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O que fica quando grandes nomes partem? As lições de ‘Amigão’ e Faro

Reflexões sobre legado, jornalismo com propósito e o tempo que não volta

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Paulo Soares, o “Amigão”, marcou gerações com seu estilo leve, carisma e profissionalismo no jornalismo esportivo brasileiro Jogada 10

Durante a faculdade, sonhei, por algum tempo, em trabalhar com esporte. E, nesse caminho, algumas figuras se destacavam como referências — não eram muitas, confesso. Mas Paulo Soares, o “Amigão”, foi uma delas.

A notícia de sua morte, aos 63 anos, em São Paulo, chegou de forma inesperada. Somada à partida de José Salvador Faro, meu professor na época de faculdade, que também soube hoje, esse duplo adeus me levou a refletir sobre legados, chegadas e partidas — e sobre a força silenciosa que algumas pessoas deixam no mundo, mesmo depois que se vão.


Paulo Soares marcou gerações de telespectadores e colegas de profissão. Jornalista e narrador esportivo, começou cedo: aos 15 anos, já estava nos estúdios de rádio no interior paulista. Sua carreira passou por emissoras como SBT, RECORD, Cultura e Gazeta, mas foi na ESPN que ele se consagrou nacionalmente, ao lado de Antero Greco.

A dupla, com leveza e química única, transformou o jornalismo esportivo em uma conversa de bar transmitida ao vivo — sem perder a precisão e o profissionalismo.


O apelido “Amigão da Galera” surgiu em 1990, dado pelo repórter Osvaldo Pascoal, seu colega na Rádio Record — emissora em que também tive a felicidade de trabalhar — e encaixou como uma luva.

Paulo tinha essa capacidade rara de falar com milhões como se estivesse conversando com uma única pessoa: olho no olho, sorriso no rosto. Era querido por colegas, respeitado por atletas e técnicos, e amado por um público que via nele não apenas um jornalista, mas um companheiro de jornada esportiva.


Nos últimos anos, porém, sua vida profissional foi interrompida por um drama pessoal delicado. O jornalista enfrentou três cirurgias na coluna, duas delas com resultados insatisfatórios, e chegou a relatar publicamente erros médicos que agravaram seu estado de saúde. Desde 2022, estava focado em seu tratamento. Mesmo longe das câmeras, continuava recebendo mensagens de carinho de fãs e amigos, que torciam por sua recuperação. Sua morte encerra um ciclo importante do jornalismo esportivo brasileiro — e deixa um vazio nas telas.

Legados que não se apagam

José Salvador Faro, meu professor da época da universidade, sempre foi um homem inteligente, humano, dono de aulas que prendiam a atenção e traziam reflexões únicas. Sua lembrança ampliou ainda mais essa sensação de finitude. Faro não foi apenas um mestre de sala; foi daqueles docentes que marcam trajetórias. Era o tipo que fazia o jornalismo parecer maior do que um diploma: era missão. Lembro de sair das aulas com inquietações, ideias e uma vontade renovada de fazer algo relevante com as palavras.


Dois homens de perfis diferentes, mas com algo em comum: ambos construíram legados sólidos, não por vaidade, mas por coerência. Amigão, com seu estilo leve e próximo, levou informação e emoção a milhões de brasileiros, tornando o jornalismo esportivo mais humano e acessível.

Faro, com sua inteligência generosa, formou gerações de jornalistas, despertando em cada aluno a importância de pensar criticamente e comunicar com verdade. Eles chegaram, fizeram história, ensinaram, encantaram — e partiram. Mas o que permanece é maior do que a ausência: são os ecos, os exemplos, as histórias que seguimos contando.

Quando figuras assim partem, somos convidados a olhar para o tempo de outra forma. A pensar em como usamos nossos talentos, como tratamos as pessoas ao nosso redor e que marcas pretendemos deixar quando o nosso momento chegar.

Em um mundo acelerado, em que o jornalismo muitas vezes se perde em métricas e cliques. Lembrar de profissionais como Paulo Soares e José Salvador Faro é lembrar que, no fim das contas, o que realmente importa é o propósito que colocamos em cada linha, em cada aula, em cada transmissão.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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