Por que os brasileiros gostam de ter político de estimação?
Política muitas vezes se transforma em torcida organizada, e a idolatria a candidatos faz com que a cobrança por resultados desapareça

O noticiário é constantemente tomado por defensores de candidatos. Protestos, manifestações e até brigas em família escancaram uma realidade que se repete a cada ciclo eleitoral: no Brasil, a política raramente se limita a ideias ou programas de governo. Ela vira torcida organizada, ou não tão organizada assim.
Não importa se é de esquerda, de direita ou de centro: sempre há quem trate figuras públicas como se fossem heróis pessoais, intocáveis, acima de qualquer crítica. O fenômeno tem apelido popular — “político de estimação” — e traduz o hábito de transformar representantes eleitos em ídolos.
Assim, são as pessoas caricatas que acabam ganhando espaço. Afinal, o populismo — prática que simplifica problemas complexos e diz exatamente o que a população quer ouvir, em vez de propor soluções consistentes — atrai multidões.
Só que falar o que agrada é muito diferente de fazer o que o país realmente precisa. E é aí que mora o perigo. Enquanto muitos passam o tempo brigando para defender seu político de estimação, o Brasil continua sofrendo com a falta de planejamento e políticas públicas eficazes para enfrentar seus verdadeiros problemas.
E se fosse diferente? Será que teríamos os mesmos representantes se atuar como político não desse tantos privilégios?
Em vários países desenvolvidos, a política sequer é a principal fonte de renda dos eleitos e o mandato é visto como um serviço temporário à sociedade — não como um meio de vida.
Na Suécia, por exemplo, ser político não é visto como uma profissão para a vida toda. Os deputados recebem um salário justo, parecido com o de muitos trabalhadores comuns, e não têm privilégios como aqui. Nada de carros oficiais luxuosos ou equipes gigantes de assessores.
O mandato é entendido como um trabalho temporário em favor da população — depois, a pessoa volta para sua vida normal. Isso faz com que eles fiquem mais próximos da realidade de quem representam.
Quais são os privilégios de ser político no Brasil?
Aqui, a realidade é bem diferente. Além dos salários, parlamentares brasileiros recebem verbas extras para contratar dezenas de assessores, têm direito a carros oficiais, motorista, passagens aéreas, auxílio-moradia e cotas generosas para despesas de gabinete.
Muitos ainda acumulam aposentadorias especiais, mesmo com pouco tempo de mandato. É um pacote de benefícios que distância os representantes da realidade da maioria da população, criando uma elite política sustentada com dinheiro público.
Essa relação emocional com a política revela traços da cultura brasileira. Um povo caloroso, que valoriza vínculos afetivos e tende a enxergar líderes como “salvadores da pátria”. Só que, ao transformar políticos em figuras de idolatria, corremos o risco de inverter os papéis: em vez de eles nos servirem, nós é que acabamos servindo a eles.
E quando há idolatria, a cobrança desaparece. Erros são relativizados, promessas quebradas são justificadas, escândalos passam a ser ignorados. A democracia enfraquece porque os cidadãos deixam de exercer sua função de fiscalização.
No fim das contas, a pergunta que fica é: até quando vamos tratar a política como uma arquibancada, e não como um espaço de responsabilidade coletiva? Porque país nenhum avança quando seus cidadãos preferem ser torcedores a serem fiscais da democracia.
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