Isentões e Terceira Via: a realidade das eleições em 2022
Movimento busca novo nome para o próximo pleito que não seja nem Lula nem Bolsonaro
Refletindo Sobre a Notícia por Ana Carolina Cury|Do R7 e Ana Carolina Cury
Você já deve ter ouvido, mas se não ouviu apresento-lhe a mais nova expressão que define aquele que afirma não ter um lado político: o isentão. Quem segue essa posição diz ser imparcial, sem qualquer tipo de preconceito e, politicamente falando, reforça que não está ao lado apenas da direita ou da esquerda, mas sim acima dessa disputa e com todas elas ao mesmo tempo.
Para alguns, o isentão é o equilíbrio necessário, o que conhecemos como "centro", para outros, é um ato de covardia que mostra uma falta de posicionamento. Fato é que com ele nasceu a chamada Terceira Via, um modelo que agrada esse tipo de eleitor e que, atualmente, tem esperança de ver surgir um novo nome além de Lula e Bolsonaro.
Nem Lula nem Bolsonaro. É isso que os "nem-nem" têm defendido: um caminho intermediário entre o neoliberalismo (direita) e o socialismo (esquerda).
A questão é que até agora não surgiu alguém que represente essa Terceira Via nas eleições presidenciais de 2022 e, ao que parece, a tendência é que o cenário de 2018 - em que tivemos Jair Bolsonaro e Fernando Haddad liderando as pesquisas - se repita, mas com Bolsonaro e Lula.
As estratégias de ambos os candidatos passam pela polarização e o eleitorado está muito dividido, sem deixar qualquer espaço para o "centro". Não há diálogo, se uma pessoa se posiciona contra o Lula logo é tachada de "bolsonarista" ou se ela posiciona contra o Bolsonaro é chamada de "lulista".
Meio-termo?
A teoria da Terceira Via chega a ser interessante, porém, a ideia da imparcialidade não passa de fake news. A verdade é que cada ser humano tem um ponto de vista, a partir das suas experiências individuais. Os psicólogos são enfáticos ao afirmar que somos persuadidos desde o nascimento até a nossa morte. Logo que nasce, o homem é tido como um ser social, que forma sua personalidade a partir de valores familiares e que, posteriormente, é influenciado pela sociedade e pela cultura do meio em que vive.
Sabemos que a imparcialidade é um desafio até mesmo para o jornalismo dos dias atuais. A matéria nua e crua, sem qualquer tom opinativo, só existe no "mundo da utopia", porque todo e qualquer texto, por mais que mostre os dois ou mais lados de uma situação, emite, mesmo que indiretamente, a visão de quem escreve ou dos entrevistados.
O problema disso tudo não é a ausência da isenção, mas sim fingir que ela existe em sua totalidade.
Eleições 2022
As manifestações pequenas do dia 12 de setembro mostraram que, provavelmente, essa linha política da Terceira Via terá pouco destaque em 2022 (a não ser que Lula ou Bolsonaro fique inelegível).
Assim, se ninguém ganhar visibilidade até lá, há uma enorme possibilidade de os eleitores isentões se dispersarem entre as diversas candidaturas no primeiro turno e desistirem de participar do pleito em um segundo turno polarizado.
Entendo que muitos dos que dizem ser isentos realmente têm esperança de a política funcionar melhor em um modelo diferente, mas, ao mesmo tempo, há tantos outros que escondem seus viéses ideológicos, fingindo ter neutralidade, para tirarem proveito da divisão atual.
Nunca foi tão necessário se posicionar. Todavia, é preciso deixar bem claro que posicionamento não significa radicalismo, podemos muito bem ter nossas convicções políticas sem humilhar, ofender ou silenciar o outro lado.
Não devemos nos tornar bajuladores, adoradores "cegos" de candidatos, afinal, a política do nosso país clama por inteligência, estudo e reflexão. Quem deseja um Brasil melhor não pode se anular quando o assunto é política e precisa saber escolher com sabedoria os próximos governantes.
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