Falhas em redes sociais expõem problema grave que atinge brasileiros
Impossibilidade de acessar aplicativos revelou dependência digital e falta de equilíbrio entre o on-line e o mundo real
Refletindo Sobre a Notícia por Ana Carolina Cury|Do R7 e Ana Carolina Cury
O relógio apontava meio-dia. "Chegou o momento do almoço", pensou Marcos. Durante o intervalo, enquanto come, ele costuma checar mensagens do Whatsapp, assistir stories no Instagram e rolar a tela do Facebook para ver as postagens mais recentes de outros usuários. Mas, naquela segunda-feira algo inesperado aconteceu: todas as redes sociais ficaram fora do ar.
Sem saber o que fazer, Marcos (nome fictício) se sentiu triste e apenas comeu. Ele até pensou em ligar para alguém, mas ficou desconcertado: "não faço uma ligação há muito tempo... Deixa pra lá", considerou. Então, ele teve a ideia de começar a ler aquele livro que ganhou há meses!
Muitas pessoas ficaram como Marcos na tarde de ontem: sem saber o que fazer após não poderem usar os aplicativos WhatsApp, Facebook e Instagram, atingidos por falhas nos servidores (ainda não explicadas oficialmente). Assim, ninguém conseguia enviar mensagens ou visualizar posts.
Dependência digital
Tal ausência veio comprovar o quanto estamos dependentes das redes, afinal, o viciado, muitas vezes, só percebe que tem um vício quando fica impossibilitado de acessar aquilo que causa a dependência.
"Com Whatsapp fora do ar, mãe reencontra filho dentro da própria casa, após meses sem vê-lo", dizia um dos muitos memes criados para representar essa situação. Apesar de engraçado, o problema é sério e real. A dependência da internet tem, de fato, levado muitas famílias a se afastarem.
Só para ter uma ideia, de acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), na pandemia, o brasileiro passou de 9h29 para 11h36 por dia conectado, isso equivale a 174 dias dedicados exclusivamente à vida online. O Brasil é o segundo no planeta que passa mais tempo na internet, atrás apenas das Filipinas.
Detox
Embora a internet seja uma ferramenta necessária para o trabalho e para a educação, facilitando a comunicação e agregando conhecimento, o excesso dela bem como o uso abusivo das redes sociais podem causar vários problemas, como a própria dependência e distúrbios na saúde física, mental e emocional (o excesso está relacionado ao aumento de casos de depressão e suicídio).
Essas falhas que deixaram as redes sociais fora do ar acontecem num momento em que a empresa de Mark Zuckerberg está sendo acusada de omitir um estudo interno de três anos que revelou o quanto o Instagram pode ser tóxico para usuários, sobretudo adolescentes.
O jornal norte-americano The Wall Street Journal responsável pela investigação também divulgou trechos dos relatórios. Um deles diz que "32% das garotas afirmam que, quando se sentem mal com o próprio corpo, o Instagram as faz se sentirem pior".
Outros estudos já haviam dito o mesmo, porém, esse chama atenção por ser da própria companhia e ainda contrastar com as alegações de Zuckerberg (que defende que essas redes sociais podem ter efeitos positivos para a saúde mental).
São muitos ex-funcionários dessas plataformas que alertam para os perigos das redes, como Tristan Harris, ex-funcionário do Google que alertou publicamente: "Se você puder sair das redes sociais, saia".
Mudança
Diante deste cenário, vale uma reflexão: como ficamos durante essas sete horas sem acesso as redes sociais? O que temos deixado de fazer para ficar olhando fotos, vídeos e postagens de outras pessoas?
A dependência nos leva a uma espécie de intoxicação digital, quando o tempo ocupado pela internet é tão grande que não sobra espaço para mais nada. Em alguns casos, fica-se observando e desejando a vida de influencers e famosos, em vez de viver a própria vida. Você tem a impressão de que está fazendo isso?
Se sim, que tal mudar essa realidade ainda hoje? Quem sabe o primeiro passo seja voltar a valorizar a convivência interpessoal, começar a ler aquele livro que está na estante, ligar para aquele familiar que você não conversa há muito tempo e deixar para usar a internet só em casos de necessidade, para trabalho, estudo e, eventualmente, lazer.
Apesar de serem hábitos considerados cringes pelas novas gerações o mundo real nunca sairá de moda.
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