Medo de Dória e tirania de autoridades: o atraso no combate à pandemia
Enquanto políticos brigam por poder e não prestam contas, população se divide e vírus segue minando vidas
Refletindo Sobre a Notícia por Ana Carolina Cury|Do R7 e Ana Carolina Cury
O governador do estado de São Paulo, João Dória, anunciou na tarde de segunda-feira que vai se mudar com sua família para o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do estado, no bairro Morumbi, zona sul da capital. O motivo seria medo pelos protestos que, segundo ele, acontecem em frente à sua casa.
Em comunicado à imprensa, Doria atribui a decisão à ação de extremistas que fazem ameaças constantes. "Tenho enfrentado os seguidores dessa seita com inquéritos policiais e ações judiciais, com medidas sanitárias e vacinas, instrumentos da lei e da razão. Diante do radicalismo, decidi me mudar para o Palácio dos Bandeirantes. Ao menos, temporariamente", declarou o governador.
No domingo, o deputado estadual Coronel Telhada criticou o governo Doria na gestão da pandemia e denunciou um excesso de policiamento em frente a mansão do governador.
O poder nas mãos erradas
Há uma frase atribuída a Robert G. Ingersoll, líder político estadunidense do século XIX, e também a Abraham Lincoln que diz: "Quer conhecer o caráter de uma pessoa? Dê a ela poder!"
E, infelizmente, nesta pandemia, temos encarado a realidade do mau-caratismo de muitas autoridades.
Em nome de uma ciência vestida de política, prefeitos e governadores de algumas - ou muitas - localidades brasileiras se tornaram verdadeiros ditadores.
Em nome de "salvar vidas" estão colocando o povo na situação de culpados.
Em nome de "proteger os cidadãos" impuseram o fechamento maciço do que eles não consideram essencial, além de toques de recolher.
Com medo e querendo, obviamente, que essa pandemia acabe, a maioria da população aceita tudo isso, quieta e com medo. Por que, afinal, em quem vamos confiar, senão nas autoridades escolhidas democraticamente para governar?
Só que, não sejamos ingênuos, se o problema da corrupção e do desvio de dinheiro público já aconteciam bem antes da pandemia, você realmente acredita que verbas extras e de alta quantia, que governadores e prefeitos recebem para instalar leitos de UTI e equipar os hospitais públicos, estão realmente sendo gastas de forma correta, honesta?
Vou citar apenas alguns exemplos que respondem bem essa questão. O Rio Grande do Sul, em 2020, recebeu R$3,05 bilhões em recursos extras pela União, usou R$ 826 milhões para a saúde e o restante foi usado para outra coisa, como o pagamento de salários atrasados de funcionários públicos. O estado, atualmente, está há mais de 27 dias operando com UTIs acima do limite. São 3.443 pacientes em 3.290 leitos disponíveis, conforme dados divulgados pela Secretaria Estadual da Saúde (SES).
Diversos governadores do Nordeste, com todo esse dinheiro recebido, não prestaram contas sobre nada, já que não é preciso, e se limitaram a afirmar que o valor foi gasto "com a pandemia".
Isso sem falar na conduta questionável de Dória que disse recentemente que a vacina ButanVac era o primeiro imunizante 100% nacional e integralmente produzido pelo Butantan. Porém, a informação verdadeira é que a ButanVac foi desenvolvida nos Estados Unidos, na Escola de Medicina Icahn do Instituto Mount Sinai.
Ou seja, mais uma atitude contestável entre muitas outras que ele vem tendo desde o início da pandemia. Quem decide raciocinar um pouco sobre a situação, já entendeu que suas ações são milimetricamente pensadas para serem usadas como trampolim para sua candidatura em 2022.
Polarização política
Diante desse cenário, é conveniente para algumas autoridades que as pessoas se dividam, briguem entre si e defendam seus "políticos de estimação".
Afinal, enquanto o lockdown durar elas podem prosseguir com essa disputa disfarçada de "luta em prol da vida", mas que, na verdade, nada mais é que a intenção de se aproveitar dos recursos disponíveis.
As pessoas discutem, os políticos fingem se preocupar com o povo, o comércio fecha as portas e o vírus, ah sim, o vírus, esse está fazendo a festa enquanto tudo isso acontece.
Ou nós, enquanto população, nos posicionamos de fato em favor do combate real da pandemia, ou continuaremos sendo massa de manobra de políticos que visam seus próprios interesses.
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