justificativa para isso. Sou servidora técnica. Estou esperando as coisas se resolverem. Mas a imagem do INSS tem que melhorar. O INSS é uma autarquia enorme que precisa atender a população”, disse.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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