O que ainda não foi falado sobre a declaração de Anitta
Cantora revelou que foi vítima de estupro quando era adolescente. Além das consequências emocionais, abuso pode deixar sequelas graves na vida sexual
Refletindo Sobre a Notícia por Ana Carolina Cury|Do R7 e Ana Carolina Cury
A cantora Anitta contou em sua nova série documental que sofreu um estupro na adolescência. Ela citou alguns detalhes do ocorrido e disse que foi forçada.
“Eu sempre me coloquei numas relações meio abusivas e, quando eu tinha 14 pra 15 anos, eu conheci uma pessoa. Eu tinha medo dele. Ele era autoritário comigo, falava de forma autoritária.”
Anitta acrescentou que um dia sugeriu que os dois fossem para outro lugar a sós, em busca de tentar contornar a situação: “Fiz isso porque ele estava nervoso. Depois que sugeri, ele se acalmou e perguntou se eu tinha certeza. Eu falei que sim. Mas, hoje tenho plena certeza que falei porque estava morrendo de medo dele. Quando cheguei lá, eu vi que não era certo fazer aquilo por medo. E falei que não queria mais. Mas ele não ouviu. Ele não falou nada. Só seguiu fazendo o que ele queria fazer. Quando ele acabou, ele saiu, foi abrir uma cerveja e fiquei olhando pra cama cheia de sangue”, relatou.

A cantora comentou que tinha receio de falar publicamente sobre o tema, sobretudo porque ela exerce um trabalho sensual e normalmente dá declarações polêmicas sobre relacionamentos. “Eu sempre tive medo do que as pessoas iam falar: como ela pode ter sofrido isso e hoje ser tão sensual, ser tão aberta a fazer tanta coisa? Eu não sei...”
Entre muitos pontos que estão sendo abordados sobre o assunto, como a importância da denúncia, como se proteger etc, é essencial falar sobre outro ponto que é sobre como fica a vida emocional e sexual de quem sofre abuso.
A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil. De acordo com um estudo divulgado pelo Banco Mundial, existe maior probabilidade de uma mulher ser estuprada do que sofrer com algum tipo de câncer. Além disso, pelo menos uma em cada cinco mulheres já foi vítima de estupro e mais da metade delas conhecia o agressor. A violência é tão grande no mundo inteiro que milhões de mulheres e homens são vítimas todos os anos e muitos não conseguem superar o trauma.
Segundo o psicólogo Alexandre Bez, é muito comum relatos de vítimas sobre dificuldades com o sexo no casamento após vivenciarem uma experiência traumática no passado. Uma das reações mais comuns é ter nojo ou raiva do ato sexual. Qualquer coisa pode ser um gatilho para relembrar o estupro. “Além dos impactos físicos, as consequências de todo abuso, principalmente o sexual são as piores possíveis. O ato acaba prejudicando o trato emocional e psicológico, essas mulheres são submetidas a um trauma severo. O estresse agudo leva algumas vítimas a depressões, ansiedade, síndrome do pânico, despersonalização e até mesmo dissociação da consciência. Acabam sofrendo com dificuldade para dormir, evitam a vida social e perdem o prazer sexual.”
É possível vencer
Existem milhões de pessoas que foram vítimas de abuso sexual e mesmo que tenham sobrevivido, a exemplo da artista, carregam dentro de si uma série de traumas que fazem com que se sintam impotentes.
Por fora estão vivas, às vezes até "aparentemente felizes", mas, por dentro, estão com o emocional, psicológico e espiritual completamente destruídos. Sem direção, não sabem o que fazer para mudar essa situação.
Mas, apesar das marcas, é possível, sim, alcançar completamente a cura interior e superar esse trauma. Denunciar, falar sobre o assunto e buscar ajuda (orientação psicológica, espiritual e até assistência jurídica) são passos importantes.
Todo auxílio é necessário, porém é essencial a vítima não achar que está sozinha.
É preciso que ela se liberte do sentimento de culpa para curar as feridas da alma, resgatar a autoestima, o amor próprio e fazer desse trauma um exemplo de superação.